Na Presidência do G20, Brasil quer aliança global contra a fome e a pobreza

Lula quer deixar um legado permanente no G20 em defesa da segurança
alimentar. O ministro Wellington Dias tem encabeçado a tarefa de convencer os parceiros.

O Brasil está planejando utilizar sua presidência do G20 neste ano como
uma oportunidade para estabelecer a Aliança Global Contra a Fome e a

Pobreza, uma iniciativa que visa envolver países comprometidos com a
implementação de políticas públicas específicas para combater esses
desafios socioeconômicos. Sob essa aliança, os membros teriam acesso
a recursos para apoiar suas iniciativas.
Coordenada pela força-tarefa para Aliança Global contra a Fome e a
Pobreza no âmbito do G20, a proposta visa elevar a importância global
do tema e ajudar os países a alcançarem os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas até 2030,
particularmente os relacionados à erradicação da pobreza e da fome.
A proposta da aliança foi apresentada, em dezembro, na reunião entre
negociadores e vice-ministros das Finanças. Segundo envolvidos, a
recepção foi positiva.
A criação dessa aliança está sendo liderada pela assessoria
internacional do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social e
pela Coordenação-Geral de Segurança Alimentar e Nutricional do
Ministério das Relações Exteriores, com apoio técnico do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
“A aliança será um mecanismo prático para angariar recursos financeiros
e conhecimento onde são mais abundantes e canalizá-los para onde são
mais necessários. Não será possível fazer isso sem o apoio das Nações
Unidas”, disse o ministro Wellington Dias na 62ª Sessão da Comissão,
em Nova York.
De acordo com Fabio Veras Soares, diretor de Estudos Internacionais do
Ipea, a aliança tem sido priorizada como uma das principais iniciativas da
presidência brasileira no G20, refletindo o compromisso do presidente
em abordar questões relacionadas à pobreza.
A proposta da aliança envolve a contribuição de países com recursos
financeiros, conhecimento técnico ou demandas específicas para
implementar políticas contra a fome e a pobreza. Embora ainda em fase
de elaboração, a aliança não buscará duplicar esforços, mas sim
oferecer políticas públicas comprovadamente eficazes para adoção.
A ideia é apresentar um programa de transferência de renda focalizada e
condicionada às famílias, inspirado no Bolsa Família. Outros programas
inspirados em iniciativas como o Programa Nacional de Alimentação
Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) também
devem ser oferecidos.
Embora a composição e as diretrizes finais da aliança ainda não tenham
sido definidas, espera-se que ela seja uma plataforma independente,
mesmo após a presidência brasileira no G20. A proposta será detalhada

em uma reunião da força-tarefa marcada para o dia 21 de fevereiro, com
delegados de 57 países e organizações como
Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional, Organização
Internacional do Trabalho, Organização Mundial de Saúde e Organização
para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico.
Para que a aliança seja bem-sucedida, será fundamental o engajamento
e o comprometimento dos países membros, além do aporte de recursos
financeiros. O que pode atrapalhar é o foco dos países ricos em
segurança, com investimentos voltados para conflitos na Ucrânia,
Palestina e Taiwan. As questões ambientais também absorvem essa
atenção prioritária.
Apesar de desafios e debates em curso, a proposta da aliança
representa um esforço significativo do Brasil para liderar iniciativas
globais contra a pobreza e a fome, buscando promover um
desenvolvimento sustentável e equitativo em nível internacional.
O relatório anual da FAO de 2023 mostra que o número de pessoas que
passam fome no mundo cresceu em 122 milhões de pessoas em relação
a 2019.
Mudança climática e fome
O ministro Wellington Dias abriu caminho para a proposta de criação da
Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, ainda em novembro passado
numa cúpula sobre o tema em Londres. Ele tem destacado a importância
de uma abordagem global e coordenada para enfrentar esses desafios,
mencionando a experiência positiva do Brasil na redução da fome
durante os primeiros governos do atual presidente. Ele lamentou os
retrocessos causados pela pandemia e pela gestão equivocada nos
últimos anos, que resultaram em um aumento alarmante da desnutrição
e da insegurança alimentar no país.
O ministro enfatiza o compromisso renovado do governo em mudar esse
cenário e erradicar a fome no Brasil, bem como apoiar essa causa no
mundo, revertendo a tendência alarmante de aumento da fome e da
pobreza desde o início da pandemia.
Dias também associa os efeitos das mudanças climáticas no Brasil,
apontando para a pior seca registrada na história da região amazônica e
outros eventos extremos em diferentes regiões do país, à questão da
segurança alimentar. Ele destaca a importância de políticas sociais
abrangentes para enfrentar esses desafios e construir resiliência nas
comunidades mais vulneráveis.

Entre os programas citados, Dias destacou o fortalecimento do programa
Bolsa Família e do Cadastro Único, que são fundamentais para proteger
os mais pobres em momentos de crise. Ele também mencionou o
programa de navios-tanque como um exemplo eficaz na prevenção de
desastres, redução da pobreza e adaptação às mudanças climáticas.

Fonte: Vermelho

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