Indígenas temem retaliações de garimpeiros e pedem proteção

Um levantamento de grupos indígenas aponta que ao menos 18 líderes
estão ameaçados após ações contra o garimpo ilegal no Pará
por  Bárbara Luz

Terra Indígena Munduruku, no Pará, tem 2.382 hectares e é um dos três solos
indígenas que concentram 95% do garimpo ilegal no país | Foto: Adi
Spezia/Cimi
Um levantamento feito por grupos indígenas apontou que ao menos 18
líderes munduruku estão sob ameaça de morte após as recentes
desmobilizações do garimpo em terras yanomami, em Roraima.
Lideranças indígenas destacam que retaliações normalmente ocorrem
após a retirada de garimpeiros.
Na semana anterior, líderes yanomami do Amazonas criticaram a
entrada de garimpeiros na região do Pico da Neblina.

Localizada no alto curso do Rio Tapajós, no Pará, a terra indígena
Munduruku tem 2.382 hectares e é um dos três solos indígenas que
concentram 95% do garimpo ilegal no país, juntamente com os territórios
yanomami e kayapó. A região, onde a atividade intensificou-se a partir de
2016, equivale a dois mil campos de futebol.
Entre as lideranças ameaçadas que tiveram de deixar suas casas por
pressão de criminosos está Maria Leusa Munduruku, coordenadora da
Associação das Mulheres Munduruku Wakoborũn. Ela diz que tomou a
decisão de se esconder para se manter em segurança, pela primeira vez,
durante o governo de Jair Bolsonaro. Em maio de 2021, a coordenadora
viu sua casa, no município de Jacareacanga, sudoeste do Pará, ser
incendiada por invasores da Terra Indígena.
Combate ao garimpo
De acordo com o Instituto Socioambiental (ISA), em maio de 2021,
lideranças munduruku acionaram organizações parceiras para denunciar
o incêndio à pequena aldeia indígena Fazenda Tapajós. Os garimpeiros,
autores do crime, reagiram logo após a Operação Mundurukânia, que
combatia garimpos clandestinos na região.
Essa ação contou com agentes da Polícia Federal (PF), Força Nacional,
do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama) e da Fundação Nacional do Índio (Funai). De acordo
com o MapBiomas, somente na TI Munduruku, há 21 pistas de pouso, o
que aviva o alerta para a presença de garimpeiros no local, a maioria
delas, cerca de 80%, está a uma distância de 5 quilômetros ou menos de
algum garimpo.
Para a antropóloga Rosamaria Loures, que também atua como
assessora do povo munduruku, “é necessária uma articulação mais bem
feita nesse sentido, para que a gente possa salvaguardar nossas
lideranças e seu território. A autodemarcação e a fiscalização são as
duas ações mais importantes do movimento, por exemplo, na agenda
deste ano”, disse.
Devido a retaliação por parte dos criminosos, Rosamaria diz ainda que a
atuação de forças de segurança do governo deve ser contínua, e não
apenas em operações isoladas. “Acaba que essas operações que estão
acontecendo na Mundurukânia [Vale do Tapajós] trazem, posteriormente,
muitos problemas para as lideranças”, diz.
Já para Maria Leusa, os ataques do ex-presidente Jair Bolsonaro aos
indígenas dificultaram a resistência dos munduruku. “A primeira ameaça
foi do próprio governo [Bolsonaro], quando ele falava que não ia

demarcar nenhum centímetro de terra”, afirma a líder, que, em 2018, foi
secretária de Assuntos Indígenas do município de Jacareacanga.
“E, depois, os invasores aproveitam esse discurso de maldade para
tentar nos intimidar. Eles vão lá, entram com tudo, com escavadeira,
usam os parentes com a corrupção, os nossos parentes que caem na
ganância. Isso foi uma realidade bem triste. Muitos parentes foram para a
ganância”, desabafa.

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