Inflação acima de 10% está em ‘nível muito elevado’ até para histórico do Brasil, diz diretor do BC.

Diretor de Política Monetária do BC participou de live promovida por instituição financeira. Segundo ele, inflação avançou principalmente em razão dos preços de alimentos, combustíveis e energia elétrica.

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, avaliou nesta sexta-feira (15) que a inflação acima de 10%, conforme o registrado em doze meses até setembro, está em um “nível muito elevado” até para o Brasil, acostumado com pressão sobre os preços.

A declaração foi dada em live com instituição financeira, evento que foi transmitido pela internet.

“Todo mundo tem falado da inflação no Brasil, dois dígitos em doze meses, nível muito elevado, inclusive para o nosso histórico, que é de inflação elevada. [A inflação] vinha comportada até a pandemia, acelerou muito nos últimos 12 meses, mais do que os pares [países emergentes]”, declarou.

De acordo com o diretor do Banco Central, quando se olha para o núcleo da inflação, que desconsidera o aumento nos preços dos alimentos e da energia elétrica, o Brasil está alinhado com o resto do mundo nos últimos seis meses. Além de energia e alimentos, ele avaliou que os combustíveis também têm pressionado os preços.

Para Bruno Serra, a inflação é uma “história basicamente global”, mas com pressões adicionais no Brasil. “Itens comercializáveis, alimentos e combustíveis, por isso estamos com inflação acima dos pares [emergentes]”, acrescentou. Ele observou que, nos últimos doze meses, o preço do petróleo subiu cerca de 100%.

Além disso, ele observou que os chamados riscos fiscais, ou seja, incertezas sobre o comportamento dos gastos públicos em 2022, ano eleitoral, têm influenciado o patamar do dólar – retroalimentando a inflação (veja detalhes mais abaixo nessa reportagem).

Juro básico

O principal instrumento do Banco Central para conter a propagação da alta de preços é a taxa básica de juros, que é definida com base no sistema de metas de inflação. Normalmente, quando a inflação está alta, o BC eleva a Selic, e a reduz quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas predeterminadas.

Para 2021, a meta central de inflação é de 3,75%. Pelo sistema vigente no país, será considerada cumprida se ficar entre 2,25% e 5,25%. Neste momento, o BC já está olhando para a meta de inflação de 2022 para definir os juros. No próximo ano, a meta central de inflação é de 3,50% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2% a 5%.

Na última reunião do Copom, em setembro, o BC subiu os juros básicos para 6,25% ao ano, trazendo a taxa Selic ao maior patamar desde julho de 2019 — ou seja, em pouco mais de dois anos. Na ocasião, o BC também indicou uma nova alta de um ponto percentual na Selic no fim deste mês, para 7,25% ao ano. O mercado financeiro espera novas altas até o fim do ano, com a taxa terminando em 2021 em 8,25% ao ano.

“Não há compromisso com qualquer ritmo de alta de juros, maior ou menor [na próxima reunião do Copom, em relação ao sinalizado – 7,25% ao ano]. O BC tem seus modelos. O que o BC enxergou na ultima reunião é que não era necessário aceleração do ritmo de alga de juros para entregar a meta em 2022 e 2023. Nesse ritmo [indicado, de um ponto percentual de alta em outubro], a gente vê um cenário em que entrega inflação na meta”, declarou Serra.

Taxa de câmbio

De acordo com o diretor do Banco Central, os chamados riscos fiscais, ou seja, incertezas sobre o comportamento dos gastos públicos em 2022, ano eleitoral, têm influenciado o patamar do dólar, que tem operado em patamar elevado nas últimas semanas. Nesta quinta-feira, a moeda norte-americana fechou em alta de 0,09%, cotado a R$ 5,5131.

“O fiscal [expectativa de gastos] tem influenciado o câmbio. Os dados correntes [sobre as contas públicas] têm vindo excepcionalmente bem, melhores do que o mercado esperava, seja um ano ou dois atrás, mas o desafio é muito grande”, declarou. Ele lembra que a dívida brasileira está em torno de 80% do PIB, acima da média dos emergentes (65% do PIB).

Segundo ele, porém, a expectativa de todos é que o câmbio vá reagindo ao ajuste das contas públicas. “Se o ‘framework’ [estrutura] de politica econômica ficar de pé, o câmbio vai perder força voltando a reagir ao diferencial de juros [taxa mais elevada no Brasil, atraindo recursos do exterior para aplicações financeiras]”, declarou Serra.

O diretor do BC disse, ainda, esperar que o Brasil tenha, para o ano de 2022, um “cenário mais líquido e ofertado de dólar do que vimos no último ano e meio”.

Ele observou que o fenômeno do chamado “overhedge”, um ajuste que os bancos têm de fazer por conta de mudanças legais, pressionando o dólar, termina no fim de 2021. Avaliou, ainda, que os exportadores devem trazer mais recursos de volta ao país no próximo ano, voltando a “irrigar o mercado”.

G1

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