Operação na Baixada Santistadeixa 43 mortos e expõe irregularidades da PM/SP.

Agentes de saúde denunciam que corpos de suspeitos mortos pela PM são levados como vivos para hospitais, a fim de burlar as estatísticas de letalidade e evitar investigação de cenas de confronto.

A Operação Verão na Baixada Santista, litoral de São Paulo, tem sido
marcada por uma série de ocorrências controversas, incluindo mortes de
suspeitos em confrontos com a polícia e denúncias de irregularidades
nos procedimentos policiais. Até o momento, o número de suspeitos
mortos chegou a 43, com três óbitos registrados apenas nas últimas 12
horas em São Vicente.
Entre os casos mais recentes, destaca-se o ocorrido no bairro Itararé,
onde um homem de 32 anos, identificado como Jeferson Roberto
Romano, perdeu a vida após resistir a uma abordagem policial e
supostamente ameaçar os agentes. Segundo relatos, Jeferson teria sido
apontado como integrante de uma facção criminosa, conhecida como
‘Azul’, e estaria planejando um ataque contra policiais militares. O
confronto resultou em sua morte, sendo que a polícia alega legítima
defesa.
Outro episódio ocorreu no Dique do Sambaiatuba, onde uma dupla foi
alvo de disparos após supostamente apontar armas em direção aos
policiais. Carlos Alberto De Castro Junior, conhecido como ‘Zóio’, e Luan
Batista Messias De Souza, apelidado de ‘Boy’, foram atingidos e não
resistiram aos ferimentos, mesmo após serem resgatados com vida. A
polícia afirma que os agentes agiram em legítima defesa diante da
suposta ameaça.
Tais incidentes vêm gerando preocupações e críticas por parte de
organizações de direitos humanos e entidades da sociedade civil. A
Defensoria Pública de São Paulo, em conjunto com a Conectas Direitos
Humanos e o Instituto Vladimir Herzog, solicitou o fim da operação
policial na região e a adoção obrigatória de câmeras corporais pelos
policiais militares. Além disso, a Ouvidoria da Polícia de São Paulo e
outras entidades apresentaram um relatório detalhando irregularidades
nas abordagens policiais durante a Operação Verão na Baixada Santista.
O Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo
da Atividade Policial (Gaesp) do Ministério Público de São Paulo abriu
uma investigação para apurar as denúncias de funcionários da Saúde de
Santos, que alegam que corpos de suspeitos mortos na operação policial
são levados como vivos para hospitais, como forma de burlar as
estatísticas de letalidade e evitar investigação de cenas de confrontos
que são adulteradas.
Massacre e crise humanitária
Diante das críticas e denúncias, o secretário da Segurança Pública do
estado de São Paulo, Guilherme Derrite, negou excessos na ação da
Polícia Militar na Baixada Santista. No entanto, a declaração foi

contestada pela Ouvidoria da Polícia, que descreve a situação como um
“cenário de massacre e crise humanitária”.
Segundo o ouvidor Claudio Aparecido da Silva, de janeiro até a presente
data, a Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo encaminhou 44
ofícios entre denúncias e pedidos de esclarecimentos relacionados à
atuação da PM na Operação Verão. Destes, 27 foram direcionados à
Corregedoria da PM, Comando Geral da PM, Deinter-6 (Polícia Civil),
Governo de SP e SSP-SP.
Os demais foram enviados a Ministério Público, presidência da Alesp,
Comissão de Direitos Humanos da Alesp, Comissão de Segurança
Pública Alesp, Anistia Internacional e Ouvidoria Nacional de Direitos
Humanos do Ministério da Justiça e Cidadania.
Nos documentos, de acordo com ele, foram solicitadas imagens, laudos,
boletins de ocorrência e elementos periciais, sem nenhuma resposta até
o momento. Com isso, Ouvidoria ultrapassou a marca de mais de 3.500
casos em que a Corregedoria da PM não forneceu nenhuma resposta,
segundo o ovuidor.
Com referência à Operação Escudo de 2023, de acordo com o
ouvidor, nenhum dos ofícios direcionados à Polícia Científica do estado e
Secretaria de Segurança Pública (SSP) foram respondidos. O mesmo se
pode dizer com relação às ameaças de vida sofridas pelo ouvidor,
onde apenas o Ministério Público respondeu.
“Não corresponde à verdade a declaração do Secretário, a qual só
podemos atribuir [a declaração de Derrite] um provável processo
contínuo de inviabilização do trabalho desta Ouvidoria, que representa,
neste cenário de massacre e crise humanitária, uma das poucas
salvaguardas da institucionalidade dos direitos da população que se vê
em confronto com uma segurança crescentemente ineficaz e violenta”,
afirmou o ouvidor, por meio de nota.
Na manhã deste sábado (9), uma manifestação a favor da Operação
Verão reuniu moradores, representantes de associações, policiais
militares e deputados estaduais, que integram a chamada ‘Bancada da
Bala’. O ato ocorreu na Praça das Bandeiras, na orla da praia do
Gonzaga, em Santos.
Desde a Operação Escudo, em 2023, as ações da polícia são vistas
como mera vingança pela morte de policiais, embora o governo alegue
estar combatendo o crime organizado. No dia 26 de janeiro, o policial
militar Marcelo Augusto da Silva foi morto na rodovia dos Imigrantes, na
altura de Cubatão. Ele integrava o 38º BPM/M de São Paulo, mas fazia
parte do reforço da Operação Verão em Praia Grande (SP). No dia 2 de

fevereiro, o policial de rondas ostensivas Samuel Wesley Cosmo morreu
durante patrulhamento de rotina na Praça José Lamacchia. Cinco dias
depois, o cabo PM José Silveira dos Santos, do 2⁰ BAEP, morreu ao ser
baleado durante patrulhamento no bairro Jardim São Manoel, em Santos.
Esses eventos destacam a complexidade e sensibilidade das operações
policiais, exigindo uma análise cuidadosa e transparente das
circunstâncias de cada incidente, bem como medidas para garantir a
segurança da população e o respeito aos direitos humanos. A Operação
Verão permanece em andamento por tempo indeterminado, enquanto as
autoridades continuam investigando os casos e respondendo às
preocupações da comunidade.

Fonte: Vermelho

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