Ataques a Haddad buscam desgastar governo e tirar foco dos enroscos de Bolsonaro

Memes responsabilizando ministro por suposto aumento de taxas ignoram que impostos diminuíram no atual governo. Onda se fortalece justamente quando o clã Bolsonaro é alvo da Justiça.

Quando se vê acuada, a extrema direita usa, como uma de suas armas
favoritas, a disseminação de mentiras e desinformação em escala
industrial, via redes sociais. O alvo da vez é o ministro da Fazenda,
Fernando Haddad, que seria, no universo paralelo bolsonarista, o
responsável por um suposto aumento na carga tributária. Mas, o que os
dados indicam é que os impostos não apenas não aumentaram, como
ainda diminuíram no governo Lula.
O uso de recursos discursivos da sátira e da paródia é uma forma
legítima de criticar a política e a sociedade e faz parte da história da
comunicação.
No entanto, com a massificação das redes sociais e sua
instrumentalização especialmente pela extrema direita (com a anuência
ou o apoio dos donos das big techs), conteúdos com esse teor —
traduzidos em memes e vídeos, por exemplo — passaram a ser
utilizados como forma de distorcer fatos e espalhar mentiras em larga
escala, resultando, muitas vezes, na destruição de reputações, no
desrespeito aos direitos humanos e no fortalecimento de projetos
pessoais e de poder.
Com é sabido, os bolsonaristas têm se utilizado desse expediente para
estimular o ódio e a violência e manter os seus seguidores mais fanáticos
e obtusos permanentemente mobilizados. O objetivo final é  atacar e
enfraquecer adversários e as instituições — para assim esfarelar a
democracia —, desgastar o governo Lula para facilitar o retorno da
extrema direita ao poder e, claro, criar cortinas de fumaça quando o calo
deles aperta.
Não é de hoje que Jair Bolsonaro, sua família e seu entorno vêm sendo
investigados por desvios e crimes de toda ordem. Mais recentemente,
dois assuntos deixaram o grupo especialmente incomodado.
Um deles foi o indiciamento, pela Polícia Federal, do ex-presidente e de
outros elementos do seu séquito no inquérito das joias sauditas — que
expôs um esquema criado para a apropriação ilegal de bens do Estado
brasileiro em favor de Bolsonaro. O outro caso é a investigação da Abin
paralela, que desnudou o uso clandestino e ilegal da Agência Brasileira
de Inteligência, sob Bolsonaro, para espionar e perseguir desafetos e
beneficiar o clã.
Em meio a tudo isso, nada melhor do que lançar petardos para o outro
lado, a fim de desviar a atenção do povo para a sujeira que veio à tona,
com o benefício de, ainda, criar desgastes ao governo. E no Brasil, o

tema do pagamento de impostos é um dos que mais ressoam junto à
população de todos os estratos sociais.
Campanha distorsiva
Ao que parece, da junção desses interesses emergiu a atual “campanha”
contra o ministro que, embora possa ser bem-humorada e criativa na
construção de algumas peças — elementos fundamentais para garantir
sua disseminação orgânica — nada tem de inocente e investe na
distorção dos fatos.
Um efeito prático da campanha foi noticiado pelo colunista Lauro Jardim,
de O Globo, nesta quarta-feira (17). Segundo ele, de acordo com
levantamento feito pela consultoria Arquimedes, termos como “taxa”,
“imposto” e outros relacionados a esses assuntos tiveram, desde o início
do ano, com maior peso a partir de maio, nove milhões de menções no
Facebook, Instagram e X.
A reação do governo e do PT ainda é tímida. Mas, o tema está no radar
de ambos e memes de “contra-ataque” também já viralizaram, como o do
“Exterminador de Tributos”. E nesta terça-feira (16), por exemplo, o vice-
presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo
Alckmin, se contrapôs à campanha e salientou que os impostos não
aumentaram no atual governo.

“Em 2023, a carga tributária bruta foi 32,4% do PIB [Produto Interno
Bruto]. Ela era 33,7% até 2022. A carga tributária não só não aumentou
no governo do presidente Lula como caiu. Caiu para 32,4%. Então, não
teve aumento de carga tributária, até reduziu em 0,6%”, afirmou. Aliás,
segundo dados do governo, o percentual atingido no ano passado é o
menor desde 2020 — quando, diga-se, Bolsonaro era presidente.
Alckmin também reconheceu que a carga tributária nesse patamar é alta
para um país em desenvolvimento, mas considerou que o Brasil avançou
com a reforma tributária. “Tem um fato importantíssimo que é a reforma
tributária. Simplifica, substitui cinco impostos de consumo, IPI, PIS,
Cofins, ISS e ICMS, por um IVA dual. Desonera completamente
exportação, desonera completamente investimento. Agora, alguns
querem enganar. Não tem aumento nenhum, estamos é simplificando”.

Reportagem da Folha de S. Paulo desta terça-feira (16) também mostrou
o impacto da reforma tributária na redução das taxas, sobretudo para
quem ganha menos. “A versão atual da reforma reduz a carga sobre o
consumo de 50% da população — justamente as pessoas de menor
renda. Os 20% de maior renda passam a contribuir com uma parcela
maior dessa arrecadação”, diz. Essa redução pela metade já havia sido
apontada em cálculo feito pelo Banco Mundial.
Além disso, aponta, “para o restante, a situação não muda, considerando
a versão da reforma modelada pelo Congresso. A proposta original do
governo desonerava essa parcela da classe média, mas esse ganho foi
perdido com as exceções criadas pelo Legislativo”.
A versão aprovada, aliás, zerou o imposto sobre a carne, mas o efeito foi
a redução do cashback. Ainda assim, a devolução do imposto, que hoje
não existe, vai beneficiar a parcela mais vulnerável. Vale destacar ainda
que, de acordo com cálculos do governo, a alíquota de referência atual é
de 34,4% e com a reforma, deverá ficar em 27%.
Ao jornal, o secretário de Comunicação do partido, Jilmar Tatto, apostou
que passada a onda atual das redes, o que ficará de Haddad é o
aumento da faixa isenta do Imposto de Renda e o próprio cashback.
Mau humor dos endinheirados
Mas, pode ser também que a atual indisposição com Haddad reflita o
mau humor de alguns segmentos que antes, mal pagavam impostos (e
continuam pagando muito pouco em relação ao que ganham).
Afinal, o governo Lula criou a lei que muda o Imposto de Renda sobre
fundos de investimentos e sobre a renda obtida no exterior por meio
de offshores, de maneira que os donos dessas contas paguem 15% de
alíquota.
Outro ponto importante é que reforma tributária possibilitará a cobrança
de Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) de
aeronaves e embarcações de luxo, como iates e jatinhos, o que pode
render mais de R$ 10 bilhões por ano aos cofres público.
Cabe destacar, ainda, que o governo — Lula e Haddad à frente — têm
encampado a luta pela taxação dos super-ricos em 2%, o que pode levar
à arrecadação de até US$ 250 bilhões no mundo por ano.
Seja como for, nesta terça-feira, em reunião com o presidente Lula e
empresários no Palácio do Planalto, Haddad falou sobre a onda de fake
news. “Eu tenho certeza em dizer que nós temos que apressar a
chegada das boas novas à população de uma maneira geral. A boa

notícia está demorando a chegar, e, às vezes, as fake news chegam
muito rapidamente”, pontuou. E completou: “Nós vamos correr para
superar as fake news e mostrar para as pessoas o que já está acontecendo”.

Fonte: Vermelho

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