Com Lula favorito, Bolsonaro deve partir para ‘tudo ou nada’, avalia cientista político

Com mandato impopular, atual presidente busca apoio com propostas prejudiciais à economia e pode deixar ‘bombas fiscais’ ao seu sucessor


O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) segue com seu favoritismo consolidado nas pesquisas eleitorais, mantendo significativa vantagem contra o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL). Diante disso, na avaliação do cientista político da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Wagner Romão, o atual líder da extrema-direita deve partir para o “tudo ou nada”, inclusive criando projetos que serão “bombas fiscais” para o próximo presidente eleito.


Um dos exemplos citados por Romão é a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos combustíveis, conhecida como PEC ‘Kamikaze’, que permite uma ampla redução de impostos sobre os combustíveis e pode ter um impacto de mais de R$ 100 bilhões por ano para os cofres da União. Para o cientista político, Bolsonaro começa a atirar em diversas direções em busca de apoio político.


“Isso começou com a conexão de Bolsonaro com o Legislativo, através do orçamento secreto, vem mantendo a base política do governo federal e também é uma busca pela manutenção do seu poder. A PEC da tributação dos combustíveis é outro ponto forte, que pode se voltar contra ele mesmo, sendo uma bomba fiscal para 2023”, alertou o especialista, em entrevista a Rodrigo Gomes, da Rádio Brasil Atual.


Na última sexta-feira (11), pesquisa Ipespe mostrou que, apesar de Lula perder um ponto, segue liderando com 43% das intenções de voto. Seu principal oponente, Jair Bolsonaro, subiu um ponto e atingiu 25%. O levantamento aponta possibilidade de vitória de Lula no primeiro turno, já que a distância entre a soma de todos os outros candidatos (46%) e a pontuação de Lula (43%) é menor do que a margem de erro, que é de 3,2 pontos percentuais.


“Diferente das eleições passadas, que teve Bolsonaro posicionado como apolítico, o eleitor está em busca de um nome que já conhece. Lula é visto como uma alternativa à gestão ruim de Bolsonaro. Enquanto isso, o Brasil não possui um terceiro nome que consiga contrapor o bolsonarismo. Então, o cenário de segundo turno entre os dois está quase consolidado”, avalia Romão.


Federação entre PT e PSB

A reunião, feita na última quinta-feira (10), entre PT, PSB, PCdoB e PV sobre a formação de uma federação partidária e eleições nacionais “foi muito positiva”, segundo o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP). Apesar do avanço, Marcio França, que o PSB quer lançar como candidato ao governo de São Paulo, e Fernando Haddad, nome do PT para o mesmo posto, são pivôs do principal impasse entre os principais partidos da possível federação.


Wagner Romão diz que as federações são uma novidade importante das eleições de 2022, pois permitem a criação de uma base política forte, principalmente para Lula vencer Bolsonaro. “A federação buscada pelo PT, por exemplo, mostra a ideia de dialogar para além de si próprio e ter uma base forte no Congresso. A federação é nacionalizada, portanto, é uma construção que obriga a união em eleições estaduais e municipais. E isso pode inviabilizar esse pacto”, disse.


O professor da Unicamp afirma ainda o impasse para o governo de São Paulo é “natural”, pois considera consistentes os dois nomes, porém, acredita que Haddad pode ter mais força pela necessidade mudança política no estado. “Haddad é um candidato muito forte e está bem nas pesquisas. Com Alckmin no vice de Lula, o petista ganha muita força para o governo estadual. Enquanto isso, França possui dificuldade de ter apoio da base progressista, porque formava governo com o PSDB poucos anos atrás”, avaliou.

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