Lideranças sociais alertam para mobilização contra agenda de anistia de Bolsonaro

Do parlamento aos movimentos estudantis, sindical e de moradia, todos concordam que é preciso estar alerta aos ataques à democracia impostos por Bolsonaro no ato da Avenida Paulista.

Lideranças sociais de todo o Brasil compartilharam seus comentários
ao Portal Vermelho sobre o que viram e ouviram ontem da Avenida
Paulista. Mais uma vez, o ex-presidente Jair Bolsonaro mobilizou sua
bolha de fanáticos para tecer desinformação e distorções de argumentos
para tentar se safar da condenação pública. Com isso, tentou passar
impressão de força, ao mesmo tempo que se incriminou ainda mais.
Mas lideranças como a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-SP), o
presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do
Brasil), Adilson Araújo, a presidenta da UNE, Manuella Mirella e o
presidente da Conam (Confederação Nacional de Associações de
Moradores), Getúlio Vargas Jr., convergiram em diversos pontos, ao
refletir uma preocupação compartilhada com o futuro da democracia no
Brasil e a importância de uma resposta firme e coordenada por parte da
sociedade civil e das instituições democráticas para enfrentar os desafios
atuais.
Avaliaram o contexto de crise institucional e democrática que Bolsonaro
tenta impor em sua manifestação. Tanto Jandira Feghali quanto Adilson
Araújo destacaram a gravidade das alegações de tentativa de golpe por
parte de Bolsonaro e suas consequências para o Estado Democrático de
Direito. Ambos ressaltaram a importância de resistir às investidas
autoritárias e de defender as instituições democráticas do país.
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Todos reconheceram a capacidade mobilizadora do discurso polarizador
do bolsonarismo. Jandira Feghali e Vargas Jr. mencionaram a
mobilização expressiva de apoiadores de Bolsonaro na Avenida Paulista,
destacando-a como uma tentativa do presidente de projetar uma imagem
de força e apoio popular. Ambos apontaram as estratégias políticas de
Bolsonaro, incluindo tentativas de diálogo com o Congresso Nacional e a
preparação para as eleições futuras.
Jandira Feghali e Manuella Mirella criticaram fortemente o teor do
discurso de Bolsonaro e sua defesa de medidas como a anistia para
invasores de instituições democráticas. Adilson Araújo ressaltou os
ataques de Bolsonaro às instituições democráticas e sua postura
contrária ao Estado de Direito, enfatizando a necessidade de rejeitar
essa narrativa.
O alerta e necessidade de resistência ao que foi visto ontem também foi
amplamente apontado. Todas essas lideranças sociais destacaram a
importância da vigilância democrática e da resistência às ameaças
autoritárias representadas pelo governo de Bolsonaro. Eles enfatizaram a
necessidade de mobilização e engajamento cívico para proteger os
valores democráticos e promover mudanças positivas na sociedade.
Erros de Bolsonaro

A deputada federal Jandira Feghali, do PCdoB-RJ, compartilhou com
seus seguidos das redes sociais suas impressões sobre o discurso do
ex-presidente Jair Bolsonaro na Avenida Paulista. Jandira destacou
diversos pontos que considera cruciais para compreender o contexto e
as intenções por trás do evento.
A deputada ressaltou que o discurso ocorre em meio a investigações
sobre sua suposta tentativa de golpe e a abolição do Estado Democrático
de Direito. Ela argumentou que há evidências substanciais dessas
alegações, incluindo vídeos de reuniões ministeriais onde Bolsonaro
conspira contra a democracia e as eleições.
Um aspecto mencionado por Jandira foi a mobilização expressiva de
apoiadores de Bolsonaro, muitos dos quais viajaram em ônibus de
diferentes estados para participar do ato na Avenida Paulista. A deputada
destacou que esse tipo de evento é uma tentativa de Bolsonaro de

