Gabrielli: Tarifaço é ação imperialista para desestabilizar e derrotar Lula
Em entrevista ao Entrelinhas Vermelhas, ex-presidente da Petrobras
analisa ofensiva dos EUA, projeta impacto econômico limitado mas
alerta para risco político e defende projeto nacional de
desenvolvimento com reformas estruturais.
por Cezar Xavier
Publicado 25/09/2025 19:10 | Editado 25/09/2025 19:12
Lula e José Sergio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras.Foto: Ricardo
Stuckert / PR
O economista Sérgio Gabrielli classificou o anúncio de tarifas de 50%
sobre produtos brasileiros por Donald Trump como uma “ação
imperialista” com objetivo essencialmente político. Em entrevista ao
programa Entrelinhas Vermelhas, ele argumentou que a medida
visa “reduzir a possibilidade da esquerda continuar no governo a
partir de 2026” e desestabilizar o país.
“A discussão deixou de ser comercial e se deslocou para o centro do
poder americano, o Departamento de Estado. A motivação deles é
desestabilizar o governo, forçar o Judiciário a se dobrar e recuar em
políticas”, afirmou Gabrielli, destacando o apoio aberto de setores da
direita brasileira a Trump.
Assista a íntegra da entrevista:
Impacto econômico limitado, efeito setorial severo
Gabrielli projetou que o impacto macroeconômico será administrável,
afetando cerca de 1,5% do PIB brasileiro, já que 70% das exportações
para os EUA estão isentas. No entanto, alertou para consequências
graves em setores específicos:
Armas: Dificuldade de encontrar mercados alternativos;
Frutas e móveis: Encontrariam alternativas com dificuldade;
Carnes: Teriam mais facilidade para realocação.
O economista defendeu que o governo adote políticas setoriais para
mitigar os efeitos, mas reforçou que a verdadeira batalha é política e
de soberania.
BRICS: tiro sairia pela culatra
Questionado se o ataque a Brasil e países outros BRICS (Índia, África
do Sul e Rússia) visaria enfraquecer o bloco, Gabrielli avaliou o
oposto. Ele citou o recente anúncio do gasoduto Sibéria Soberana
entre Rússia e China como exemplo de como as ações de Trump
podem fortalecer a integração entre os países do grupo.
“Se o Brasil continuar nesse processo de autonomia e altivez, e China,
Rússia e Índia se unificarem, os BRICS saem fortalecidos”, projetou,
destacando que Lula mantém diálogo com todos os líderes do bloco.
O Projeto Nacional de Desenvolvimento: uma necessidade
urgente
Para Gabrielli, o Brasil carece de um projeto nacional claro, como a
China, a Rússia e a Índia. Ele criticou a desindustrialização
precoce desde os anos 1980 e a financeirização da economia, que
tornou a indústria dependente do capital internacional.
O economista elogiou a abordagem do programa Nova Indústria
Brasil, por ser orientada a “missões” e demandas internas, mas
alertou que a política ainda é muito dependente de instrumentos de
mercado e condicionada por juros altos e câmbio volátil.
“Precisamos desenvolver um projeto nacional integrado, com novos
setores, maior uso de computação e atenção a questões climáticas.
Não adianta dizer que ‘o agro é pop’ e ignorar o resto”, afirmou.
Big Techs: o novo campo de batalha geopolítico
Gabrielli destacou a mudança radical no capitalismo global: das dez
maiores empresas do mundo em 2010, seis eram petroleiras ou
industriais; hoje, todas são big techs. Ele alertou que o Brasil corre o
risco de se tornar um mero exportador de recursos para essa nova
economia.
“Se formos exportar hidrogênio como amônia, estaremos exportando
sol, água e vento. O valor agregado ocorreria na Europa. Precisamos
densificar cadeias produtivas aqui”, defendeu, citando a necessidade
de desenvolver aço verde, cimento verde e combustíveis sintéticos.
Reformas estruturais e a disputa por 2026
Para viabilizar um projeto nacional, Gabrielli listou reformas urgentes:
Tributária: Sistema menos regressivo, “colocando o pobre no
orçamento e o rico na tributação”;
Macroeconômica: Redução de juros e controle do câmbio para
reduzir ganhos financeiros da elite;
Industrial: Adicionar valor às exportações de commodities;
Social: Fortalecer SUS, salário mínimo e transferência de renda.
O economista alertou para os riscos eleitorais de 2026, com a
extrema direita focando no Senado para dificultar governos
progressistas. “Governar a partir de 2026 será mais difícil. Precisamos
de força política para mudar a macroeconomia”, concluiu, enfatizando
que a disputa será diária e permanente.
O programa Entrelinhas Vermelhas vai ao ar às quintas-feiras pela TV
Vermelho, YouTube e Spotify.
Fonte: Vermelho

