Vacinação contra covid resulta na redução de óbitos e de internações

Segundo o professor Paulo Lotufo, apesar da perspectiva de queda ser um indício de efetividade da vacinação, ainda serão necessários cuidados devido ao risco das variantes.

Há uma queda na média geral de mortes por covid-19 no Brasil. O número de internações e óbitos, especialmente no grupo dos idosos, desacelerou nos últimos meses. Os números refletem os resultados do plano de vacinação, iniciado há cerca de seis meses. A imunização da população começa a apontar indícios de que está fazendo efeito na melhoria dos indicadores no Brasil, mas até que ponto?

“Quando observamos os dados de mortalidade, principalmente no município de São Paulo, onde existe um acompanhamento bastante rigoroso por data de ocorrência, nós vemos que começou a cair, primeiro entre os acima de 80 anos, depois entre os 70 e 79 e agora entre 60 e 69 anos”, contou o epidemiologista e professor Paulo Lotufo, do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da USP.

Segundo ele, no início de janeiro, cerca de 80% das mortes relacionadas à covid ocorriam com pessoas acima de 70 anos. Hoje, essa maioria ocorre com pessoas abaixo de 60 anos. De acordo com o professor, essa queda se dá devido à priorização que os idosos tiveram no plano de vacinação, cujo objetivo primário era reduzir a mortalidade da doença. 

De acordo com Lotufo, a queda no número de internações, por mostrar a real situação da pandemia, é um indicativo da importância da vacinação, diferente de outros índices que são mais relativos. “Estamos vendo que realmente está tendo uma queda aqui em São Paulo, tanto nos hospitais particulares quanto nos hospitais públicos”, comenta o professor.

Ele complementa, colocando que isso leva a crer que o impacto da vacina é importante, mesmo com o relaxamento das atitudes de distanciamento social frente às novas variantes do vírus. Apesar do otimismo, ele considera preocupante a flexibilização dos protocolos de proteção, pois as variantes são mais contagiosas e ameaçam. Embora se fale muito da variante Delta, originária da Índia, a variante andina Lambda, é a mais perigosa, porque mais próxima do território nacional.

A procura pela segunda dose

Lotufo também relata que o problema das pessoas não procurarem a segunda dose da vacinação, sempre ocorreu com as campanhas para crianças. “Sempre foi uma obsessão das Unidades Básicas irem atrás dos pais para completarem a vacinação dos filhos. Por isso, o sonho dos profissionais que trabalham com imunização é ter vacina de dose única, como é o caso da febre amarela e da varíola”, afirmou.

Apesar desse problema histórico, no entanto, a imunização contra covid-19 tem uma especificidade pelo excesso de informação diferenciada entre vacinas. Essa complexidade da campanha confunde os próprios profissionais da saúde, algo que seria ainda pior se houvesse mais vacinas no catálogo da campanha. É o que acontece, por exemplo, com a vacinação contra a gripe, que foi muito ágil e eficaz em 2020, mas está tendo pouca procura este ano.

Segundo Lotufo, o Brasil sabe ir atrás das pessoas para campanhas de saúde pública, como já fez outras vezes. Ele citou o caso de unidades básicas de saúde na extrema periferia paulistana, da zona sul, que estão com 100% de vacinação de segunda dose por fazer esse trabalho.

De acordo com ele, acreditando nas informações que são fornecidas sobre a produção e chegada de vacinas, é possível projetar que, em meados de setembro, todas as pessoas acima de 18 anos receberam a primeira dose e podemos atravessar para 2022 com mais tranquilidade. “Se tivéssemos iniciado a vacinação ainda em dezembro, podíamos ter evitado essa segunda onda mortal de contágios”, lamentou.

Hábitos culturais para manter

Ele ressalta que, mesmo assim, ainda serão necessários cuidados em relação à transmissão da doença, pois existe a possibilidade das variantes. “Nenhuma vacina é 100%, existe a chance de transmissão”, completa. Ele mencionou os hábitos culturais de países orientais, como o uso de máscara por quem acha que pode estar doente, que contribuíram efetivamente para que a pandemia tivesse um impacto muito menor. São hábitos sociais que seria prudente continuar tendo no Brasil, mesmo após a imunização.

“As políticas publicas e privadas vão ter que mudar, também”, disse Lotufo, pontuando alguns exemplos. A arquitetura das escolas é inadequada e precisa mudar. As cidades precisam aumentar o acesso à parques públicos e praças, em vez de gradeá-las. Os locais públicos precisam ser iluminados à noite para estimular as pessoas a praticarem atividade física. Os restaurantes precisam ser mais ventilados e ter mais áreas abertas, assim como utilizar calçadas. Para ele, o futuro demanda essas adaptações para que não se repitam problemas como os que tivemos agora.

Edição de entrevista à Rádio USP

 

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