Para sindicalistas, greve na Argentina foi forte e com apoio social

Com alta adesão, a greve paralisou todo o sistema de transporte em Buenos Aires. A CGT diz que manterá seu plano de mobilização contras as perdas trabalhistas.

A Confederação Geral do Trabalho (CGT) realizou nesta quinta, 9, uma
greve geral que foi descrita como “forte” e “bem-sucedida”, marcando a
segunda manifestação em cinco meses contra o governo de Javier Milei.
Os sindicalistas, reunidos na histórica sede do sindicato dos
trabalhadores na rua Azopardo, avaliam que a greve foi contundente e
teve apoio social e político. Sugeriram que o governo que “tomasse nota”
e alterasse sua política de ajustamento.
“Hoje, realizamos uma greve política porque estamos discutindo todas as
ações que estão prejudicando o tecido do nosso país. O governo deve
tomar nota para retificar sua política de ajustamento”, afirmou Héctor
Daer, um dos membros do comando do movimento. Ele se referia às
desqualificações repetitivas do governo de que “a greve é política”. Daer
destacou que indicadores como a queda real nas rubricas orçamentárias
para aposentadorias, obras públicas, subsídios de transporte,
transferências para as províncias e cortes para universidades e
programas sociais justificavam a necessidade da greve.
A greve gerou controvérsia e divisão entre políticos e líderes sindicais. O
governador peronista Osvaldo Jaldo criticou a greve, argumentando que
parar o país só levará à perda econômica. No entanto, a CGT defende a
greve como uma medida necessária para chamar a atenção para as
questões enfrentadas pelos trabalhadores argentinos.
Daer lista alguns indicadores: queda real de 31% nas rubricas
orçamentárias para aposentadorias e pensões, 87% em obras públicas,
39% em subsídios de transporte, 76% em transferências para as
províncias, 18% em cortes para universidades e 13% em programas
sociais. O dirigente do sindicato da Saúde mostrou um recorte de jornal
onde era evidente a queda do poder de compra dos salários e o colapso
da indústria e da construção.
“E agora existe uma meia sanção nos Deputados (à Lei de Bases) que
dá poderes ao Poder Executivo para dissolver entes públicos sem justa
causa. Não está claro que limite vão impor (ao governo) -Lamentou Daer-
. Aí falam que por conta da legislação trabalhista existem trabalhadores
informais, mas com esse projeto de lei 600 mil trabalhadores passam da
formalidade para um esquema formal de ilegalidade. É por isso que a
agenda de greves é contundente.”
Os sindicatos reforçaram a rejeição à Lei de Bases e ao pacote fiscal que
obteve meia sanção na Câmara dos Deputados. Os sindicatos planejam
se reunir com senadores radicais para tentar convencê-los a rejeitar a
iniciativa, enquanto a CGT não descarta uma mobilização ao Congresso
no dia 23 deste mês, quando os projetos deverão ser votados no
Senado.

Na conferência de imprensa liderada por Héctor Daer, os sindicalistas
destacaram o “apoio político e social” da greve, ressaltando a queda do
poder de compra, o declínio do setor industrial e a escassez de insumos
nas cozinhas comunitárias. Em resposta às tentativas do governo de
criminalizar a greve através de um decreto, os sindicatos reafirmaram o
direito constitucional à greve e ameaçaram com mais medidas
contundentes se não houver mudanças nas políticas.
Um episódio que marcou o dia foi quando a ministra da Segurança,
Patrícia Bullrich, protagonizou logo cedo, num gesto que procurava
apoiar os ônibus que circulavam em plena greve, subiu numa das linhas
que passavam pela estação Constitución. No entanto o cartão que ela
usou não tinha créditos para pagar a passagem. Para Dae, o “sucesso”
da medida de força foi visto neste fiasco: “Não havia ninguém dentro do
ônibus”, insistiu o dirigente cegetista, em referência aos passageiros.
Os sindicalistas apontaram para um alto nível de adesão à greve, com
Pablo Moyano, líder dos caminhoneiros, destacando que nenhuma forma
de transporte circulou. No entanto, a empresa DOTA, que controla uma
parte significativa dos ônibus que circulam pela Área Metropolitana de
Buenos Aires, não aderiu à greve.
“A greve os prejudicou”, disse Pablo Moyano, secretário adjunto dos
Caminhoneiros, e destacou que se o presidente Javier Milei mantiver o
corte, a confederação dos trabalhadores manterá o plano de luta.
A conferência da CGT, marcada por um ambiente descontraído e
tranquilo, destacou a disposição dos sindicatos para discutir cada
questão com o governo, apesar das tensões políticas evidentes. A greve
da CGT, embora tenha causado alguma interrupção em atividades
comerciais e de transporte, ressaltou a determinação dos trabalhadores
em fazer ouvir suas vozes contra políticas que consideram prejudiciais ao
país.
Negociações na corda bamba
Embora Milei tenha seguido os conselhos de sua equipe mais
diplomática e buscado evitar confrontos midiáticos com a CGT durante
as negociações para a reforma trabalhista, a contundência demonstrada
pelos chefes sindicais, especialmente Héctor Daer e Carlos Acuña,
prejudica o relacionamento, acionando o lado mais ofensivo do
presidente.
O governo avalia o comportamento dos líderes sindicais como traição,
especialmente após concessões feitas na reforma trabalhista e nos
confrontos no Senado para frear a Lei de Bases. O secretário do

Trabalho, Julio Cordero, que tentou promover o diálogo com sindicatos
combativos, viu suas ferramentas enfraquecidas pela postura da CGT.
No entanto, o governo ainda mantém esperanças de avançar com
iniciativas como tornar as contribuições sindicais voluntárias e considerar
os bloqueios sindicais como um dano grave ao trabalho, apesar das
resistências da CGT. Conversas com o PRO e a União Cívica Radical,
ambos da oposição, podem abrir caminho para uma estratégia conjunta,
mas o governo espera que isso aconteça após o debate sobre a Lei de
Bases e caso os sindicatos intensifiquem seus ataques.
Assim, Milei enfrenta um momento delicado, onde o equilíbrio entre
“falcões” (mais ofensivos) e “pombas” (mais diplomáticos) de sua
administração parece cada vez mais frágil. A nova etapa é caracterizada
por uma postura mais rígida, com menos concessões e mais pressão
para avançar com as reformas, marcando uma mudança significativa na
abordagem política do governo.

Fonte: Vermelho

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