Gestão Campos Neto deixa dívida de quase R$ 300 bilhões no Banco Central

Para cobrir o rombo, o Banco Central deve abrir mão de R$ 82,8 bilhões
de seu patrimônio institucional. Tesouro Nacional ainda terá de repassar

R$ 36,6 bilhões ao BC.

O primeiro resultado do Banco Central (BC) independente foi um fiasco
bilionário. Conforme o balanço financeiro aprovado pelo Conselho
Monetário Nacional (CMN) na quinta-feira (16), a instituição registrou em
2022 uma dívida de quase R$ 300 bilhões – o valor preciso foi R$ 298,5
bilhões.
“Esse resultado negativo chama atenção, mas temos US$ 325 bilhões na
carteira”, tentou minimizar Ailton de Aquino Santos, chefe do
Departamento de Contabilidade, Orçamento e Execução Financeira do
Banco Central. Seguindo o manual de comunicação financeira, Ailton
assegurou que a culpa do caos foi externa, especialmente a variação
cambial.
“Essa correção cambial explica R$ 165,8 bilhões do prejuízo do BC no
ano passado. E a reavaliação da carteira explica outros R$ 136,3 bilhões
negativos, devido à alta de juros nos Estados Unidos e no mundo”,
afirmou.
A dívida de 2022 – a primeira sob a gestão Roberto Campos Neto, que
assumiu a presidência do BC em 2019 – vai além de “chamar atenção”.
No ano anterior, o banco registrou resultado positivo de R$ 85,9 bilhões.
Homem do mercado financeiro, Campos Neto foi nomeado ao cargo na
gestão Jair Bolsonaro. Dois anos após sua posse, ganhou um presentão
do Congresso Nacional – a Lei Complementar 179, que garantiu a
chamada “autonomia” do Banco Central. A rigor, o BC se tornou
independente em fevereiro de 2021. Assim, 2022 foi o primeiro ano em
que o banco foi permanentemente autônomo, indiferente às políticas de
Estado.
Para cobrir o rombo, o Banco Central deve abrir mão de R$ 82,8 bilhões
de seu patrimônio institucional. Como a independência não vale para
tudo, o Tesouro Nacional terá de repassar R$ 36,6 bilhões ao BC, a
despeito da situação caótica que Bolsonaro impôs às contas da União.
Ailton de Aquino Santos não vê constrangimento na medida: “No ano
passado, entregamos quase R$ 72 bilhões ao Tesouro. Esse resultado
negativo de agora tem uma magnitude baixa em relação ao que já foi
repassado para o Tesouro nos últimos anos”, diz o diretor do BC.
A Auditoria Cidadã da Dívida lembra que o artigo 7º da Lei de
Responsabilidade Fiscal “deixa o BC transferir prejuízo SEM LIMITE para
a dívida pública”, o que prejudica toda a população brasileira. “Além de (o
Banco Central) manter os juros altíssimos e amarrar a economia do
Brasil, agora também teremos que arcar com os prejuízos da
administração do BC independente?”

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