Os quatro desafios da campanha de Lula para vencer Bolsonaro no 1º turno

Faltando 18 dias para a eleição, há tempo para buscar os votos que
podem garantir a vitória em 2 de outubro. Até lá, há quatro desafios para

viabilizar o êxito no primeiro turno.

A nova rodada da pesquisa Ipec/TV Globo, divulgada na segunda-feira
(12), apontou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode
vencer as eleições 2022 já no primeiro turno, no próximo dia 2 de
outubro. Lula tem 46% das intenções de voto – seu melhor patamar
desde o início oficial da campanha, em 16 de agosto. Os adversários do
petista, juntos, somam 44%.
Se a eleição fosse hoje e esses números se concretizassem, Lula estaria
eleito em um único turno, com 51% dos votos válidos. Porém, como a
margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos,
o desfecho da eleição ainda está em aberto. Levantamentos de outros
institutos, como a Quaest e o PoderData, indicam uma tendência de dois
turnos.
A esquerda sempre precisou de duas rodadas de votação para chegar ao
Planalto. Seu melhor desempenho em primeiro turno foi em 2006,
quando Lula conquistou 48,61% dos votos válidos. Em 2010, no auge da
popularidade lulista, Dilma Rousseff (PT) teve 46,91% dos votos. Vence
a eleição em um turno quem alcança 50% mais um dos votos válidos.
Para alcançar esse feito inédito em 2022, a campanha de Lula traça
planos. A elevada rejeição a seu principal concorrente, o presidente Jair
Bolsonaro (PL), virou um trunfo. Se é tão urgente derrotar a extrema-
direita, qual o sentido de adiar essa definição para o segundo turno?
Faltando 18 dias para a eleição, há tempo para buscar os votos que
podem garantir a vitória em 2 de outubro. Lula, por sinal, já disse que
está a “um tiquinho” de se tornar presidente. Mas, até lá, sua campanha
tem quatro desafios para viabilizar o êxito no primeiro turno.
1) Convencer os indecisos
Conforme a pesquisa Ipec, há 4% de eleitores que não sabem em quem
votar ou não querem responder. Desde 1989, é o menor percentual de
indecisos a esta altura da campanha. Mesmo assim, trata-se de mais de
6 milhões de votos.
Em materiais de campanha e discursos, Lula tem se dirigido cada vez
mais aos indecisos. Em agenda nesta quinta-feira (14), por exemplo, ele
faz um pedido a “quem gosta muito de telefone celular, quem fica usando
o Zap ou fazendo tuíte, quem fica no TikTok”. Segundo ele, é hora de
“usar essa ferramenta para a gente conversar com as pessoas indecisas
e mostrar a responsabilidade de mudar este país”.
Na terça (13), em encontro virtual com mais de 6 mil comunicadores,
Lula os exortou a viralizarem depoimentos de artistas e celebridades que
apoiam sua candidatura. “Temos gravações excepcionais, como a que

o (ex-jogador) Raí fez ontem (na segunda-feira). Essas gravações são
capazes de sensibilizar os indecisos.”
2) Ganhar o voto útil
Numa eleição tão polarizada, em que 77% dos eleitores declaram voto
ou em Lula ou em Bolsonaro, cresce a chance de decidir a disputa no
primeiro turno. Ao que tudo indica, Bolsonaro parece ter atingido um teto
de intenção de votos. Mas, nas primeiras semanas de campanha, houve
um ligeiro crescimento da terceira via.
Na pesquisa Ipec de 19 de agosto, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e a
senadora Simone Tebet (MDB) tinham, juntos, 8% dos votos. Agora, eles
estão com 11%. Num eventual segundo turno, esses votos tendem a ir,
majoritariamente, para Lula. Mas como atrai-los ainda no primeiro turno?
O “risco Bolsonaro” é a razão central.
Nesta quarta-feira (14), o movimento sindical divulgou uma carta em
defesa do voto útil em Lula. O documento é assinado por dirigentes de
Força Sindical, UGT, Nova Central, CSB e Pública. “Os votos daqueles
que ainda pretendem votar em Ciro Gomes justamente porque apostam
na construção de tempos melhores farão toda a diferença neste
momento, afastando de uma vez por todas a ameaça de continuidade do
desgoverno de Bolsonaro”, afirma a nota.
Celebridades também manifestaram que, a fim de impedir um segundo
governo Bolsonaro, mudaram de candidato e agora estão com Lula. Foi o
caso dos humoristas Fabio Porchat e Gregório Duvivier, do cantor e
compositor Caetano Veloso e da cantora Vanessa da Mata. Todos eles já
votaram em Ciro – ou pretendiam votar no pedetista em 2022 –, mas
aderiram a Lula. O motivo: “salvar a democracia”, de acordo com
Duvivier.
3) Consolidar o voto envergonhado
Muitos eleitores de Lula se recusam a fazer campanha ou mesmo a
declarar publicamente o voto. O fenômeno foi detectado pela Quaest,
que foi às ruas para pesquisar se havia ou não havia “voto
envergonhado” no Brasil. Esperava-se que parte dos eleitores de
Bolsonaro resistisse a abrir sua escolha, devido às inúmeras polêmicas
em que o presidente se envolve. Mas a conclusão da pesquisa foi outra.
“Todo mundo diz: ‘O Bolsonaro bomba na internet. Como é que as
pesquisas mostram ele atrás?’. Então, muita gente faz a hipótese de que
haveria um voto envergonhado no Bolsonaro”, explicou, em entrevista à
CNN Brasil, Felipe Nunes, diretor da Quaest. “O que a gente descobriu é

que o voto envergonhado no Brasil não é no Bolsonaro. O voto
envergonhado no Brasil é no Lula.”
Segundo Nunes, esse eleitor evita se manifestar com medo de ser
incomodado ou hostilizado por bolsonaristas. É, conforme suas palavras,
um “contingente significativo” de lulistas. “Ele não muda de opinião, ele
continua votando no Lula, mas ele não se expressa”, diz o diretor da
Quaest. Ainda que não faça campanha nas redes sociais ou no dia a dia,
boa parte desses eleitores tem voto convicto. Essa minoria silenciosa
pode dar a Lula a vitória em 2 de outubro.
4) Combater a abstenção
Em 2018, nada menos que 30 milhões de eleitores aptos a votarem não
compareceram às urnas. Segundo o TSE, o índice de abstenção no
primeiro turno foi de 20,3%. As taxas, porém, são menores em regiões
onde, proporcionalmente, Bolsonaro vai melhor, como no Sul. Há quatro
anos, abstiveram-se 18,1% dos eleitores no Rio Grande do Sul, 17% no
Paraná e 16,3% em Santa Catarina – taxas inferiores à média nacional.
Pesquisa CNT/MDA feita em maio sondou quais eleitores admitem não
votar neste ano. O resultado: a abstenção tende a ser maior em estratos
de renda e escolaridade nos quais Lula tem mais que o dobro de votos
de Bolsonaro. Um dos motivos mais alegados é a dificuldade de
deslocamento. Não à toa, Lula passou a frisar a importância do voto.
“Entre os mais pobres e menos escolarizados, a intenção de não ir às
urnas foi o dobro da verificada entre os mais ricos e com maior grau de
instrução. Se essa tendência se confirmar em outubro, o beneficiado será
Bolsonaro”, diz Marcelo Costa Souza, diretor-executivo do MDA. “O que
vai fazer a diferença é a capacidade de cada candidato terá de mobilizar
o seu eleitorado e fazê-lo comparecer às urnas no dia 2.”

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