Lula critica “amarras” do FMI e defende moeda própria dos Brics

Para Lula, Banco dos Brics banco deve ajudar especialmente “países em

desenvolvimento que acumulam dívidas impagáveis”

A posse da brasileira Dilma Rousseff no comando do Novo Banco de
Desenvolvimento, o Banco dos Brics, nesta quinta-feira (13), em Xangai,
foi marcada pela exaltação à autonomia da instituição. Em seu discurso,
o presidente Lula (PT) lembrou que o banco, criado em 2014 pelos Brics
(Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), é independente de
instituições financeiras multilaterais lideradas pelos Estados Unidos e
baseadas no dólar, como o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Para Lula, o viés social do banco, que tem se destacado pelo combate à
desigualdade, é outro diferencial. “Pela primeira vez um banco de

desenvolvimento de alcance global é estabelecido sem a participação de
países desenvolvidos em sua fase inicial”, frisou. Segundo ele, o Banco
dos Brics está “livre das amarras e condicionalidades impostas pelas
instituições tradicionais às economias emergentes – e com a
possibilidade de financiamento de projetos em moeda local”.
O presidente brasileiro afirmou que o banco deve ajudar especialmente
“países em desenvolvimento que acumulam dívidas impagáveis” –
aqueles que foram mais afetados por fenômenos como as mudanças
climáticas, a pandemia de Covid-19 ou mesmo guerras. Como
contraponto negativo, Lula citou o próprio FMI, que, neste momento,
tenta “asfixiar” a economia da Argentina. Essas instituições, de acordo
com Lula, “se sentem no direito de mandar” e transformam países em
“reféns daquele que emprestou dinheiro”.
“Nenhum governante pode trabalhar com uma faca na garganta porque
está devendo. Não cabe a um banco ficar asfixiando as economias dos
países como está fazendo com a Argentina o Fundo Monetário
Internacional”, disparou. “Não podemos ter uma sociedade sem
solidariedade, sem sentimento. Temos que voltar a ser generosos –
vamos ter que aprender a estender a mão outra vez.”
Em outra crítica à hegemonia do dólar, Lula estimulou transações
comerciais nas moedas locais e defendeu a criação de uma moeda
própria dos Brics. “Por que não podemos fazer o nosso comércio
lastreado na nossa moeda? Quem é que decidiu que era o dólar?”,
questionou. “Hoje um país precisa correr atrás de dólar para exportar.
Por que o Brics não pode ter uma moeda que possa financiar a relação
comercial entre Brasil e China, entre o Brasil e os outros países?”
Ao tomar posse no banco, a ex-presidenta brasileira Dilma Rousseff
endossou as diretrizes propostas por Lula. Ela lembrou de sua
experiência à frente do Planalto e propôs um banco mais adaptado às
demandas dos países membros.
“Como ex-presidenta de um país em desenvolvimento, conheço a
importância dos bancos multilaterais, e sobretudo, dos imensos desafios
que é prover e garantir financiamento para atender as necessidades
econômicas, sociais e ambientais”, afirmou Dilma. “Buscaremos financiar
nossos projetos em moedas locais, privilegiando os mercados
domésticos. Vamos construir alternativas financeiras robustas.”

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