projetar uma imagem de força, especialmente quando enfrenta situações
complicadas.
Além disso, Feghali criticou fortemente o teor do discurso de Bolsonaro e
suas tentativas de se apresentar como vítima iluminada pelo universo,
enquanto na verdade, segundo ela, o presidente teve uma trajetória
política controversa e sem grandes realizações em seus anos como
deputado federal. “
“Ele ficou 28 anos na Câmara dos Deputados, e falava para as paredes,
porque ninguém ouvia os discursos de Bolsonaro, de apoio à tortura, à
ditadura e a tudo que não prestava da história autoritária do Brasil. (…)
Foram 28 anos de um irrelevante deputado federal que não prestou
nenhum serviço à sociedade brasileira, sem projetos aprovados, sem ser
líder de nada, sem ser presidente de comissão, é um deputado
absolutamente irrelevante. Então ele faz um discurso medido,
absolutamente defensivo, recuado, mas com muitos erros políticos”,
observa ela.
A deputada apontou diversos erros políticos no discurso de Bolsonaro,
incluindo sua defesa da minuta do estado de sítio como constitucional,
seu pedido de anistia para os invasores do Congresso, do Supremo
Tribunal Federal e do Palácio do Planalto, e sua retórica contra o
Supremo Tribunal Federal que qualificou de “alguns” que o perseguem.
Jandira ainda apontou a ausência no discurso da eleição de outubro de
2022, “quando a soberania do voto popular escolheu a democracia e não
a política de Bolsonaro”.
“Ao pedir anistia, falando que eram pobres coitados aqueles que
invadiram o Congresso, o Supremo e o Planalto, na verdade eram seus
seguidores golpistas, estimulados por ele, com lideranças de militares e
outros que lá estavam articulados pelo seu grupo, incentivados e
planejadamente colocados para aquela invasão. Portanto, quando ele
pede anistia para golpistas, ele se identifica com esses golpistas e se
coloca do lado do golpe”, pondera ela.
Por fim, a parlamentar enfatizou que o discurso de Bolsonaro foi uma
afronta à democracia e uma tentativa de minar as investigações sobre
suas ações. Ela concluiu afirmando que o ato na Avenida Paulista revela
claramente o alinhamento de Bolsonaro com o autoritarismo e o
golpismo, com baixa representatividade política com a “lamentável”
presença do governador de São Paulo e do governador de Goiás, que,
“aliás, têm sido muito bem nutridos por uma política republicana do
Governo Lula”.
A análise da deputada Jandira Feghali ressalta a importância da
vigilância democrática diante das ameaças à ordem constitucional.

“Bolsonaro se mantém na mentira, se mantém dentro do campo golpista,
quando admite a minuta e defende a anistia para golpistas, continua
atacando o judiciário, mesmo sem fazer abertamente essa agressão.
Portanto, esse ato continua sendo uma afronta à democracia, porque
esse ato é contra a investigação do golpe”.
Lobo em pele de cordeiro

O presidente da CTB (Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do
Brasil), Adilson Araújo, emitiu uma análise contundente, destacando os
desafios enfrentados pelo campo democrático popular e a necessidade
de resistência diante das investidas neofascistas.
Araújo começou sua avaliação descrevendo Bolsonaro como um “lobo
em pele de cordeiro”, destacando suas tentativas de se apresentar como
um político democrático e patriota, enquanto na verdade é responsável
por inúmeras ações que minaram a democracia e negligenciaram o bem-
estar da população brasileira. Ele enfatizou a gravidade das ações de
Bolsonaro durante a pandemia, acusando-o de provocar um genocídio ao
não priorizar a vacinação e contribuir para a morte de mais de 700 mil
brasileiros. “Ele tenta falsear, mostrar-se como político democrático,
patriota, defensor da liberdade, só que, na verdade, o que nós sabemos
é que o Bolsonaro é uma persona non grata”, disse ele.

