Caminhoneiros cobram Bolsonaro e planejam greve maior que a de 2018

Categoria quer que presidente controle o preço do diesel e cumpra as promessas firmadas na greve anterior.

A greve nacional dos caminhoneiros, prevista para o próximo dia 1º de fevereiro, cresce em adesões. Segundo José Roberto Stringasci, presidente da Associação Nacional do Transporte Autônomos do Brasil (ANTB), a paralisação será maior do que a realizada em 2018. Insatisfeita, a categoria cobra o presidente Jair Bolsonaro – que apoiou o movimento de três anos atrás, mas não controla o preço do diesel, nem cumpre as promessas firmadas pelo governo Temer.

Caminhoneiros autônomos de todo o País marcaram uma nova assembleia, sem ainda data definida, para tentar angariar apoios e definir as pautas de uma nova greve. Na Região Sul, os trabalhadores falam, nos grupos de WhatsApp, em bloquear cidades e fábricas de alimentos, o que pode afetar o abastecimento de supermercados.

Em reunião online na noite desta quarta-feira (13), cerca de 50 lideranças debateram uma pauta que vai desde manifestações contra o projeto BR do Mar (que incentiva a navegação pela costa brasileira) ao piso mínimo do frete. Houve também reclamações contra a política de preços de combustíveis.

O Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC) manteve a convocação para a greve em 1º de fevereiro. Segundo o presidente da entidade, Plínio Dias, a definição da pauta é importante pôr na mesa e ser chamado para diálogo com os órgãos responsáveis. “Até agora, não fomos recebidos pelo governo – por isso a paralisação”, explicou ele aos demais motoristas.

“Como rodar com seu caminhão nesse País, com combustível caro, insumo caro?! Tudo aumenta, tudo sobre o frete está uma desgraceira”, afirmou Dias num grupo de WhatsApp. “Pessoal, 250 litros de diesel está quase R$ 1 mil. Não tem mais cabimento. De Curitiba para São Paulo sobra R$ 150 no final da viagem e está com o tanque seco, não sobra nada. Quem acha que a situação está ruim, pare dia 1º”, agregou.

Dias denunciou as “pessoas aí que ficam atrás de lideranças que se dizem de caminhoneiros alegando que não precisa parar. Isso é uma afronta. Às vezes, essas pessoas não têm problemas, não tem caminhão, não estão nem aí para a categoria que representam. Mas garanto que já estão aparecendo muitas pessoas para o dia 1º.”

As últimas tentativas de greve da categoria não vingaram por rachas entre as diversas entidades representativas no país. O governo Bolsonaro aposta justamente nessa divisão para tentar desmobilizar a greve. O interlocutor da categoria no governo tem sido o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas. O ministério questiona a representatividade da Associação Nacional do Transporte Autônomos do Brasil (ANTB).

“O Ministério da Infraestrutura (MInfra) esclarece que a Associação Nacional do Transporte Autônomos do Brasil (ANTB) não é entidade de classe representativa para falar em nome do setor do transporte rodoviário de cargas autônomo e que qualquer declaração feita em relação à categoria corresponde apenas à posição isolada de seus dirigentes”, disse a pasta por meio de nota.

Embora reconheça a necessidade de entender o “caráter difuso e fragmentado de representatividade do setor”, o ministério provoca: “Nenhuma associação isolada pode reivindicar para si falar em nome do transportador rodoviário de cargas autônomo, e incorrer neste tipo de conclusão compromete qualquer divulgação fidedigna dos fatos referentes à categoria”.

Segundo a pasta, há uma agenda permanente de diálogo com as principais entidades representativas da categoria por meio do Fórum do Transporte Rodoviário de Cargas (TRC), além de reuniões constantes com lideranças da categoria: “O restabelecimento do fórum, desde 2019, tem sido o principal canal interativo entre governo e setor e qualquer associação representativa que deseje contribuir para a formulação da política pública pode requerer a sua participação para discutir eventuais temas de interesse da categoria.”

Integrante do Conselho Nacional (o CNTRC), a ANTB representa cerca de 4.500 caminhoneiros e não vê problema de realizar uma greve em plena crise sanitária decorrente do novo coronavírus. “A pandemia nunca foi problema. A categoria trabalhou para cima e para baixo durante a pandemia. Muitos caminhoneiros ficaram com fome na estrada com os restaurantes fechados, mas nunca pararam”, diz Stringasci.

Segundo ele, a alta do preço do diesel é o principal motivador da greve. Mas conquistas obtidas na paralisação de 2018 – que chegou a prejudicar o abastecimento em várias cidades – também estão na lista de dez itens que estão sendo reivindicados ao governo para evitar a greve. “Esse (diesel) é o principal ponto. O sócio majoritário do transporte nacional rodoviário é o combustível (50% a 60% do valor da viagem) Queremos uma mudança na política de preço dos combustíveis”, afirma Stringasci.

Ainda monopólio da Petrobras, a produção de combustíveis no Brasil passou por nefastas mudanças em 2016, quando foi instituído o PPI (Preço e Paridade de Importação), praticado até hoje. Na época, os reajustes eram praticamente diários, seguindo a flutuação do mercado internacional. Agora, obedecem apenas a lógica da paridade, sem prazo determinado.

“A Petrobras não foi criada para gerar riqueza para meia dúzia, a Petrobras é nossa e tem que ajudar o povo brasileiro e o Brasil”, afirma Stringasci. “Queremos preços nacionais para os combustíveis, com reajuste a cada seis meses ou um ano. Essa é uma das maiores lutas nossas desde 2018, e até antes, e até hoje”, destaca.

Outras reivindicações são o preço mínimo de frete, parado no Supremo Tribunal Federal (STF), após um recurso do agronegócio, e a implantação do Código Identificador de Operação de Transporte (Ciot), duas conquistas de 2018. Para resolver a questão e evitar uma greve, os caminhoneiros querem uma reunião com a presença do próprio presidente Bolsonaro. “A categoria apoiou ele em 100% praticamente nas eleições (presidenciais de 2018). Então, agora exige a presença dele na reunião”.

Stringasci diz que a greve já tem 70% de apoio da categoria e de parte da população, diante de preços em alta não apenas no diesel, mas em outros combustíveis, alimentos e outros itens que elevaram a inflação em 2020. “Creio que a greve pode ser igual a 2018. A população está aderindo bem, os pequenos produtores da agricultura familiar também. Se não for igual, eu creio que vai ser bem mais forte do que 2018”, conclui.

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