Caso Pazuello é “vergonhoso” para militares, diz ex-presidente do STM

O tenente-brigadeiro Sérgio Xavier Ferolla, ex-presidente do Superior Tribunal Militar (STM), repudia a ida do general Eduardo Pazuello à manifestação no domingo (23) em defesa do presidente Jair Bolsonaro. A infração, segundo Ferolla, é tão “vergonhosa” para os militares que “está enlutando” Duque de Caxias, patrono do Exército.

“Caxias está de luto porque a organização militar pura não aceita o que estão fazendo. Essa história de que vai botar militar na política não pode”, diz o ex-chefe do STM em entrevista ao Estadão. “Militar não deve entrar na política e a política não pode entrar no quartel – senão vira bando, acaba a hierarquia e a disciplina. O fundamento da instituição militar é a hierarquia e a disciplina.”

Para Ferolla, o caso é mais “grave” que infrações anteriores e obriga o comando do Exército a se pronunciar. “Foi tão escandaloso que provocou essa reação toda. Vai ter consequência. Não tem jeito”, afirma. Uma omissão sobre o caso vai pôr em xeque a disciplina nas Forças Armadas.

“O tenente, o sargento e o cabo tem sido punido dentro da lei – e são muitos. Não pode ser diferente com o general”, diz Ferolla, lembrando que Pazuello deve ter “mais responsabilidade por ser um “oficial antigo”, ocupando o posto de general. “Quanto mais hierarquia ele tiver, mais responsabilidade ele tem e mais grave a indisciplina”.

Embora seja um “caso disciplinar”, há implicações no gesto do ex-ministro da Saúde. Mais uma vez, a opinião pública questionará o envolvimento dos militares com a política: “Sempre fui crítico à tentativa de se envolver as Forças Armadas com o governo. Muito dos generais que hoje criticam o governo estiveram com o governo. Claro que eles fizeram bem em sair, mas é muito sério o que se passou”.

Na opinião de Ferolla, o comando do Exército “tem de tomar providência radical. Queira ou não queira, isso reflete na organização militar”. E o STM “não brinca em serviço – não vai passar a mão na cabeça de alguém que praticou um crime militar de jeito algum. São generais, almirantes, brigadeiros e civis que têm responsabilidade de analisar e julgar”.

Por André Cintra

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