Bolsonaro usa funeral da rainha para fazer discurso eleitoral

Agenda financiada com dinheiro público foi sequestrada pela campanha

à reeleição, com discurso de pânico moral.

Bolsonaro discursa da sacada da residência diplomática em Londres
O presidente Jair Bolsonaro (PL) aproveitou o funeral da rainha Elizabeth
2ª com outros chefes de Estado, em Londres, para fazer sua campanha
eleitoral com recurso público e sem constrangimentos. Ele chegou na
manhã deste domingo (18) à capital do Reino Unido, onde fez discursos
religiosos, de pânico moral, ataques aos adversários e negacionismo em
relação às pesquisas de intenção de voto.
A comitiva do presidente no país inclui a primeira-dama Michelle
Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro (União Brasil-SP), o assessor
Fabio Wajngarten, integrantes de sua campanha, o pastor Silas Malafaia,
da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, e do padre Paulo Antônio de
Araújo. Da sacada da residência do embaixador brasileiro em Londres,
local em que ficará hospedado, ele discursou a apoiadores que o
aguardavam.
Bolsonaro discursou sobre temas de sua campanha à reeleição aos
brasileiros presentes e disse que será reeleito no primeiro turno.
Questionados sobre Bolsonaro falar em campanha eleitoral em meio às
cerimônias fúnebres da rainha, Wajngarten argumentou que o presidente
iniciou sua fala hoje falando do funeral. Malafaia, por outro lado, disse
que não dá para “fingir que não está tendo um processo eleitoral no
Brasil”.
O presidente fez um breve discurso com os principais motes eleitorais,
como rejeição a temas de “drogas, aborto e ideologia de gênero” e apelo
à religião. “Temos que decidir o futuro da nossa nação. Sabemos quem é
do outro lado e o que eles querem implantar no Brasil. A nossa bandeira
sempre será dessas cores que temos aqui, verde e amarela”, declarou.
Ele também defendeu a desastrosa gestão da pandemia no país,
ignorando os 685 mil mortos “Mesmo na pandemia, terrível para o mundo
todo, o Brasil resistiu, o povo é resiliente e nós estamos no caminho
certo”, continuou.
Negacionismo eleitoral
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pesquisa
O presidente também mencionou sua passagem por Pernambuco no
sábado (17) —que incluiu uma motociata por Garanhuns, terra natal de
Luiz Inácio Lula da Silva (PT)— e disse ainda que “não tem como não
ganhar no primeiro turno”, apesar de estar bem atrás nas pesquisas.
Segundo as pesquisas mais recentes, seu adversário tem mais chances

de vencer no primeiro turno. Lula teria 45% contra 33% de Bolsonaro na
Ipec mais recente.
“Estive no interior de Pernambuco, a aceitação é excepcional. Não tem
como a gente não ganhar no primeiro turno”, afirmou, ouvindo gritos de
“primeiro turno” do público. O discurso animado revela que a estratégia
vitimista e derrotista que vinha fazendo nos últimos dias não serviu para
nada e precisou ser revista. Bolsonaro vinha tentando estimular o
engajamento de sua base admitindo a derrota e dizendo que vai passar a
faixa presidencial a quem o derrotar.
“Eu cheguei à Presidência, mas por que eu cheguei à Presidência?
Tenho certeza de que é uma missão de Deus estar salvando o nosso
Brasil. O nosso Brasil é uma potência no agronegócio e marcha para ser
uma potência na energia”, declarou.
Incidentes de violência política
Segundo a BBC News, boa parte do público de algumas dezenas de
pessoas usava camisetas da seleção, que após a fala do candidato,
hostilizaram jornalistas brasileiros que estavam no local. Foi preciso que
os policiais londrinos escoltassem os jornalistas. “Vai pra Cuba” e “Lixo”
foram as declarações mais ouvidas.
Quase duas horas depois, um grupo de manifestantes fez um protesto
contra Bolsonaro. Os cartazes em inglês traziam dizeres como “Parem
Bolsonaro pelo futuro do planeta” e “Bolsonaro é uma ameaça ao planeta
e à humanidade”.
Os ativistas também foram hostilizados pelos apoiadores e a polícia
londrina precisou intervir novamente para evitar uma escalada na
violência.
Agenda fúnebre
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contra reeleição de Bolsonaro
Além de Bolsonaro, outros 500 chefes de Estado já estão na capital
britânica —como Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, que
desembarcou no sábado à noite com a esposa, Jill, e o primeiro-ministro
canadense Justin Trudeau, que se reuniu no sábado com o rei Charles 3º
e outros representantes da Commonwealth. Bolsonaro vai visitar o local
onde é velado o corpo da rainha Elizabeth 2ª, depois assinará o livro de
condolências e participará de uma recepção oferecida pelo rei Charles 3º
no Palácio de Buckingham.

Além de protestos contra convite ao príncipe herdeiro da Arábia Saudita,
Mohammed bin Salman, e ao ao presidente chinês, Xi Jinping, há ainda
aqueles que não foram convidados, entre eles os mandatários de
Belarus, Síria, Venezuela, Afeganistão e Rússia. Houve, por fim, convites
ao Irã, à Coreia do Norte e à Nicarágua, mas apenas para os
embaixadores, e não para os chefes de Estado.
Este domingo é o último dia de velório aberto ao público. O tempo de
espera na fila chegou a 24 horas na sexta-feira (16). Amanhã, serão
ministradas duas cerimônias para o funeral da rainha —uma às 7h, no
horário de Brasília, para cerca de 2.000 convidados, e outra ao meio-dia,
para 800 convidados.
Bolsonaro, junto a outros chefes de Estado, participa da primeira
cerimônia, que acontecerá na Abadia de Westminster, no mesmo
quarteirão do local onde o corpo está sendo velado. Em seguida, o
presidente segue para uma recepção oferecida pelo Ministro dos
Negócios Estrangeiros do Reino Unido, James Cleverly, e embarca do
Reino Unido para Nova York (EUA), no fim da tarde pelo horário local.
Nos EUA, Bolsonaro irá discursar na Assembleia-Geral da ONU
(Organização nas Nações Unidas) na terça-feira (20).

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