Violência policial revela modus operandi do Governo Tarcísio na Segurança Pública
Presidente do Condepe, Adilson Santiago critica tentativa de
individualizar práticas violentas da polícia disseminadas e o modo como
Tarcísio e Derrite tentam acobertar os criminosos.
Os casos recentes de violência policial em São Paulo reacenderam o
debate sobre a gestão da segurança pública no estado. Sob a liderança
do governador Tarcísio de Freitas e do secretário Guilherme Derrite, os
números da letalidade policial cresceram 54% em comparação ao ano
anterior, segundo o Ministério Público. Os episódios que marcaram os
últimos dias, como o policial que jogou um homem rendido de uma ponte
e outro que atirou 11 vezes contra um jovem desarmado, ilustram o clima
de tensão.
Diante das críticas, o governador saiu em defesa de Derrite. “Olhe os
números, você vai ver que está [fazendo um bom trabalho]”, afirmou
Tarcísio em Brasília, destacando a necessidade de medidas contra
desvios de conduta. Ele convocou uma reunião extraordinária com a
cúpula da PM, enquanto o comandante-geral, coronel Cássio Araújo,
reconheceu a gravidade dos casos e prometeu punições individualizadas
aos responsáveis.
Aumento de mortes preocupa autoridades e sociedade civil
Desde o início da gestão Tarcísio, os índices de letalidade policial
passaram por uma escalada significativa. Foram 712 mortes em 2024,
comparadas a 396 em 2022, último ano da gestão tucana no estado. O
coronel Araújo atribuiu os números ao aumento da atividade operacional
da PM, mas garantiu que a corporação trabalha para evitar excessos. “O
cidadão quer uma presença policial, mas dentro dos limites da lei.
Estamos apurando rigorosamente os desvios”, disse.
Apesar das declarações, as imagens de policiais agindo com violência
extrema não combinam com as medidas de punição administrativa aos
envolvidos. Por isso, suscitam críticas de entidades de direitos humanos
e lideranças sociais. Para Adilson Souza Santiago, presidente do
Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana
(Condepe), a problemática vai além de casos isolados.
“Trocar o dono do pomar”
Adilson Souza Santiago, presidente do Condepe
Em entrevista ao Portal Vermelho, Santiago foi enfático ao criticar a
gestão estadual e a tentativa de criar uma nova ouvidoria subordinada ao
secretário Derrite, vista por ele como uma medida para “acobertar as
atrocidades”. Ele defendeu mudanças estruturais. “O secretário
mencionou que era uma maçã podre, mas não é. Ou trocamos as maçãs,
o caixote, ou o dono do pomar. Enquanto os índices de violência
aumentam, o governador acoberta esses casos inadmissíveis.”
Santiago também ressaltou que a violência policial tem direcionamento e
reflete racismo estrutural. “80% das vítimas são negras, 40% têm menos
de 18 anos. Isso não surge aleatoriamente, é uma repressão deliberada
contra a população pobre e preta. Estamos vivendo um estado de
horror.”
Controle externo fragilizado
A proposta do governo de criar uma nova ouvidoria para a Secretaria da
Segurança Pública levantou preocupações. Entidades como a OAB de
São Paulo alertaram que a medida pode enfraquecer os mecanismos de
controle externo, já que o ouvidor será indicado pelo titular da pasta.
Desde 1995, a Ouvidoria das Polícias tem desempenhado um papel
crucial no acompanhamento e denúncia de abusos.
Para Santiago, a criação de uma nova estrutura subordinada à secretaria
representa um retrocesso. “Essa ouvidoria chapa-branca é uma tentativa
clara de evitar resolver os problemas concretos. Nenhum policial age
sem orientação. Há um modus operandi claro.”
Nesta terça-feira, o Condepe representou na Defensoria Pública e no
Ministério Público para que se proceda à instauração dos procedimentos
para a apuração de eventuais inconstitucionalidades, vícios,
incompatibilidades e outros tipos penais e cíveis em relação à criação de
uma nova Ouvidoria das Polícias subordinada a Derrite. Esta medida
surge em detrimento da Ouvidoria independente que vem sendo atacada
por parlamentares de extrema-direita e gestores públicos do governo
estadual por seu trabalho questionador dos abusos cometidos em
operações policiais.
Medo e insegurança
A escalada de violência, segundo Santiago, tem gerado pânico na
população. “Casos como o do Ryan [criança morta em Santos], do
estudante da USP [Marco Aurélio Cardenas Acosta] e do homem jogado
da ponte [Marcelo] mostram uma polícia que atira e mata nos espaços
públicos. Esses agentes deveriam sair presos, não afastados
administrativamente.”
Enquanto o governo promete investigar os casos e punir os
responsáveis, a sociedade civil intensifica a pressão por mudanças
efetivas. “Vamos até o final, ao lado da população violada, e exigir
respostas dos órgãos competentes. A Secretaria de Segurança Pública
não combate a violência; ela a reproduz”, concluiu Santiago.
Cenário de incertezas
Com a letalidade policial em alta, a gestão de Tarcísio de Freitas enfrenta
críticas crescentes e questionamentos sobre sua capacidade de
promover uma segurança pública que respeite os direitos humanos.
Enquanto o governo tenta conter os danos à imagem da polícia,
especialistas e organizações sociais apontam para a necessidade
urgente de reformas estruturais, que vão desde o controle externo até a
formação e orientação das forças de segurança.
Fonte: Vermelho

