MP investiga se loja de Flávio Bolsonaro era usada para disfarçar dinheiro de ‘rachadinha’

Ministério Público, que fez buscas no local, apura se valores eram
de recursos desviados de esquema que seria operado por Queiroz
DANIEL HAIDAR

O presidente Jair Bolsonaro ao lado do filho, o senador Flávio
Bolsonaro, em lançamento de seu partido, Aliança Pelo
Brasil. EVARISTO SA (AFP)
Uma loja de chocolates do senador  Flávio Bolsonaro , o
primogênito do presidente  Jair Bolsonaro , foi alvo de um
mandado de busca e apreensão nesta quarta-feira como parte de
uma  operação do Ministério Público do Rio de Janeiro  que
vasculhou endereços de familiares, amigos e ex-assessores do ex-
deputado estadual. O escritório de contabilidade da loja também
foi alvo de buscas. Os promotores não solicitaram buscas na
residência de Flávio. No total, a operação cumpriu 24 mandados
de busca e apreensão expedidos pela 27ª Vara Criminal do Rio de
Janeiro.
A loja de Flávio é uma franquia da rede Kopenhagen localizada
no shopping Via Parque, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.
Promotores fizeram cruzamentos e levantamentos bancários para
identificar se o local foi usado para disfarçar a origem ilícita de
recursos desviados dos salários de funcionários da Assembleia
Legislativa, no esquema conhecido como rachadinha, no período
em que Flávio foi deputado estadual. Os promotores constataram
com o levantamentos de dados bancários que a loja recebeu
maiores valores de depósitos em espécie em períodos fora da
Páscoa, feriado que concentra a maioria das vendas de chocolate
da rede.
“Embora o volume de vendas na quinzena da Páscoa seja muito
superior ao verificado no restante do ano, o volume de dinheiro
depositado em espécie na conta da BOLSOTINI não variou na
proporção das vendas aferidas através de outros meios de
pagamento. Pelo contrário: em períodos com volumes de venda
muito inferiores, houve depósitos de dinheiro em espécie em
quantias ainda superiores àquelas constatadas no período da
Páscoa, não somente em termos percentuais mas também
absolutos”, argumentou o Ministério Público no pedido de busca
apresentado à Justiça.

Por isso, os promotores vão investigar a contabilidade, recibos e
notas fiscais da loja para identificar se os valores depositados em
espécie vieram, de fato, da venda de chocolates.
Flávio Bolsonaro sempre negou qualquer irregularidade nesse
caso. O advogado de Flávio, Frederick Wassef, disse que ainda
não teve acesso à íntegra da medida cautelar, o que só deve
ocorrer na quinta-feira. Ele disse que nada preocupa a defesa e
que foi “desnecessária” a busca e apreensão na loja de Flávio.
“Em absoluto, nada nos preocupa. O que quer que eles encontrem
nos endereços vai mostrar que meu cliente não tem nada que ver
com o que é investigado da Alerj. Por outro lado, desnecessária a
busca e apreensão na sua empresa. Arrombaram a porta. Bastaria
aguardar a chegada dos funcionários que a porta seria aberta e a
decisão seria cumprida”, afirmou ao EL PAÍS.
“Desde janeiro do ano de 2018 até hoje, investigaram e fizeram
uma devassa na vida do meu cliente. Vou repetir o que venho
dizendo há um ano. Houve, sim, a quebra do sigilo bancário do
meu cliente. Mesmo assim, nada foi encontrado. Jamais existiu
rachadinha", acrescentou.
Endereços do ex-assessor Fabrício Queiroz, amigo da família
Bolsonaro há décadas, e de seus familiares também foram alvos
de buscas nesta quarta-feira. Ele é investigado sob suspeita de ter
sido o operador responsável por receber e gerenciar parte dos
salários de outros assessores e laranjas. Enquanto recebia
depósitos de outros funcionários, Queiroz fez saques de 661.000
reais entre janeiro de 2016 e junho de 2018, em operações
consideradas suspeitas de lavagem de dinheiro pelo antigo
Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), atual
Unidade de Inteligência Financeira (UIF).
No total, entre o começo de 2007 e o fim de 2018, o Ministério
Público levantou que Queiroz fez saques que somaram 2,9
milhões de reais em espécie de sua conta bancária, sendo que
nesse período Queiroz recebeu depósitos identificados de cerca de
2 milhões reais de outros assessores de Flávio Bolsonaro.

O COAF também identificou que, em junho e julho de 2017, o
então deputado estadual Flávio Bolsonaro recebeu 48 depósitos
de 2.000 reais.
A investigação da atuação de Flávio na Assembleia Legislativa do
Rio de Janeiro  foi reaberta há duas semanas  depois que o
Supremo Tribunal Federal decidiu que é lícito o uso em
investigações de relatórios financeiros produzidos pela UIF e pela
Receita Federal, sem que seja necessário autorização judicial para
produção desses relatórios. Até a decisão, uma liminar do
ministro Dias Toffoli, presidente da Corte, tinha paralisado todas
as investigações do tipo no país, desde julho, até que uma decisão
do Plenário fosse tomada.
Fonte: El País

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