Prisões de golpistas podem envolver vândalos, financiadores, políticos e policiais

Cerca de 1.500 pessoas foram levadas para a Polícia Federal, mas
ministro tem expectativa de, ainda hoje, divulgar número definitivo de

prisões.

Polícia e Exército se concentram na frente do QG do Exército para
desmobilizar acampamento.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, confirmou, hoje
(10), que os órgãos responsáveis pela investigação do ataque às sedes
dos Três Poderes, já identificaram alguns dos financiadores da ação.
Embora cerca de 1.500 pessoas tenham sido levadas para a Polícia
Federal, o ministro ressalta que equipes especializadas estão
interrogando e qualificando os crimes. Segundo ele, a expectativa é que,
ainda hoje, à noite, divulgue-se um número definitivo de prisões.
O governo do Distrito Federal, por sua vez, divulgou uma lista com 277
nomes de pessoas presas. São 158 homens e 119 mulheres. Os
golpistas foram levados para o Centro de Detenção Provisória 2, na
Papuda.
A Polícia Civil afirma que, pelo menos, 15 crimes foram cometidos. Entre
eles, estão golpe de Estado, dano a bem público e lesão corporal. O
ministro Flávio Dino diz que os financiadores identificados poderão
responder por associação criminosa (até três anos de prisão) e prática de
crimes contra o Estado Democrático de Direito (até oito anos de prisão),
tentando destituir um governo legitimamente eleito, entre outros delitos
previstos no Código Penal brasileiro. O crime de golpe de estado pode
implicar em até 12 anos de reclusão.
O número de presos deve aumentar. Na Academia Nacional de Polícia,
há centenas de pessoas detidas que estão passando por uma triagem da
Polícia federal para serem liberadas ou presas por envolvimento na
depredação.
O Ministério também divulgou que recebeu, em 24 horas, 30 mil
denúncias e informações sobre os terroristas que cometeram os atos de
vandalismo na Esplanada dos Ministérios.
Segundo o secretário de Acesso à Justiça, Marivaldo Pereira, neste
primeiro momento as apurações darão prioridade aos dados de quem
financiou o envio de caravanas de radicais bolsonaristas para Brasília e
os gastos dos acampamentos em frente a quartéis do Exército.
As informações podem ser enviadas para  denuncia@mj.gov.br .

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, e o presidente do TSE,
Alexandre de Moraes, durante cerimônia de posse do diretor-geral da PF, na
sede da corporação, em Brasília. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Associação criminosa
“Já foram identificados os primeiros financiadores, sobretudo em relação
aos ônibus: aqueles que organizaram o transporte, que contrataram os
veículos. Estas pessoas já estão todas identificadas”, disse Dino à
imprensa.
Ele informou que, entre os financiadores, há desde pequenos
comerciantes até empresários do agronegócio e indivíduos ligados a
colecionadores, atiradores desportivos e caçadores.
A previsão é que o relatório da Advocacia-Geral da União com os nomes
das companhias seja entregue ainda hoje (10) à Justiça Federal do
Distrito Federal. O órgão vai pedir medidas cautelares para o bloqueio
dos bens das empresas e solicitar que a Justiça reserve parte dos
recursos para cobrir os estragos na Esplanada dos Ministérios.

“O que posso afirmar é que a investigação está em curso; já foram feitas
as primeiras individualizações e, com isso, haverá o prosseguimento que
cabe: a aplicação das sanções previstas em lei”, acrescentou o ministro.
Segundo Dino, os primeiros financiadores identificados estão espalhados
por dez unidades federativas (a maioria do Sul e Centro-Oeste).
O novo foco dos investigadores está na ligação dos terroristas com
líderes políticos que tenham articulado a vinda de bolsonaristas radicais
a Brasília, no último fim de semana. Já se sabe que estes políticos
mantiveram contato com os empresários que financiaram a ação.
Segundo a governadora em exercício do Distrito Federal, Celina Leão,
cerca de 1,5 mil pessoas foram detidas no local por envolvimento nos
atos de vandalismo. O ministro Flávio Dino, contudo, disse que o número
ainda não é definitivo.
“Tivemos a apreensão de aproximadamente 1,5 mil pessoas, mas agora
estamos tratando das individualizações. Trata-se da maior operação de
polícia judiciária da história do Brasil, mas não se trata de uma prisão em
massa. É preciso identificar cada pessoa e o que ela fez. Temos equipes
trabalhando nisso, fazendo as oitivas, lavrando autos de apreensão e de
prisão em flagrante. Além disso, houve algumas situações humanitárias
que foram solucionadas ontem mesmo. Nossa expectativa é que, ainda
hoje, à noite, tenhamos um número definitivo”, concluiu Dino.
Sem anistia
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de
Moraes afirmou nesta terça-feira (10) que as instituições punirão “todos
os responsáveis” pelos atos de terrorismo.
“Dentro da legalidade, as instituições irão punir todos os responsáveis,
todos. Aqueles que praticaram os atos, aqueles que planejaram os atos,
aqueles que financiaram os atos e aqueles que incentivaram, por ação
ou omissão. Porque a democracia irá prevalecer”, declarou Moraes.
“Mas as instituições não são feitas só de mármore e cadeiras. São feitas
de pessoas, de coragem, de cumprimento da lei. Não achem esses
terroristas que até domingo faziam badernas e crimes, e que agora
reclamam que estão presos querendo que a prisão seja uma colônia de
férias. Não achem que as instituições irão fraquejar”, continuou Moraes.
Quase ao mesmo tempo, no Senado, o presidente Rodrigo Pacheco
(PSD-MG) fez um discurso duro contra os atos de terrorismo – e
também reforçou que ‘minoria extremista’ será identificada, investigada e
punida.