Além disso, Araújo ressaltou o papel de Bolsonaro na tentativa de golpe
e sua postura contrária ao Estado de Direito. Ele argumentou que o ato
na Avenida Paulista foi uma tentativa do presidente de negar suas
responsabilidades passadas e de se apresentar como vítima. No entanto,
Araújo afirmou que a sociedade brasileira deve rejeitar essa narrativa e
levantar a bandeira “sem anistia para golpistas”.
“Ele atentou contra a democracia durante todo o tempo e, diante de
todas as evidências até então divulgadas na grande mídia, ele presta
inúmeros depoimentos dando conta de que é o principal líder da tentativa
do golpe e que também proclamou um verdadeiro atentado ao Estado de
Direito”, afirmou.
Agora cabe à esquerda trabalhar a agenda das ruas. A quebra do
monopólio das ruas em maio de 2021 foi um passo importante para
retomada do campo democrático e popular. Agora temos a necessidade
de ocupar o espaço com a bandeira SEM ANISTIA PARA GOLPISTA,
entre tantas outras batalhas, sobretudo a da luta contra a ainda elevada
taxa dos juros. O roteiro “Bolsonaro” precisa de uma página final. Sem
sua sentença, o Estado de Direito corre sério risco.
Ao analisar a mobilização ocorrida no ato, Araújo reconheceu sua
magnitude, estimada em cerca de 200 mil pessoas, e destacou a
importância de não subestimar a força da manifestação. Ele alertou para
os perigos representados pela agenda neofascista, que, segundo ele, vai
contra qualquer perspectiva de melhoria da qualidade de vida do povo
brasileiro.
Araújo também ressaltou a importância de um projeto político que
valorize o trabalho e o trabalhador, em contraposição à agenda
ultraliberal defendida por Bolsonaro. “O Bolsonaro defende uma agenda
ultraliberal, muito respaldado pelo mercado, pelo rentismo, pelo capital
especulativo e o grande agronegócio”. Ele destacou iniciativas como o
Nova Indústria Brasil e o Novo PAC como exemplos de um projeto de
desenvolvimento que busca reduzir a desigualdade e promover o bem-
estar social.
“Bolsonaro é um liquidacionista, um negacionista, subalterno e submisso
às pressões do capital externo, sobretudo ao imperialismo norte-
americano. Então, eu penso que as lições do dia de ontem devem servir
para que a gente possa também começar a se situar na necessidade de
ganhar as ruas”, convocou.
Por fim, o presidente da CTB enfatizou a necessidade de mobilização e
resistência por parte do campo democrático popular, destacando a
importância de ganhar as ruas e defender o Estado de Direito. Ele
concluiu que a luta política deve ser centralizada na promoção de um

Brasil mais justo e igualitário, onde o trabalho e o trabalhador sejam
valorizados.
“Cabe à esquerda trabalhar a agenda das ruas. A quebra do monopólio
das ruas em maio de 2021 foi um passo importante para retomada do
campo democrático e popular. Agora temos a necessidade de ocupar o
espaço com a bandeira Sem Anistia Para Golpista, entre tantas outras
batalhas, sobretudo a da luta contra a ainda elevada taxa dos juros. O
roteiro “Bolsonaro” precisa de uma página final. Sem sua sentença, o
Estado de Direito corre sério risco”, concluiu o sindicalista.
Alerta para a democracia

Em entrevista ao Portal Vermelho, a presidenta da União Nacional dos
Estudantes (UNE), Manuella Mirella, compartilhou suas impressões
sobre o recente ato liderado pelo presidente Jair Bolsonaro. Mirella
destacou a emergência do momento e a necessidade de enfrentar a
organização persistente da extrema-direita e do bolsonarismo.
“A nossa impressão é que o ato que o Bolsonaro puxa, em um momento
de desespero, é porque a questão não é se ele vai ser preso, mas
quando vai ser preso”, afirma. “Mmostra que a extrema-direita e o
bolsonarismo seguem organizados, e que nós temos agora um grande
desafio, que é fazer essa guerra cultural, ideológica nas nossas bases,
porque os discursos que a gente viu na Avenida Paulista ontem, foram

