Comunicado do Copom é tentativa de desmoralizar Lula

Juros altos travam investimentos, inviabilizam a retomada do crescimento

e asfixiam lentamente a economia

Os nove membros do Copom, responsáveis pela definição da taxa básica de
juros no Brasil
O Copom (Comitê de Política Monetária) passou dos limites nesta
quarta-feira (23), e o problema vai além da manutenção da taxa básica
de juros, a Selic, no patamar estratosférico de 13,75% ao ano. O
comunicado que o órgão do Banco Central divulgou após o anúncio do
índice é uma provocação inaceitável ao governo Lula – e até mesmo
uma tentativa de desmoralizar o presidente.
Não foi a primeira vez. Da reunião anterior, em janeiro, o Copom,
autoproclamando-se “vigilante”, acusou o governo, sutilmente, de
tumultuar o ambiente econômico. “O Comitê julga que a incerteza em
torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o
usual”, dizia o comunicado.
O texto prosseguia: “O Comitê reforça que irá perseverar até que se
consolide não apenas o processo de desinflação como também a
ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que têm mostrado
deterioração em prazos mais longos desde a última reunião”. Ainda
havia, no fim do comunicado, uma ameaça de juros mais altos: o Copom
agregava que, sem uma “desinflação” em curso, “não hesitará em
retomar o ciclo de ajuste”.
A nova reunião, 45 dias após a de janeiro, é a primeira que o Copom
realiza sob o fogo cruzado do governo, dos empresários e dos
movimentos sociais. Desde então, o ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, avançou na elaboração de um arcabouço fiscal que substitua
com ampla vantagem o teto de gasto, sem prejuízo às áreas sociais.
Vários anúncios oficiais do governo estão sendo adiados, em nome,
justamente, da tal responsabilidade fiscal. A reoneração parcial dos
combustíveis, à revelia da opinião da base social do governo, confirmou
a disposição do governo Lula em pôr o pé no freio.
Mas, para o Copom, nada disso ocorreu, e a “incerteza” prevalece. Por
preguiça ou descuido, a nota repete, ipsis litteris, o mesmo recado do
comunicado da reunião anterior: “O Comitê julga que a incerteza em
torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o
usual”, além de não hesitar “em retomar o ciclo de ajuste caso o
processo de desinflação não transcorra como esperado”.
Não é apenas Lula que esbraveja contra os juros altos e contra o
descaso do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Na
segunda-feira (20), ao participar de um seminário organizado BNDES, o
norte-americano Joseph Stiglitz, vencedor do Nobel de Economia de
2011, criticou a condução da política monetária pelo Copom.

“A taxa de juros de vocês é, de fato, chocante. Uma taxa de 13,75%, ou
8% real (descontada a inflação), é o tipo de taxa de juros que vai matar
qualquer economia”, analisou o economista. “É impressionante que o
Brasil tenha sobrevivido a isso, que seria uma pena de morte.”
No mesmo evento, Josué Gomes, presidente da todo-poderosa Fiesp
(Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Josué Gomes da
Silva, disse que falta ao Copom “uma boa explicação para as
pornográficas taxas de juros que praticamos no Brasil”. Para o líder
empresarial, não há premissa mais falsa do que a ideia de que o País
vive um “abismo fiscal”. Ainda menos num país com “73% do PIB de
dívida bruta” e reservas cambiais consideráveis.
Haddad, sempre moderado nas palavras, qualificou o comunicado do
Copom como “muito preocupante”, na medida em que parece ignorar
deliberadamente o esforço governamental. “Hoje divulgamos um relatório
bimestral mostrando que nossas projeções de janeiro estão se
confirmando sobre as contas públicas”, disse o ministro.
Juros altos travam investimentos, inviabilizam a retomada do crescimento
e asfixiam lentamente a economia. Ao “pagar para ver” e ainda voltar a
ameaçar taxas de juros ainda mais altas, o Copom fez um movimento
para reforçar sua independência e contra-atacar Lula. É como se
tratassem a opinião do presidente como um mero esperneio.
Mudar a composição do Banco Central e rever independência tão tóxica
se tornam medidas urgentes para o governo. De todos os opositores de
Lula, nenhum está mais ativo e forte hoje do que o Copom.

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