Com Lula, Brasil rompe isolamento bolsonarista e se reaproxima do mundo

País retomará tradição diplomática e posição de destaque no plano
internacional com política aberta ao diálogo e à resolução de problemas

como a fome e a crise ambiental

A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) gerou alívio não apenas para
a maioria da população, mas também para lideranças políticas de outros
países que encaram o novo governo como um retorno do Brasil à
democracia e ao protagonismo internacional com a retomada do diálogo
e da tradição diplomática brasileira.
O freio ao avanço da extrema-direita bolsonarista, a volta da relação
ativa e altiva do país com o mundo, a busca conjunta pela preservação
ambiental e pela mitigação da crise climática, a superação da miséria, o
fortalecimento da América Latina e de relações comerciais estratégicas
estão entre os aspectos centrais dessa nova fase do Brasil no cenário
mundial.
“Os dois primeiros mandatos do Lula foram pautados por uma política
externa bastante ativa e alinhada às grandes questões globais da época,
não apenas sendo pautada pelo sistema internacional, mas também
propondo mudanças, como a agenda de combate à fome, que levou o
Programa Fome Zero a ser exportado para outros países. Nós perdemos,
nos últimos anos, esse tipo de inserção internacional. Então, é muito
possível que, aos poucos, retomemos essa posição”, explica Rodrigo
Gallo, cientista político, coordenador do curso de pós-graduação em
Política e Relações Internacionais da Fundação Escola de Sociologia e
Política de São Paulo (Fespsp).
Gallo explica que há um trabalho duro de realinhamento, dado o
desgaste internacional promovido ao longo da gestão Bolsonaro, porém,
as sinalizações recebidas nos últimos dias são muito positivas. “Dá a
impressão de que determinados chefes de Estado esperavam pela
eleição do Lula para poder retomar um diálogo mais favorável com o
Brasil. Isso é muito significativo, sobretudo porque alguns convites
surgiram muito rapidamente”, pondera.
De fato, tão logo foi anunciado o resultado da eleição, presidentes e
chefes de Estado de dezenas de países correram para felicitar Lula e o
povo brasileiro pela vitória. Joe Biden, presidente dos EUA; Rishi Sunak,
primeiro-ministro do Reino Unido; Alberto Fernandez, presidente da
Argentina, com quem Lula teve sua primeira agenda como presidente
eleito; Marcelo Rebelo de Sousa, presidente de Portugal; Vladimir Putin,
presidente da Rússia; Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia; Olaf
Scholz, chanceler da Alemanha; Emmanuel Macron, presidente da
França; Pedro Sánchez, premiê da Espanha; Josep Borrell,
representante da União Europeia para assuntos internacionais; Gabriel
Boric, presidente do Chile, são alguns dos líderes que enviaram suas
congratulações.

Xi Jinping, presidente da China, país tratado de maneira lamentável pelo
governo de Jair Bolsonaro, salientou: “Estou disposto a trabalhar com o
presidente eleito Lula, de uma perspectiva estratégica e de longo prazo,
para planejar e promover conjuntamente a um novo patamar a parceria
estratégica abrangente entre a China e o Brasil, em benefício dos dois
países e de seus povos”.
Além disso, tanto a Noruega quanto a Alemanha sinalizaram que estão
dispostas a retomar o financiamento do Fundo Amazônia sob o governo
Lula, que havia sido suspenso durante a gestão de Bolsonaro, marcada
pela degradação ambiental e o ataque aos povos indígenas.
Vale destacar ainda que mesmo não empossado, Lula já foi convidado
pelo presidente egípcio Abdel Fattah El Sisi para participar da Cúpula
das Nações Unidas para o Clima (COP27), que acontece entre 7 e 18 de
novembro em Sharm el-Sheik.

Nova fase na diplomacia
A aproximação de tantos países evidencia o isolamento de Bolsonaro no
plano internacional e a imagem positiva que o Brasil readquire com a
mudança de comando após quatro anos de negacionismo,
obscurantismo, autoritarismo, mentiras e péssima condução das relações
internacionais.
Para Rodrigo Gallo, a principal diferença entre Lula e Bolsonaro nesse
campo diz respeito à condução da própria diplomacia em si. “A gestão
Bolsonaro, direta ou indiretamente, usou a política externa como um
‘espaço’ de discussão de questões internas que mais interessavam aos
seus próprios eleitores, e não à comunidade internacional”, aponta.
Ele lembra que os discursos nas aberturas da Assembleia Geral da ONU
houve questões “incompreensíveis para quem não vive a realidade
brasileira, e isso gera ruídos. Fora que, em determinados momentos,
houve ofensas à Argentina e à China por razões ideológicas, além de um
destrato aos Estados Unidos após a eleição de Biden. Só lembrando que
esses são nossos três maiores parceiros no comércio exterior. Isso sem
falar em momentos de ofensa contra a França e contra a União Europeia
por conta de divergências na agenda ambiental, que para os europeus é
algo central”.

Gallo conclui ressaltando acreditar que “veremos um realinhamento da
nossa política externa, de modo que ela fique mais consonante com a
tradição do Itamaraty. Isso, sem dúvidas, nos aproximará novamente das
grandes questões globais, da América Latina e da China”.

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