Brasil busca transição energética em meio à crise climática e social

Para professor aposentado da UFPE, país tem todas as condições de
diversificar e transformar sua matriz energética e elétrica amplamente em

todo território nacional

Cerimônia de lançamento do Complexo Renovável Neoenergia em Santa Luzia
Ponto central para o enfrentamento das mudanças climáticas, a transição
energética é um dos principais desafios mundiais na atualidade. Nesse
cenário, e considerando suas características naturais, o Brasil tem papel
estratégico tanto do ponto de vista da preservação ambiental quanto para
o desenvolvimento de novas formas de geração de energia, um processo
complexo dada sua magnitude e os interesses envolvidos, mas
incontornável para o futuro do país.
No final de março, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva inaugurou  o
Complexo Renovável Neoenergia, em Santa Luzia, interior da Paraíba.
Segundo o governo, esse é o primeiro complexo associado de geração
de energia renovável no Brasil que integra as energias eólica e solar
fotovoltaica.
Na ocasião, o governo também anunciou investimentos da ordem de R$
50 bilhões para realizar o que considera ser o maior programa de
transição energética do país, que permitirá a construção de mais parques
de energia eólica e solar no Nordeste.
Em comunicado público divulgado no dia 31, a Petrobras informa que o
presidente Jean Paul Prates submeteu e validou junto à diretoria
executiva da empresa propostas relativas ao seu planejamento
estratégico que envolvem diretamente a questão da transição
energética.
Entre as propostas estão o “foco em ativos rentáveis de exploração e
produção, com descarbonização crescente das operações da empresa e
de seus fornecedores”; “ênfase na adequação e aprimoramento do
parque atual de refino por meio do ganho de eficiência e conjugação de
matérias-primas de matriz renovável no desenvolvimento de processos
industriais resilientes e produtos sustentáveis”, além de“fortalecer o
acesso a mercados e buscar a vanguarda global na transição energética
através da atuação internacional por meio de parcerias tecnológicas e
operacionais”.
Ainda começo de março, outro movimento neste sentido aconteceu via
Petrobras. Na ocasião, a estatal assinou carta de intenções com a
empresa norueguesa Equinor que tem, como um de seus objetivos,  a
avaliação da viabilidade técnico-econômica e ambiental de projetos de
geração de energia eólica offshore (em alto mar) na costa brasileira.
Mudanças estruturais

Essas iniciativas vão ao encontro da busca pela redução do uso de
energias fósseis, por exemplo, que respondem por 80% da energia
primária mundial. “É necessário, com a urgência que o problema requer,
banir os combustíveis fósseis. Todavia a discussão sobre a transição
energética não deve se restringir meramente à simples troca de fontes
energéticas: fonte não renovável por fonte renovável (sol, vento,
biomassa, água, entre outras). Deve ser entendida como um conceito
que vai além da geração de energia, que alcança mudanças no modo de
produção e consumo da sociedade. Deve ser vista como uma grande
oportunidade”, explica Heitor Scalambrini Costa, doutor em Energética e
professor aposentado da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Ele esclarece que o fato de uma fonte ser renovável não significa
necessariamente que ela seja energia “verde”, “limpa” ou “sustentável”. O
professor argumenta que “não existe processo de transformação, de
conversão e uso de energia que seja isento de produzir poluição, danos
socioambientais, contaminação do ar, da terra e da água, entre outros
malefícios”.
Costa alerta para o fato de que o grau de danos de âmbito social,
ambiental, cultural, ou econômico provocados pelas fontes renováveis
“depende das boas práticas socioambientais empregadas pelos
empreendedores, da área abrangida pelo projeto, e da participação
efetiva de órgãos públicos na exigência do licenciamento ambiental, na
fiscalização e acompanhamento”.
Neste sentido, embora considere haver ainda o que classifica como
inconsistências na forma como a questão tem sido abordada em nível
governamental, o professor avalia que “o Brasil possui uma exuberante e
rica biodiversidade, e tem todas as condições de diversificar e
transformar sua matriz energética e elétrica, amplamente em todo
território nacional. Com a extensão continental do território nacional
verifica-se fontes de energia renováveis locais que deveriam ser
utilizadas tanto no uso gasoso, líquido e sólido que vários processos
exigem”.
Ao mesmo tempo, ele defende ser uma exigência “que se discuta os
impactos socioambientais da produção de grandes blocos de energia, em
larga escala de fontes renováveis de energia, que utilizam grandes
superfícies, implicando que além de atingirem as pessoas que vivem nos
locais de instalação, atingem os ecossistemas e, em última análise, o
planeta, de modo geral. O problema reside na escala de produção de
energia”.
Para ele, “as vantagens de uma transição energética só seriam visíveis
positivamente para a grande maioria da população se ela for

democrática, sustentável, justa e popular. Só assim terá credibilidade e
aceite social”.

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