Derrotas da Lava Jato podem favorecer candidatura progressista em Curitiba

Capital paranaense tem cenário embolado para a disputa à prefeitura, mas revezes acumulados por mal uso da operação, além de avanço da frente ampla, podem mudar quadro local.

A corrida eleitoral deste ano tem uma dupla missão para os setores
progressistas e de esquerda. Além de buscar responder às necessidades
da população no âmbito local, como ocorre em qualquer pleito municipal,
a disputa de 2024 traz também o desafio de dar continuidade à luta
contra a extrema direita. Em Curitiba, essa batalha também está
colocada.
A capital paranaense figura entre os exemplos mais desafiadores.
Mesmo considerando os fatos que vieram à tona nos últimos anos e que
mostraram a parcialidade e a politização da Operação Lava Jato — como
o conluio entre procuradores e o então juiz Sérgio Moro —, o
“lavajatismo” continua ativo, especialmente em seu “estado-berço”.
Nessa conjuntura, a presidenta do PCdoB de Curitiba, Alzimara Bacellar,
defende a necessidade de consolidar e fortalecer, no plano local, uma
frente ampla capaz de vencer a extrema direita, a exemplo do que
ocorreu na disputa presidencial. “Temos que firmar nossa candidatura de
frente ampla e fazer todos os esforços para que a gente possa colher um
bom resultado neste ano”, diz.

Por outro lado, não é possível ignorar que os destinos do ex-procurador
Deltan Dallagnol e do ex-juiz Sérgio Moro podem influenciar o cenário
local, fragilizando setores da direita que, em geral, apelam para o
discurso moralista e punitivista.
O ex-procurador e ex-deputado Deltan Dallagnol, que figura como pré-
candidato à prefeitura de Curitiba pelo Novo, perdeu seu mandato após
decisão tomada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), tendo como base
a Lei da Ficha Limpa. O centro da acusação é que Dallagnol pediu
exoneração do cargo de procurador da República como forma de driblar
sindicâncias para apurar reclamações sobre sua conduta na Operação
Lava Jato.
Além disso, a principal figura da operação, o ex-juiz e atual senador
Sérgio Moro (União Brasil-PR), será julgado em abril por abuso de poder
econômico na pré-campanha eleitoral de 2022 e também pode ser
cassado, juntamente com seus suplentes.
Caso isso se confirme, além dos efeitos que pode ter para a direita, a
hipótese de a eleição suplementar para a escolha de novo senador ser
realizada juntamente com a municipal também poderá bagunçar o
tabuleiro local.

Em meio a um cenário ainda incerto, pesquisa recente do Instituto Radar
Inteligência mostrou um quadro embolado para a disputa em Curitiba,
mesmo considerando a margem de erro de 3,5 pontos percentuais. No
principal cenário testado, o atual vice-prefeito Eduardo Pimentel (PSD)
—apoiado pelo prefeito Rafael Greca e pelo governador Ratinho Jr.,
ambos do mesmo partido — aparece com 15,8%.
O deputado federal e ex-governador Beto Richa (PSDB) tem 13,1%. Em
terceiro, aparece o ex-prefeito e deputado federal Luciano Ducci (PSB),
que tem 12,3%. Os debates estão em aberto, mas ao que tudo indica, ele
poderá ter o apoio de partidos de esquerda como PT e PCdoB que,
juntamente com o PV, formam a Federação Brasil da Esperança.
Mesmo com a cassação, Dallagnol foi considerado na pesquisa e marca
11,5% das intenções de voto, seguido pelo deputado estadual Ney
Leprovost (União Brasil), com 10,9%. O restante dos entrevistados, que
soma 20%, disse que não sabia, não votaria em nenhum, anularia ou
votaria em branco.
Frente ampla
“O PCdoB de Curitiba vem, desde antes da eleição do presidente Lula,
trabalhando essa questão da frente ampla. Procuramos todos os partidos
porque a importância dessa aliança estava clara para nós do PCdoB,
mas ainda não estava muito clara para outros setores. Creio, no entanto,
que depois das eleições presidenciais e, sobretudo, dos atos de 8 de
janeiro, a necessidade da frente ampla ficou mais explícita e há maior
entendimento sobre a frente”, lembra Alzimara Bacellar.
Ela explica que, no entendimento do partido, a candidatura da Frente
Ampla se expressa em torno de Luciano Ducci, cujo partido está na base
de apoio do presidente e tem a vice-presidência, com Geraldo Alckmin.
“Enfim, está tudo convergindo”, pontua Alzimara.
A dirigente comunista argumenta que o nome de Ducci “coloca o nosso
campo com possibilidade real de ser competitivo e chegar no segundo
turno”.
Para além das questões locais, ela sustenta que é preciso mostrar as
realizações do governo Lula para a população, destacando o
compromisso do setor popular, progressista e de esquerda com a vida
real das pessoas, o que tem se traduzido em melhorias em áreas como
educação, saúde, infraestrutura, emprego e renda. “A campanha eleitoral
é um momento em que a gente está nos bairros, alargando o nosso
contato com a população”, diz Alzimara.

Do ponto de vista do projeto do PCdoB, o objetivo central é retomar
espaço na Câmara de Curitiba — o último vereador comunista da cidade
foi Luizão Stellfeld, eleito em 2004. “Esse é o nosso foco central”, afirma
a presidenta.
Para isso, estão definidos dois nomes:  Amabile Marchi, professora e
presidenta da União dos Pais pelo Autismo, que foi candidata a deputada
federal nas últimas eleições, e Wladimir Urban, ativista da área da
cultura. “Vamos participar com esses dois candidatos e lutar pela
formação de uma frente ampla que nos permita vencer as eleições e
mudar a cara de Curitiba”, finaliza Alzimara.

Fonte: Vermelho

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