Idosos, mulheres e crianças
Um ônibus com bolsonaristas detidos pela Polícia Federal deixou
o ginásio da Academia Nacional da PF, no início da tarde desta terça-
feira (10), em direção à Rodoviária Interestadual de Brasília. O grupo era
composto principalmente por idosos com comorbidades. Mulheres com
crianças também foram liberadas.
Eles estavam no local desde a manhã de segunda (9), após
serem retirados do acampamento instalado no Quartel-General do
Exército. Ao todo, 1,2 mil foram detidos. Cerca de 50 ônibus foram
usados para levar o grupo para a Superintendência da Polícia Federal.
O grupo levado à rodoviária já passou por triagem e foi liberado nesta
manhã.
Desde a noite de segunda, a PF começou a liberar menores de idade,
mulheres com crianças pequenas e idosos, que tiveram prioridade na
triagem. A Polícia Federal ainda não divulgou um balanço de quantas
pessoas foram soltas e quantas continuam presas.
Liderados pela deputada Carla Zambelli (PL-SP), deputados
bolsonaristas pedem garantia de direitos humanos a presos em atos. O
ofício, enviado à Defensoria Pública da União e ao Ministério dos Direitos
Humanos, cita pessoas que estariam sendo “tolhidas de condições
básicas em termos de alimentação, hidratação e alojamento”.
Por meio de nota, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania
disse que “expressa preocupação com todas as pessoas do país que se
encontram presas”. Disse também que estaria monitorando as prisões.
55 ônibus apreendidos
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) interceptou e apreendeu, em menos
de 24 horas, 55 ônibus envolvidos nos atos golpistas. O efetivo da PRF
está estrategicamente distribuído em um “cinturão” viário que
compreende as principais rodovias de acesso à capital federal.  Em todos
os casos, os passageiros são identificados e conduzidos para unidades
da Polícia Federal.
Um ônibus apreendido em Santa Maria (DF), que seguia para Minas
Gerais, tinha entre os passageiros dois policiais militares armados (um
reformado e outro da ativa), que usaram spray de pimenta no interior do
ônibus para causar tumulto.
Em outro caso, na mesma área, a vistoria encontrou estojos de bombas
de gás lacrimogêneo já deflagradas, além de um cartão de acesso do
Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República.

Responsabilidade governamental

Anderson Torres e Ibaneis Rocha participaram da posse do ministro da Justiça
e Segurança Pública, Flávio Dino Foto: Renato Alves/ Agência Brasília
A Advocacia-Geral da União (AGU) pediu ao Supremo Tribunal Federal
(STF) a prisão de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Jair
Bolsonaro, que comandava a Segurança Pública do Distrito Federal. Ele
já foi exonerado da pasta, mas estava viajando para a Flórida (EUA),
onde se encontra Bolsonaro, no momento dos atentados.

O governador Ibaneis Rocha (MDB) também foi afastado do cargo. O
governador pode ser punido com impeachment e até ser preso.
Policiais militares do Distrito Federal foram flagrados tirando selfies e até
comprando água de coco durante os ataques golpistas em Brasília no
domingo. As investigações ainda estão em andamento, mas esses
agentes podem ser punidos com exoneração e até detenção, se for
comprovado que infringiram regras do Código Militar.

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