Assessor, filho e apoiadores de Bolsonaro operavam perfis banidos das redes, diz PF

Informação vem de relatório da Polícia Federal (PF) apontou que os perfis removidos do Facebook e do Instagram por incentivar atos antidemocráticos

Por Luísa Martins, Isadora Peron e Carolina Freitas, Valor — Brasília

Relatório da Polícia Federal (PF) apontou que os perfis removidos do Facebook e do Instagram por incentivar atos antidemocráticos foram operados por assessores diretos do presidente Jair Bolsonaro; por seu filho Eduardo Bolsonaro, deputado federal (PSL-SP); e por deputados estaduais bolsonaristas.

A PF se baseou em um documento elaborado pela Atlantic Council, empresa especializada em análises independentes sobre comportamentos inautênticos coordenados por meio das redes sociais. De acordo com a organização, os conteúdos se enquadram na tipologia “operações executadas por um governo para atingir seus próprios cidadãos”.

Segundo a PF apurou junto ao Facebook, “a rede consistia em vários grupos com atividade conectada que utilizavam uma combinação de contas duplicadas e contas falsas para evitar a aplicação das políticas (de uso), criar pessoas fictícias fingindo serem repórteres, publicar conteúdos e gerenciar páginas fingindo ser veículos de notícias”.

A Atlantic Council afirmou à corporação que os conteúdos publicados pelos integrantes dessa rede podem ter “interferido no resultado das eleições realizadas em 2018 no Brasil”. As contas eram operadas de Brasília, do Rio de Janeiro e de São Bernardo do Campo (SP), conforme o laboratório de pesquisa forense digital da organização.

A PF diz que as contas identificadas no relatório da Atlantic Council foram criadas ou gerenciadas, por exemplo, pelo assessor especial de Bolsonaro, Tércio Arnaud Tomaz; pelos deputados estaduais Alana Passos (PSL-RJ), Anderson Moraes (PSL-RJ) e Coronel Nishikawa (PSL-SP); e por seus assessores parlamentares.

A reportagem ainda tenta contato com os mencionados.

Acessadas do Planalto e casa de Bolsonaro

As contas derrubadas por incentivo foram acessadas de endereços ligados ao presidente Jair Bolsonaro, como o Palácio do Planalto, sede oficial do governo, e a casa da família na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.

Também foram identificados acessos provenientes da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Câmaras de Vereadores e até de uma unidade militar do Exército.

Segundo os materiais analisados pela PF, seis contas são vinculadas a Fernando Nascimento Pessoa, assessor parlamentar lotado no gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho mais velho do presidente da República.

“Preliminarmente, pode ser um indício de comportamento inautêntico coordenado, relacionando os grupos Brasília e Rio de Janeiro”, aponta a PF.

De acordo com a corporação, foram acessados de endereços ligados a Bolsonaro a conta “Bolsonaro News”, do Instagram, dedicada a atacar ex-aliados do presidente, e o perfil pessoal no Facebook do assessor especial da Presidência Tércio Arnaud Thomaz.

“Muitas dessas postagens foram publicadas durante o horário de trabalho, o que pode ser uma indicação de que Tércio Arnaud Thomas estava postando neste site, que não está oficialmente conectado à Presidência, durante o horário oficial do gabinete”, diz o relatório.

Segundo a PF, há duas hipóteses criminais passíveis de investigação: a primeira é a participação de agentes públicos próximos a Bolsonaro na distribuição de recursos federais ou na contratação de pessoas para incitar, pelas redes sociais, a subversão da ordem política e social. A segunda é a organização em si de um movimento orquestrado para difundir “ideias com potencial de causar instabilidade na ordem política e social”.

O relatório da PF foi enviado a Moraes em 18 de dezembro. O ministro pediu parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR) que, mesmo com os indícios apontados pela corporação, solicitou o arquivamento do caso. O relator ainda não decidiu sobre o pedido.

Conteúdo publicado no Valor PRO, serviço de tempo real do Valor

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