Pacto entre a produção e o trabalho será fundamental para enfrentar tarifaço
Opinião é do presidente da CTB, Adilson Araújo, que alerta para
medidas em defesa do emprego e da renda caso os EUA mantenham
taxa de 50% sobre produtos brasileiros
por Priscila Lobregatte
Publicado 29/07/2025 18:23 | Editado 30/07/2025 08:01
Foto: Agência Brasil
A crise que pode advir da manutenção da tarifa de 50% imposta pelo
governo dos Estados Unidos aos produtos brasileiros tem potencial
de trazer graves efeitos à economia nacional e, em especial, à classe
trabalhadora, elo mais vulnerável aos desmandos do capitalismo.
Em meio às incertezas desse cenário, empresários buscam maneiras
de amenizar o peso da medida recorrendo ao governo federal, que
tem sinalizado preocupação com o desemprego e a queda na renda.
Este é um dos principais pontos do plano que vem sendo elaborado
pelo governo Lula a fim de enfrentar a tarifa, em caso de não
reversão da medida.
Entre as propostas aventadas por empresários está a redução
proporcional da jornada de trabalho e dos salários, mediante
compromissos de preservação dos empregos, cabendo ao governo
fazer uma complementação dos salários, como ocorreu na pandemia.
Leia também: Movimentos mobilizam para 1º de agosto contra
tarifaço e em defesa da soberania
“Estamos muito confiantes que preparamos um trabalho que vai
permitir ao Brasil superar esse momento. O evento externo não foi
criado por nós, mas o Brasil vai estar preparado para cuidar das suas
empresas, dos seus trabalhadores, e ao mesmo tempo se manter
permanentemente na mesa de negociação buscando racionalidade,
buscando respeito mútuo”, declarou o ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, nesta terça-feira (29).
Além disso, há a possibilidade de concessão de subsídios a empresas,
no mesmo molde do adotado após as inundações de 2024 no Rio
Grande do Sul. De acordo com a Fazenda, 10 mil empresas brasileiras
podem ser diretamente afetadas e, somente no setor industrial, cerca
de 110 mil empregos podem vir a ser perdidos.
“O mercado brasileiro com certeza sentirá o impacto e precisamos
unir a classe trabalhadora em defesa dos seus direitos e, sobretudo,
em defesa do emprego. Por isso, acredito que a melhor saída é
construirmos um pacto entre a produção e o trabalho, estabelecendo
caminhos para o desenvolvimento estruturado, para a proteção e
geração de empregos, combatendo a precarização e fortalecendo a
capacidade de consumo das famílias por meio da valorização do
trabalho”, explica o presidente da Central dos Trabalhadores e
Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araújo.
Nesse mesmo sentido, acrescenta que está “no centro das
reivindicações das centrais sindicais a defesa de um projeto de Brasil
mais humano e menos desigual. Fazem parte dessa estratégia
defender produção nacional, a proteção do emprego e da renda,
fortalecer a negociação coletiva com participação social e privilegiar o
debate institucional na busca permanente do diálogo social”.
Recentemente, representantes das centrais sindicais se reuniram com
o vice-presidente Geraldo Alckmin para tratar do tema. Na ocasião,
entregaram o documento intitulado “Propostas das Centrais Sindicais
diante da Guerra Comercial: Soberania, Emprego e Desenvolvimento”.
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pronto para qualquer cenário
No âmbito da proteção do emprego e da renda, o documento
defende, entre outras medidas, a recriação do Programa de Proteção
do Emprego, com fundos de compensação e programas de transição
para trabalhadores afetados por impactos negativos do comércio
internacional; investimento em qualificação e requalificação
profissional; o fortalecimento da organização sindical e o
estabelecimento de cláusulas de proteção ao emprego nos acordos
coletivos.
Quanto à defesa da produção nacional, o documento propõe, entre
outros pontos, fortalecer as medidas antidumping e salvaguardas
comerciais em setores e cadeias produtivas ameaçados; aumentar o
investimento para a implementação das NIB (Nova Indústria Brasil),
com foco em inovação, sustentabilidade e encadeamento produtivo
interno; estimular a produção nacional por meio das compras
públicas e da política de conteúdo local e fortalecer o investimento
público em infraestrutura social e produtiva (transporte, energia,
habitação, saúde, educação) com encadeamentos na indústria
nacional.
Considerando esses aspectos, Araújo diz que é preciso “encontrar
caminhos para enfrentar a crise comercial, valorizando o trabalho e o
trabalhador. E isso só será capaz se a gente colocar no centro da luta
política a defesa da democracia e da soberania”.
Para tanto, do ponto de vista do trabalho imediato das centrais, um
dos principais focos de luta são os atos que os movimentos sociais
estão convocando para o dia 1º de agosto, em frente a prédios do
governo dos EUA em diversos pontos do Brasil.
“Penso que essas manifestações convocadas precisam, inclusive, ser
continuadas porque toda essa provocação e tentativa de cerco com
certeza não vai cessar. A defesa de um Brasil democrático e soberano
é central para aqueles que lutam pela autodeterminação dos povos e
nações. Então, eu penso que ganhar as ruas também vai ser um
momento importante de reafirmação e de defesa do Brasil. Afinal, o
Brasil é, sem sombra de dúvidas, dos brasileiros”.
Fonte: Vermelho