discursos que o Bolsonaro cultivou durante os quatro anos de sua
gestão”.
Ao abordar o discurso e as dinâmicas do evento, a líder estudantil
expressou preocupação com a continuidade das narrativas polarizadas e
rasteiras cultivadas por Bolsonaro ao longo de seus quatro anos de
mandato. Ela enfatizou a importância de uma guerra cultural e ideológica
dentro das bases progressistas para combater essas ideias.
Um ponto relevante levantado por Mirella foi a constatação de que,
mesmo após um ano do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
e uma eleição acirrada, muitas pessoas não se arrependem de terem
votado em Bolsonaro. Isso demonstra, segundo ela, a persistência e a
resiliência do bolsonarismo, que continua mobilizado e articulado.
A presidenta da UNE ressaltou a preocupação com os ataques às
instituições democráticas presentes no discurso do ato, apesar de serem
pintados como defesa da democracia. Para Mirella, esses ataques
representam uma ameaça ao maior bem do país: a democracia
brasileira.
“Nós não subestimamos o bolsonarismo, muito menos o Bolsonaro, mas
pelas falas, tanto do Malafaia, quanto do Nicolas, ou do próprio
Bolsonaro, mais uma vez atacando as instituições democráticas, este é
um ato pintado de defesa da democracia, mas que nós vimos ali ataques
ao nosso bem maior que é a democracia brasileira”, resumiu.
Manuella Mirella alertou que o ato liderado por Bolsonaro não será capaz
de protegê-lo da prisão, destacando a necessidade de vigilância e
mobilização contínuas para preservar os valores democráticos do Brasil.
A análise da presidenta da UNE ecoa o sentimento de alerta e a
importância da resistência contra as ameaças à democracia, reforçando
a necessidade de uma ação firme e coordenada da sociedade civil e das
instituições democráticas para enfrentar os desafios atuais.
Olho na eleição

Getúlio Vargas Jr

O presidente da Conam (Confederação Nacional de Associações de
Moradia), Getúlio Vargas Jr., ao comentar o ato em defesa de Bolsonaro,
destacou suas observações sobre o atual cenário político e as
perspectivas para as eleições de 2024.
Em sua análise, Vargas Jr. ressaltou que o bolsonarismo, embora não
demonstre a mesma força que anteriormente, ainda exibe uma
capacidade de mobilização significativa, especialmente entre seus
apoiadores mais fervorosos. Ele enfatizou a importância de uma resposta
dos movimentos sociais e progressistas diante das tentativas de reverter
narrativas e promover uma agenda de anistia aos golpistas.
“Não tem aquela força toda que eles achavam que tinha, mas por outro
lado, eles não estão mortos, né? Mas a gente entende que tem que ter
uma resposta dos movimentos sociais, dos movimentos organizados, das
forças progressistas, no sentido de não ter anistia”, recomendou.
Uma das estratégias identificadas pelo líder do movimento de moradia foi
a tentativa de Bolsonaro de buscar apoio no Congresso Nacional,
aproveitando as pressões e contradições dentro do próprio Centrão, que
antes era sua base aliada. Essa movimentação, segundo ele, representa
uma preocupação, visto que nem sempre a maioria no Congresso está
alinhada com a defesa da democracia. “Bolsonaro tenta tirar suas
questões do campo jurídico e mandar para o campo parlamentar”, alerta.
No entanto, o aspecto mais destacado pelo líder social foi a preparação
dos setores de direita e centro-direita, incluindo o campo bolsonarista e
seus aliados, para as eleições de 2024. Ele observou a tentativa de
arregimentar os estados com maioria bolsonarista e destacou a eleição
na cidade de São Paulo como emblemática, delineando claramente dois
campos políticos opostos.

“Um campo extremamente progressista contra um campo extremamente
conservador. O ato na Paulista deixa claro que a vitória do campo
progressista na eleição de São Paulo, se fosse um semáforo, teria que
deixar a gente no sinal amarelo”, avalia ele.
Vargas Jr. enfatizou que o ato na Avenida Paulista não deve ser
interpretado como um sinal desesperador, mas sim como um alerta para
a necessidade de mobilização e vigilância por parte dos setores
progressistas. Ele destacou que, embora o cenário político atual possa
não ser favorável, ainda não está definido por completo, pois “a
correlação de força já foi muito pior”.
A análise dele oferece uma visão ponderada do cenário político
brasileiro, destacando desafios e oportunidades para os diferentes atores
políticos, enquanto destaca a importância da participação cívica e do
engajamento democrático.
Fonte: Vermelho

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