Bolsonaro leva o prêmio “Fóssil do Ano”

A premiação acusa o governo Bolsonaro de ter desmontado as políticas
ambientais que levaram às reduções de emissões do país, enquanto

criminaliza ambientalista.

por  Altamiro Borges

Publicado 16/12/2019 10:06 | Editado 16/12/2019 13:30

Ilustração: Ribis
A imagem do Brasil no exterior se deteriora rapidamente por inúmeros
motivos – desde o piriri verborrágico racista, machista e homofóbico de
Jair Bolsonaro até as mancadas da “diplomacia olavista” em vários
fóruns internacionais. Mas o que mais desgasta o país segue sendo a
política ambiental destrutiva e irresponsável imposta pelo “capetão” e seu
ministro das queimadas, Ricardo Salles. Nesta sexta-feira (13), o Brasil
recebeu o vexatório prêmio de “Fóssil do Ano” no final da conferência da
ONU sobre mudanças climáticas (COP-25), em Madri.

Segundo relato da Folha, “é a primeira vez que o país leva o prêmio em
referência às suas ações ao longo de todo o ano. A premiação acusa o
governo Bolsonaro de ter desmontado as políticas ambientais que
levaram às reduções de emissões do país, enquanto criminaliza
ambientalista. Também aponta o aumento nas taxas de desmatamento e
da invasão de terras indígenas”. A “honraria” foi concedida por uma rede
que representa mais de 1.000 ONGs ambientalistas no mundo, a CAN
(Rede de Ação Climática) e que já havia dado outros dois “prêmios” ao
país. “Com a marca inédita de três troféus, o Brasil sofre uma mudança
radical na sua imagem”.
Confira a íntegra do texto lido na entrega do prêmio “Fóssil do Ano” ao
Brasil:
*****
Que diferença um ano faz. Berço da Convenção do Clima da ONU e
amplamente elogiado por cortes impressionantes em suas emissões na
última década, o Brasil se tornou um pária climático.
Onze meses após o início do governo de Jair Bolsonaro, o país se juntou
aos Estados Unidos como uma das maiores ameaças ao Acordo de Paris
– e ao planeta.
Bolsonaro, autointitulado “Capitão Motosserra”, conseguiu desmontar as
políticas ambientais que ajudaram o Brasil a conseguir reduções
espetaculares de emissões entre 2005 e 2012.
Os resultados disso foram as maiores taxas de desmatamento na
Amazônia em uma década, um salto nas invasões de terras e o
assassinato de três lideranças indígenas apenas nesta semana. O
governo também está criminalizando ambientalistas – que Bolsonaro
notoriamente culpou pelos incêndios na floresta.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, um negacionista do clima,
chefiou a delegação brasileira na COP25, amordaçando diplomatas e
tentando chantagear países ricos a lhe dar dinheiro em troca do aumento
da destruição da Amazônia. Isso, é claro, não funcionou, então Salles
começou a criticar a própria NDC de seu país, chamando-a de “caridade
com chapéu alheio”.
O cenário de terra arrasada doméstico teve efeitos em Madri. O Brasil
apresentou alguns comportamentos bizarros, como o de bloquear a
menção a direitos humanos no artigo 6.4 e opor-se à menção a
“emergência climática” na decisão da COP. E alguns comportamentos
tradicionais, como insistir em regras frouxas de contabilidade no artigo
6.4 e inundar o mercado com créditos podres do Protocolo de Kyoto para

agradar a antigos lobbies que, ao contrário da sociedade civil, não
deixaram de receber crachás oficiais para vir a Madri.
Jair Bolsonaro é uma bomba de carbono ambulante que sem dúvida
merece esse grande reconhecimento, o Fóssil Colossal.
*****
Para confirmar a justeza da premiação, nesta semana o Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que o laranjal bolsonariano
tentou desqualificar, divulgou que o desmatamento na Amazônia cresceu
104% em novembro em relação ao mesmo mês de 2018. Até o início de
dezembro, 2019 já apresenta um aumento da destruição na região de
84% em relação ao mesmo período do ano passado. Os dados são do
Deter (sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real), que
auxilia as ações de combate à destruição da floresta.
Ainda segundo a Folha, “desde o fim do ano passado, o Deter já vinha
apontando um crescimento acentuado no desmatamento. Alertado sobre
os dados, o governo Jair Bolsonaro os questionou. O caso culminou na
demissão do então diretor do Inpe, Ricardo Galvão, em agosto. Mas a
tendência de alta de desmate apontada pelo Deter se confirmou…
Mesmo com as altas constantes, Ricardo Salles ainda não apresentou
planos para reverter a situação… Recentemente, após se reunir com
infratores ambientais – entre eles, o autor de uma ameaça de morte
contra um servidor do ICMBio –, o ministro suspendeu a fiscalização na
reserva Chico Mendes”.
Altamiro Borges é jornalista e presidente do Centro Barão de Itararé.
Fonte: Blog do autor

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