A decadência irreversível e acelerada da mídia bolsonarista

Veículos ligados a Bolsonaro tentam sobreviver à base de demissões,
venda de assinaturas e camisetas, vaquinhas virtuais e até a própria
venda.

A vida sem Jair Bolsonaro (PL) no Palácio do Planalto ficou difícil – e
pode até se tornar inviável – para uma série de sites, plataformas e
canais que aderiram de corpo e alma ao ex-presidente. Seja com a
mudança na Presidência da República, seja com o cerco crescente do
Judiciário às fake news, seja com a desmonetização de seus conteúdos,
a mídia bolsonarista enfrenta uma decadência tão irreversível quanto
acelerada.
Uma reportagem de Nicolas Iory para o blog Sonar – A Escuta das
Redes, hospedado no site do jornal O Globo, detalha a dimensão da
crise, que vai além da perda de verbas e de audiência. Muitos desses
veículos tentam sobreviver à base de demissões, venda de assinaturas e
camisetas, vaquinhas virtuais e até uma medida mais radical: a própria
venda do canal.
Este é o caso do Foco do Brasil, canal bolsonarista no YouTube com 2,9
milhões de inscritos. Nos quatro anos de Bolsonaro, o Foco do
Brasil publicou diversos vídeos exclusivos que foram gravados dentro do
Palácio da Alvorada. As postagens, porém, foram interrompidas ainda
em outubro, o mês das eleições que culminaram na vitória de Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) sobre Bolsonaro.
O problema não foi só político, lembra a reportagem do Sonar. “O Foco
do Brasil foi alvo, em 20 de outubro, de uma decisão do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) que determinou sua desmonetização por causa da
divulgação de ‘notícias falsas ou gravemente descontextualizadas’
durante o período eleitoral. O processo que deu origem a essa sanção
menciona que os donos da página recebiam até US$ 67 mil por mês com
os anúncios da plataforma”.
Investigado também pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no âmbito do
inquérito das fake news, o canal tem perdido assinantes mês a mês e
demitiu todos os apresentadores, sobrevivendo à base das assinaturas
remanescentes. Segundo seu proprietário, Anderson Azevedo Rossi, o
canal está à venda desde dezembro de 2022.
A desmonetização devido à propagação por fake news também selou o
destino de três outros canais bolsonaristas: o Folha Política, o Dr.
News e o Brasil Paralelo. Este último conseguiu sobreviver com
produção de vídeos em streaming. Os demais devem morrer aos poucos
sem os recursos do YouTube.
Entre sites jornalísticos pró-Bolsonaro, impulsionados por notícias falsas
ou manipuladas, o Pleno News e o Revista Oeste definham rumo ao
encerramento, enquanto o Jornal da Cidade Online (JCO) mostra

resiliência. Mesmo assim, o JCO está em declínio: “registrou cerca de 7
milhões de visualizações no mês passado, seu pior desempenho em
termos de audiência em toda a série analisada. Nas redes sociais, o
engajamento em seus perfis no Facebook, no Twitter e no Instagram caiu
pela metade”.
Desmonetizado, o site vende “vende camisetas que pedem o
impeachment de Lula e faz apelos por contribuições dos leitores ao fim
de cada texto”. Na página bolsonarista, um reconhecimento sobressai: “O
TSE quebrou as nossas pernas”. E depois um delírio: “O sistema
conseguiu o que queria: calou todas as vozes conservadoras”.
Não, as páginas e os canais não foram calados. Seus donos apenas
sabem que propagar fake news se tornou um crime cada vez menos
impune no Brasil. A perda de seguidores e engajamento reflete também
a virada na cena política nacional, que deixou de ter um presidente da
República como símbolo máximo do negacionismo. A mídia bolsonarista
encolhe sem parar.

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