Lula confirma candidatura e promete aumento do salário mínimo e anistia no Fies.

Ex-presidente discursou em evento da Força Sindical e chamou o presidente Jair Bolsonaro de “genocida”

Por Ricardo Mendonça, Valor — São Paulo

Embora costume dizer em entrevistas que ainda não é e nem sabe se será candidato em 2022, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou expressamente hoje, a uma plateia de sindicalistas, que está se dispondo a disputar a eleição presidencial novamente para fazer um mandato melhor do que os dois anteriores, entre 2003 e 2010.

Em meio a lamentos sobre o enfraquecimento do sindicalismo e convocações para que ergam a cabeça e se aproximem mais dos trabalhadores na rua, Lula ensaiou algumas promessas eleitorais. Falou em retomar a política de aumento vigoroso do salário mínimo e acenou com uma anistia aos estudantes devedores do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies).

O ex-presidente discursou durante cerca de 50 minutos como convidado do 9º Congresso da Força Sindical, em São Paulo. A entidade, que reelegeu seu presidente, Miguel Torres, para mais um mandato, aprovou apoio ao petista na eleição do ano que vem. Representantes de outras centrais sindicais que falaram antes do petista foram unânimes em repudiar o governo Jair Bolsonaro e manifestar apoio ao ex-presidente.

Em seu discurso, Lula citou dados econômicos e sociais para dizer que a situação do país hoje é muito difícil. “Não estamos vivendo o melhor momento que a classe trabalhadora já viveu”, resumiu.

Ele dedicou boa parte de sua fala para falar das dificuldades criadas pelas mudanças na estrutura de trabalho na sociedade, pela reforma trabalhista e pela ação de uma maioria no Congresso que julga ser adversária dos trabalhadores.

Em mais de uma ocasião citou como exemplo negativo das condições de trabalho a situação de entregadores vinculados a aplicativos. “Fica na moto sentindo cheiro de comida e passando fome”, disse.

Outra parte do discurso foi usada para exaltar números de seu governo, ressaltar que administrou o país com responsabilidade fiscal e dizer que provou ser “possível fazer diferente”.

Um esboço de autocrítica foi feito ao mencionar R$ 540 bilhões de desonerações concedidos pela ex-presidente Dilma Rousseff. Foi um gasto que, segundo ele, que não gerou os empregos esperados.

O único possível rival de 2022 citado foi Bolsonaro. Entre outras críticas, Lula reclamou da atuação do presidente no combate à covid-19. “Temos um presidente que faz festa de motocicleta todos os dias, mas não teve coragem de visitar um hospital”, afirmou, antes de responsabilizá-lo por metade dos 630 mil mortos pela doença e chama-lo de “genocida”.

Em outro trecho, Lula defendeu o passaporte da vacina — ontem descartado pelo Ministério da Saúde —, a continuidade do uso de máscaras e, se for necessário, o cancelamento de eventos que geram aglomeração, como o Carnaval e abertura de estádios para jogos de futebol.

Em nenhum momento o ex-presidente falou do ex-juiz Sergio Moro, pré-candidato pelo Podemos, dos seus mais de 500 dias de prisão em Curitiba ou da anulação dos processos que respondeu.

Lula também não citou o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, que está deixando o PSDB e tem sido citado como possível vice em sua chapa.

No início do discurso, porém, pareceu ter transmitido um recado cifrado sobre o tema. Falou que política é como “uma caixinha de surpresas” e lembrou de como era forte a rivalidade entre dois sindicalistas que hoje dividiam o palco da Força Sindical: o criador da entidade, Luiz Antônio de Medeiros, e o dirigente João Carlos Gonçalves, o Juruna.

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