Um golpe para saquear a América do Sul

Assim como Butch Cassidy (Paul Newman) e Sundance Kid (Robert Redford),
do filme lendário sobre dois ladrões do Velho Oeste que decidem ir para a
Bolívia no auge da mineração de ouro, o imperialismo norte-americano mais
uma vez deu as caras naquele país. O golpe contra o governo do presidente
Evo Morales tem todas as características da política de implantação de
governos autoritários para que as riquezas nacionais sejam saqueadas,
arrancando do povo direitos e conquistas.
Essa deposição violenta de um governo legitimado pela Constituição e pelas
urnas se enquadra no figurino da ofensiva da Casa Branca para reinstalar a
sua ordem intervencionista na América do Sul, interrompida com o ciclo de
governos patrióticos, eleitos com programas populares e democráticos. O golpe
boliviano é mais um capítulo dessa série de terror, com cenas bem conhecidas
na região e que deixou cicatrizes profundas naquele povo.  Tal como indaga o
historiador Eugênio Resende de Carvalho (doutor em História Social e das
Ideias e diretor da Faculdade de História da UFG), seria a Bolívia uma nação
amaldiçoada pelas próprias riquezas naturais?

Agora, as mesmas forças políticas, com os mesmos ideais, mesclam
expedientes das rupturas “modernas”, como a que houve no Brasil, com o uso
da violência e das Forças Armadas – típico das quarteladas que infestam a
história daquele país. Desde que os Estados Unidos impuseram sua
hegemonia na região no pós-Segunda Guerra Mundial, o modelo de golpe
inspirado no Plano Truman espalhou violência desfreada,  sendo a Bolívia um
dos países que mais sentiram essa onda de terror .
Como naqueles tempos, a crise estrutural do capitalismo volta a se manifestar
com intensidade, a causa da escalada golpista. Esse nexo revela a
incompatibilidade do sistema, sobretudo em situações de graves dificuldades
como agora, com a democracia. A convivência de privilégios com direitos do
povo entra em contradição e aí ocorrem os golpes, a ruptura com o sufrágio
universal, com a soberania do voto popular.
Tem relevância, nessa ação golpista, os dados que mostram a Bolívia sob o
governo Evo Morales como um dos países de maior crescimento econômico na
região e onde o povo, principalmente as pessoas de origem indígena,
melhoraram as condições de vida significativamente. A violência dos golpistas
contra o governo, que obrigou Evo Morales a se exilar no México, decorre
desse sentimento popular, uma tentativa de intimidar o povo.
No Brasil, como era de se esperar, a reação do presidente Jair Bolsonaro foi de
apoio ao golpe. Aliás, o que não faltou foi incentivo do governo brasileiro à
violência na Bolívia. A começar pela recusa em reconhecer o resultado das
urnas. O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, chegou a receber
um dos líderes golpistas bolivianos, Luis Camacho, e Bolsonaro fez reiteradas
provocações a Evo Morales. Consumado o golpe, o ministro da Defesa,
general Fernando Azevedo e Silva, disse que "a democracia saiu fortalecida".
A combinação desse cenário, marcado por revoltas populares – na Bolívia há
uma forte resposta do povo ao golpe –, com ameaças autoritárias do
bolsonarismo, indica a urgência de uma articulação das forças democráticas e
progressistas no Brasil para que o povo possa se organizar e impedir o avanço
da marcha de destruição nacional e de ataques à institucionalidade
democrática. A começar por uma ativa solidariedade aos bolivianos e uma
veemente condenação do golpe. A defesa da democracia nesse país vizinho
tem grande relevância para a luta democrática brasileira.

Fonte: Portal Vermelho

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