Mandato tresloucado e confronto com Congresso e STF

O país está sem rumo e sem perspectivas. Bolsonaro só está há 5 meses
no exercício do mandato, mas movimenta-se e comporta-se como se

estivesse nos estertores.

Marcos Verlaine*
A convocação, pelo presidente da República, de manifestação para o próximo
domingo (26), com o objetivo de emparedar o Congresso Nacional e o Supremo
Tribunal Federal não deve surpreender a ninguém. Embora seja, evidentemente,
loucura ou burrice. Quem ficar surpreso é porque tem memória fraca.
A iniciativa do presidente em convocar a população para esse despropósito
alimenta populismo de direita e confesso descompromisso com a democracia.
Deputado federal por 28 anos (7 mandatos), nos primórdios vivia bradando na
tribuna da Câmara que era preciso fechar o Congresso. Alguém esqueceu isso?
No impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, ao proferir seu voto,
homenageou notório torturador da ditadura de 1964 — Carlos Alberto Brilhante
Ustra.
Anos antes, em entrevista, disse que Fernando Henrique Cardoso merecia ser
fuzilado e que, para o Brasil dar certo, 30 mil deveriam ser mortos.
Defensor de pautas controversas. Se notabilizou pelas boçalidades que proferia
em entrevistas, discursos e confrontos corriqueiros no Legislativo. Então não deve
haver surpresas na postura do presidente no exercício do cargo. Bolsonaro exerce
uma antipresidência.
Não faz sentido o presidente da República convocar protestos, ainda mais contra
outros poderes da República. Daí advém, além da impostura no cargo, o fato de
exercer uma antipresidência.
Quais podem ser os desdobramentos dessa loucura?
Basicamente duas.
Antes, um prognóstico. Tudo indica que será uma movimentação esvaziada ou
pelo menos não terá a adesão maciça esperada. A aprovação do governo e do
presidente estão em franco declínio, tanto nas camadas populares, quanto na
elite econômica. Os frequentes editoriais do jornal O Estado de S. Paulo revelam
isto.
O 1º desdobramento é que mesmo que aconteça a manifestação, o presidente
criará fato que o jogará, definitivamente, em confronto aberto contra os outros 2
poderes da República. O que não é bom para o governo, os demais poderes e a
democracia, que ficará mais fragilizada do que está.
O 2º desdobramento é que se movimento for fraco, não atingir o público desejado
pelos organizadores, deixará o governo mais comprometido frágil do que está.
Ao fim e ao cabo, aconteça o que acontecer, o governo perderá e ficará mais
exposto e terá sua agenda comprometida no Congresso Nacional. O que, aos
olhos da oposição não será negativo. Pelo contrário. Mas o mercado, que o apoiou
e o elegeu, não aprova essa movimentação tresloucada.

Dessa iniciativa do presidente depreende-se que no exercício do cargo e do
mandato, Jair Bolsonaro ainda não compreendeu seu papel na principal
magistratura do país. Pior para ele, pior para o Brasil, que elegeu mandatário sem
preparo político e psicológico para enfrentar os grandes problemas do país e do
povo.
Enquanto isto, a crise econômica se aprofunda, chegando em níveis de
depressão. O desemprego cresce e o presidente nada apresenta para, pelo
menos, reduzir esse que é um dos principais problemas da sociedade brasileira.
Diante desse quadro, a manifestação convocada para domingo revela algo
surpreendente, o presidente está perdido. O país está sem rumo e sem
perspectivas. Bolsonaro só está há 5 meses no exercício do mandato, mas
movimenta-se e comporta-se como se estivesse nos estertores.
Aguardemos domingo.
(*) Jornalista, analista político e assessor parlamentar do Diap

Fonte: Diap

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *