Para debatedores, reforma trabalhista levou a demissões em massa em faculdades

Participantes de audiência pública avaliaram que a reforma trabalhista do governo
Temer, aprovada em 2017 pelo Congresso Nacional, agravou a situação dos
professores da rede particular de ensino superior ao possibilitar demissões em
massa da categoria e a contratação de docentes por salários mais baixos. O tema
foi discutido na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público da
Câmara dos Deputados nesta quinta-feira (12).
De acordo com o presidente da Federação dos Professores do Estado de São
Paulo, Celso Napolitano, as instituições privadas de ensino superior querem
apenas explorar a educação sem compromisso com a qualidade de ensino.
Napolitano afirmou que a rede particular de ensino quer diminuir o custo para
aumentar o lucro às custas do rebaixamento salarial do corpo docente.
“Os professores se sujeitam aos baixos salários por falta de emprego, como o
caso da (universidade) Estácio de Sá, que demitiu 1.200 pessoas, e disse que
fazia isso para aproveitar novas regras de contratação”, criticou.
Napolitano destacou ainda que as grandes empresas de ensino superior
“praticamente não pagam imposto” e tem aumentado suas receitas às custas da
demissão de professores que ganham mais por professores que ganham menos.
Negociações coletivas
A representante na comissão do Tribunal Superior do Trabalho, Maria Cecília
Lemos, afirmou que a mudança trabalhista que permitiu demissões sem a
intermediação dos sindicatos aponta para a precarização das relações de trabalho.
Lemos destacou que essa posição do Brasil está em contradição com a premissa
da Organização Internacional do Trabalho de que o trabalho não pode ser
considerado mercadoria. Ela disse que o enfraquecimento da negociação coletiva
tem sido denunciado internacionalmente.
“A reforma trabalhista veio num momento em que se preconizou uma série de
direitos e o Brasil foi denunciado na última conferência internacional da OIT junto
com uma série de países que não estão contribuindo com a obrigatoriedade de
priorizar a negociação coletiva”, criticou.
Ensino a distância
O diretor da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior, Bruno
Coimbra, afirmou que nenhuma instituição de ensino gosta de ser taxada como
aquela que demite em massa. Segundo Coimbra, as demissões em massa não
ocorrem por uma estratégia mercantilista, mas em razões de acordos coletivos –
que exigem que demissões de docentes ocorram só ao final do semestre – e da
ampliação do ensino a distância.
“Não faz parte da estratégia mercantilista das instituições, elas avançam por meio
das tecnologias. Além disso, o avanço da EAD é um dos mecanismos para atingir
as metas previstas no plano nacional de educação”, disse.
O representante do Ministério da Educação na audiência, Marcos Heleno Guerson
de Oliveira Júnior, explicou que o ministério quer que as instituições de ensino
superior garantam a sustentabilidade financeira para evitar que entrem em
falência, o que prejudica a todos. Oliveira disse ainda que o aumento do EAD tem
diminuído os custos e os salários dos professores, mas, em muitos casos, são a
única forma dos alunos de concluírem uma graduação.

“Um dos fatores da redução de custo é alcance, a quantidade de alunos atendidos
é maior do que um curso presencial, isso justifica um pouco a questão das
demissões”, explicou o representante do MEC.
Abuso nas demissões
O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), que solicitou a audiência, também criticou
a demissão em massa de professores para recontratá-los com salários menores.
“As demissões em massa constituem atentado vigoroso aos direitos
constitucionais dos trabalhadores-professores e, portanto, merecem apuração,
além da justa responsabilização das instituições de ensino pelo abuso do direito
de demitir. Como sempre alertamos, a reforma trabalhista desequilibrou
completamente as relações de trabalho”, criticou Silva.

Fonte: Agência Câmara

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