União Europeia mira eleitores republicanos em retaliação a tarifas do aço de Trump

Em meio à escalada da guerra comercial, o bloco europeu anuncia novas
taxas sobre produtos americanos, mirando inclusive setores e estados politicamente sensíveis, por  Cezar Xavier.

Foto: União Europeia, 2020/EC – ServiçoAudiovisual/Stefan Wermuth

Nesta quarta-feira (12), a União Europeia anunciou contramedidas contra
as recentes tarifas de 25% impostas pelos Estados Unidos sobre as
importações de aço e alumínio. Segundo informações, o plano europeu
prevê taxas que poderão atingir até 26 bilhões de euros
(aproximadamente US$ 28 bilhões) em produtos americanos. A medida,

que será aplicada integralmente a partir de 1º de abril, retoma as tarifas
que já haviam sido implementadas durante o primeiro mandato de Trump
e posteriormente suspensas, incluindo algumas que nunca estiveram em
vigor anteriormente.
Para os EUA, a medida representa uma tentativa de proteger sua
indústria doméstica, mas que agora se volta para penalizar produtos que
possam causar danos em áreas politicamente sensíveis – isto é, regiões
governadas por líderes republicanos. Entre os alvos está, por exemplo, a
soja produzida na Louisiana, lar do presidente da Câmara dos EUA, Mike
Johnson. Essa estratégia visa pressionar o governo norte-americano a
reabrir a mesa de negociações, enquanto a UE, por sua vez, mantém
uma postura de resposta forte, mas “proporcional”, conforme destacou a
presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
“As contramedidas que tomamos hoje são fortes, porém proporcionais”,
declarou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen,
durante uma coletiva de imprensa em Estrasburgo, na França.
“Acreditamos firmemente que, em um mundo repleto de incertezas
geoeconômicas e políticas, não é do interesse comum sobrecarregar
nossas economias com essas tarifas.”
Painel dos estados mais afetados
A estratégia da UE é multifacetada e busca maximizar o impacto político
nos EUA, enquanto minimiza os danos econômicos para o bloco
europeu. Um aspecto irônico da nova estratégia da UE é o foco cirúrgico
em produtos oriundos de estados que, historicamente, têm sido
governados por apoiadores de Trump. A ideia é criar pressão em áreas-
chave lideradas por republicanos, forçando uma resposta política mais
rápida de Washington. Ao mirar produtos de estados liderados por
republicanos, a UE busca explorar divisões internas no Congresso
americano, onde há crescentes críticas às políticas comerciais de Trump.
“Estamos prontos para negociar”, disse Maros Sefcovic, chefe de
comércio da UE, após visitar Washington no mês passado para tentar
evitar a escalada. “A interrupção causada pelas tarifas é evitável se o
governo dos EUA aceitar nossa mão estendida e trabalhar conosco para
chegar a um acordo.”
Entre os principais alvos estão:
 Louisiana: A soja produzida nesse estado, base de apoio para
figuras influentes como Mike Johnson, é um dos produtos
destacados pela UE.
 Bourbon do Kentucky, estado do líder republicano no Senado,
Mitch McConnell.

 Motocicletas Harley-Davidson e jeans Levi’s, símbolos icônicos
da indústria americana, já afetados em disputas anteriores.
 Outros estados republicanos: Produtos têxteis, eletrodomésticos
e bens agrícolas provenientes de regiões onde o protecionismo e o
discurso nacionalista são fortes também serão visados.
Essa abordagem tem o intuito de causar impacto nos setores
econômicos e políticos de áreas que, por vezes, demonstram uma
retórica de “Make America Great Again”, mas que agora podem sentir o
peso das novas tarifas.
Perdas e danos para todos
O bloco europeu busca equilibrar dois objetivos: minimizar prejuízos
internos e explorar fissuras domésticas nos EUA. Priorizou produtos
como aço e alumínio, que representam apenas 0,3% do PIB da UE,
evitando setores críticos como energia. Ao mirar estados republicanos, a
UE espera que pressões locais forcem Trump a recuar. “Queremos que
agricultores do Midwest e CEOs da Harley-Davidson cobrem o governo”,
disse um diplomata europeu sob anonimato.
A estratégia inclui uma janela de negociação até meados de abril,
liderada pelo chefe de comércio da UE, Maros Sefcovic, que ofereceu
aos EUA aumento de importações de gás natural e bens de defesa.
Para a Europa, as tarifas retaliatórias representam quase quatro vezes o
valor das medidas semelhantes adotadas durante o primeiro mandato de
Trump, quando os EUA atingiram cerca de US$ 7 bilhões em
exportações de metais do bloco. Agora, o escopo é muito maior,
refletindo a seriedade da resposta europeia.
Enquanto a UE mira os EUA, seu mercado interno enfrenta uma ameaça
paralela, o desvio de exportações globais e a saturação do mercado.
Com as tarifas americanas, aço asiático e norte-africano, antes destinado
aos EUA, pode inundar a Europa. O lobby Eurofer estima que, para cada
3 toneladas desviadas dos EUA, 2 cheguem à UE. Em 2018, isso levou a
uma queda de 12% nos preços do aço no bloco. “Já sofremos com
importações baratas. Agora, o cenário será pior”, alertou um porta-voz do
Eurofer.
A diplomacia antes da guerra comercial
Os possíveis cenários para a negociação envolvem um acordo de última
hora. A UE sinaliza flexibilidade, oferecendo reduzir tarifas industriais em
troca de acesso ao mercado americano. Ou uma escalada perigosa.
Trump prometeu retaliar com taxas de 100% sobre carros europeus em
abril, o que afetaria gigantes como Volkswagen e BMW, já em crise.

O impacto global deve envolver inflação e fragmentação comercial.
Setores como construção civil e automotivo nos EUA e UE podem
enfrentar custos maiores. A disputa reforça tendências de
“desglobalização”, com blocos econômicos priorizando produção
doméstica.
Enquanto a UE se prepara para impor as novas tarifas a partir de
meados de abril, a expectativa é de que o cenário global se torne mais
incerto. A nova rodada de medidas pode abrir caminho para negociações
que redefinam os termos do comércio internacional – um movimento que,
em última instância, afetará tanto as economias americana quanto global,
além de pressionar estados e setores sensíveis a ajustes na política
comercial global.
A guerra comercial não apenas ameaça as economias dos dois blocos,
mas também pode minar décadas de cooperação estratégica em áreas
como segurança e política externa. Em um mundo cada vez mais
fragmentado, o desfecho dessa disputa pode definir o futuro das relações
transatlânticas.
Fonte: Vermelho

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *