Crédito do Trabalhador já teve mais de 40 milhões de consultas

Para o economista Diogo Santos, somente por ser uma operação de
baixo risco, com o desconto diretamente no salário é que “os bancos

aceitam reduzir os juros no Brasil”, por  Murilo da Silva.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A procura pelo “Crédito do Trabalhador” tem sido grande nos primeiros
dias de funcionamento da modalidade que oferece empréstimos com

juros baixos aos trabalhadores com carteira assinada. De sexta (21) até
o domingo (23), o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), pela
Dataprev, registrou mais 40.180.384 simulações de empréstimo, com
4.501.280 propostas solicitadas e 11.032 contratos realizados.
Segundo o ministro do MTE, Luiz Marinho, não é necessário pressa, pois
a validade das propostas do consignado privado permite o tempo
suficiente para análise, sendo que em até 24 horas as instituições
financeiras habilitadas devem enviar as propostas, portanto, é
recomendado esperar até que todas as ofertas cheguem.
Ao Portal Vermelho o economista e doutorando em Economia pela
UFMG, com período de pesquisa na Universidade de Leeds na
Inglaterra, Diogo Santos, observa que o interesse pelo programa é
intenso uma vez que o grau endividamento das famílias brasileiras é alto.
“A possibilidade de acessar um empréstimo mais barato para pagar
outras dívidas com taxas de juros mais elevadas, atrai. É bom o governo
conseguir de alguma forma reduzir a taxa de juros que o trabalhador
paga. Contudo, do ponto de vista mais geral, esse programa só se faz
necessário porque o país vive sobre o domínio de uma oligarquia
financeira que mantém taxas de juros muito elevadas, impedindo assim o
acesso ao crédito barato pela população”, adverte.

O economista Diogo Santos (Foto: Ipead/Divulgação)
O economista ainda lembra que esta medida deve ser entendida também
pelo contexto político, em que o governo luta para contornar as
dificuldades que o mercado financeiro impõe ao seu trabalho ao
pressionar pelos aumentos seguidos da taxa básica de juros (Selic).
“O governo está jogando contra o tempo: popularidade em baixa, Banco
Central elevando taxa de juros, arcabouço fiscal batendo no teto das
possibilidades de gasto público e eleições se avizinhando. Nesse
cenário, o governo está tomando as medidas possíveis para estimular o
crescimento econômico e impedir uma piora mais acentuada. Ou seja, é
uma forma de contornar os limites impostos sobre a ação do governo. No
curto prazo aparentemente é o que é possível fazer, mas em termos de
desenvolvimento essa combinação não é promissora”, enxerga Santos.
Crédito mais barato

De acordo com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em um crédito
pessoal o trabalhador pagava mais de 6% de juros ao mês, mas agora
poderá pagar algo mais próximo ao que aposentados e pensionistas já
estavam acostumados, algo próximo de 2,5%. Em  entrevista, o ministro
explicou:  “O banco capta um pouquinho mais do que 14,25% ao ano,
porque tem que pagar um pouco a mais para captar, vamos supor que
pague 15% ao ano, 16% ao ano, e empresta para o trabalhador no
crédito pessoal a 6% ao mês. Então em três meses o trabalhador pagou
todo o juro que o banco está pagando para captar e, no entanto, o banco
tem os outros nove meses para receber o juro do trabalhador.”
Tire suas dúvidas sobre o programa “Crédito do Trabalhador”
Nessa linha, Diogo Santos lembra que o crédito à pessoa física no Brasil
é a modalidade mais cara: “Em média, a taxa de juros do crédito à
pessoa física está em torno de 34% ao ano. É elevadíssima. Logo, uma
medida que consegue reduzir os juros terá muita atenção e tende a ser
muita procura. Com a renda crescendo, como está ocorrendo no
momento, as pessoas buscam reorganizar suas dívidas, sair da
inadimplência e entrar em novos financiamentos para a compra de bens
duráveis, como automóveis e eletrodomésticos. Porém, como a Selic
[taxa de juros] está muito alta, os juros cobrados pelos bancos também
sobem muito, e, desse modo, restringe as possibilidades de empréstimos
e financiamento das famílias”, elucida.
De acordo com o economista, para os trabalhadores a grande novidade
do programa é não precisar de convênio entre a empresa em que o
trabalhador está empregado e um banco para se ter acesso ao
consignado, como era antes. Com isso, a obtenção de empréstimo com
juros menores fica facilitada ao trabalhador, com o desconto em folha.
“O alcance é muito maior. Para os bancos, a grande vantagem é ampliar
o mercado potencial de uma operação de baixo risco, uma vez que as
parcelas do empréstimo são descontadas diretamente do salário do
trabalhador. Esse é o único jeito que os bancos aceitam reduzir os juros
no Brasil, dando mais garantias a eles”, avalia.
Para a oferta do crédito até 10% do saldo no FGTS (Fundo de Garantia
do Tempo de Serviço) pode ser utilizado como garantia, ou 100% da
multa rescisória em caso de demissão. Além disso, a margem
consignável é de 35% do salário.
Com estes mecanismos, o governo assegura que o trabalhador não
comprometa o grosso da renda à medida que os bancos fiquem ainda
com opções de retorno do empréstimo.

Questionado sobre o risco de endividamento dos trabalhadores, Diogo
indica que agora, com o emprego em alta, este cenário é distante.
Porém, em caso de mudanças, o risco pode existir, ainda que o principal
vilão continue sendo as taxas dos bancos a despeito da redução
proporcionada pelo consignado.
“Certamente traz risco de o endividamento se elevar e o trabalhador ter
uma parcela grande da renda comprometida com dívidas, não só do
consignado, como também do cartão de crédito e eventuais
parcelamentos de financiamentos. Esse risco é minimizado agora porque
a economia está com baixo desemprego. Contudo, em um cenário de
recessão, esse pode se tornar um problema grande. Crédito ao
consumidor não é ruim, o problema é que mesmo com a redução de
juros proporcionada pelo consignado, as taxas cobradas pelos bancos
ainda serão muito altas, por conta da política monetária”, completa.
Fonte: Vermelho

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