Investigação da máfia das creches abala campanha do prefeito Ricardo Nunes

Polícia Federal mantem o candidato à reeleição como suspeito. Investigada dos desvios de recursos de creches acusa Nunes de receber verba.

A campanha de reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB) enfrenta uma
nova turbulência com as recentes alegações de envolvimento em um
esquema de desvio de verbas municipais, conhecido como “máfia das

creches”. Rosângela Crepaldi, uma das investigadas pela Polícia Federal
(PF) no caso, gravou um vídeo acusando Nunes de receber repasses de
verbas desviadas de unidades de ensino infantil de São Paulo quando
era vereador.
No vídeo divulgado pela reportagem da Folha de S. Paulo, Rosângela
afirma que o prefeito, que busca a reeleição, recebeu valores desviados
de creches administradas por Organizações Não Governamentais
(ONGs). Segundo ela, Nunes não prestou os serviços que justificariam
os repasses feitos por empresas envolvidas no esquema.
A apuração da Polícia Federal foi desmembrada em relação a Nunes
devido ao surgimento de fatos que demonstram seu suposto
envolvimento em esquema criminoso de desvio de verbas públicas.
Em outra suspeição revelada pela Agência Pública, em agosto do ano
passado, a Prefeitura decidiu indenizar em R$ 7,1 milhões a Sociedade
Beneficente Equilíbrio de Interlagos (Sobei), que administra 15 creches
terceirizadas na cidade. O acordo foi recebido com surpresa, porque a
prefeitura havia obtido decisão judicial dizendo que ela não tinha
obrigação de fazer nenhum pagamento.
A Prefeitura preferiu pagar a recomposição a imóveis locados por
empresas de Benjamin Ribeiro, um dos fundadores da Sobei e amigo
próximo de Nunes, ou de um de seus sócios, Sérgio Janikian. Nunes foi
conselheiro da Sobei entre 2015 e 2019 e já trabalhou como voluntário
na entidade. Janikian foi o maior doador individual da campanha de
Nunes para deputado federal em 2018, com R$ 20 mil.
Reação do candidato
As acusações surgem em um momento crítico da campanha eleitoral,
potencialmente abalando a imagem de Nunes entre os eleitores. Os
adversários políticos de Nunes já começaram a explorar o caso em suas
campanhas. Críticos argumentam que as alegações reforçam a
necessidade de maior transparência e fiscalização dos contratos
públicos. A defesa do prefeito busca descredibilizar as alegações,
questionando o timing da divulgação e a motivação de Rosângela.
A segunda rodada da pesquisa Genial/Quaest, entre 25 e 28 de julho,
para a eleição municipal da Prefeitura de São Paulo mostra um empate
técnico triplo em dois dos cinco cenários do primeiro turno, aumentando
a incerteza sobre a liderança. No cenário com todos os 11 pré-
candidatos, o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) lidera numericamente
com 20% das intenções de voto, seguido de perto pelo apresentador
José Luiz Datena (PSDB) e o deputado federal Guilherme Boulos
(PSOL), ambos com 19%.  Como a margem de erro da pesquisa é de

três pontos percentuais para mais ou para menos, os três estão
tecnicamente empatados.
Por meio de sua assessoria, Ricardo Nunes negou qualquer
irregularidade, afirmando que nunca foi acusado no inquérito relacionado
a Rosângela. Ele expressou perplexidade pela divulgação do vídeo a
apenas dois meses das eleições, e afirmou que sua defesa analisará as
declarações para responsabilizar Rosângela por denunciação caluniosa.
“Causa perplexidade que, a dois meses da eleição, seja divulgado um
vídeo com acusações graves e absolutamente infundadas”, afirmou a
assessoria.
De acordo com a investigação, ONGs que administram creches
municipais teriam recebido de volta parte do dinheiro contabilizado como
despesas com materiais. Esses valores eram repassados por meio de
cheques, depósitos e boletos, beneficiando pessoas ligadas à
administração das entidades. Em 2018, Nunes e sua empresa, Nikkey
Serviços S/S Ltda, receberam valores de uma firma suspeita de ser
fornecedora de notas fiscais fraudulentas.
Documentos da Justiça Federal revelam que Nunes recebeu dois
cheques de R$ 5.795,08 cada um, e a empresa Nikkey, empresa de
controle de pragas em nome da mulher de Nunes, Regina, e de uma filha
dele, Mayara, recebeu R$ 20 mil em repasses. Nunes alega que esses
valores foram pagamentos por serviços prestados pela sua empresa. No
entanto, no vídeo, Rosângela descarta a prestação de serviços por
Nunes, afirmando que o repasse foi feito sem contrapartida.
Outras implicações
A PF também investiga repasses milionários feitos pela Acria
(Associação Amiga da Criança e do Adolescente), entidade com laços
estreitos com Nunes. Rosângela detalhou em seu vídeo a atuação de
pessoas ligadas ao prefeito na administração desses repasses,
mencionando figuras como Valderci Malagosini Machado, ex-subprefeito,
e Elaine Targino, ex-funcionária de Nunes e atual dirigente da Acria.
A defesa de Rosângela alega que o vídeo foi produzido por questões de
segurança e não havia intenção de torná-lo público. Eles afirmam estar à
disposição das autoridades para fornecer esclarecimentos, mas não
comentaram sobre as acusações específicas contra Nunes.
Em nota, a assessoria de Nunes reforçou que a investigação da PF é
extensa e que não há acusações formais contra ele. A defesa do prefeito
está preparando uma resposta legal às alegações de Rosângela.

A situação coloca em foco as práticas de administração e transparência
na gestão pública, levantando questões sobre a integridade dos
candidatos às vésperas das eleições municipais. O desenrolar da
investigação e a resposta da justiça serão cruciais para determinar o
impacto dessas alegações na corrida eleitoral de Ricardo Nunes.

Fonte: Vermelho

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