“Bolsonaro sabia de tudo o que estava acontecendo”, diz Lula à GloboNews

Em entrevista, o presidente Lula enfatizou que todos os envolvidos no
ato golpista e de vandalismo na Praça dos Três Poderes devem ser

punidos. “Não importa a patente”.

Em uma das manifestações mais duras sobre os atos golpistas do dia 8
de janeiro em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em
entrevista à GloboNews, criticou o ex-presidente Jair Bolsonaro como
incentivador das invasões às sedes dos Três Poderes. Disse acreditar
que a invasão no Palácio do Planalto foi facilitada e defendeu
condenação dos golpistas.
Segundo Lula, a impressão que teve foi que os golpistas estavam
“acatando uma ordem e orientação” dada pelo ex-presidente Bolsonaro e
que o silêncio dele sobre os atos criminosos, gera a “impressão” de que
o ex-presidente “sabia de tudo o que estava acontecendo”.
“Muito tempo ele mandou invadir a Suprema Corte, muito tempo ele
desacreditou do Congresso Nacional, muito tempo ele pedia que o povo
andasse armado, que isso era democracia”, lembrou.
“O silêncio dele, mesmo depois do acontecimento daqui, me dava a
impressão de que ele sabia de tudo o que estava acontecendo, que ele
tinha muito a ver com aquilo que estava acontecendo”, disse Lula.
“Possivelmente, esse Bolsonaro estivesse esperando voltar para o Brasil
na glória de um golpe”.
Forças Armadas

O presidente Lula em entrevista à jornalista Natuza Nery. Foto: Ricardo
Stuckert
Lula enfatizou que todos os militares envolvidos na tentativa de golpe
serão punidos. “Todos. Não importa a patente, não importa a força de
que ele participe”, prosseguiu. “Todos que a gente descobrir que
participaram dos atos serão punidos. Terão de ser afastados das suas
funções e vão responder perante a lei”.
Disse ainda que todos têm direito a votar em quem quiser, mas não se
pode politizar as Forças Armadas. A instituição tem como missão
defender a soberania do país.
“O soldado, o coronel, o sargento, o tenente, o general, ele tem direito de
voto, ele tem direito de escolher quem ele quiser para votar. Agora, como
ele é um cargo de carreira, ele defende o Estado brasileiro. Ele não é
Exército do Lula, ele não é do Bolsonaro, não foi do Collor, não foi do
Fernando Henrique Cardoso”, afirmou o presidente.
Ele anunciou que deve ter uma reunião com as Forças Armadas assim
que voltar da viagem internacional à Argentina que fará nesta semana. E
que seu intuito é que tudo volte à normalidade.
“Eu não quero ter problemas com a Força, não quero que eles tenham
problema comigo. E eu quero que a gente volte à normalidade, é isso. É
isso. As pessoas estão aí para cumprir as suas funções e não para fazer

política. Quem quiser fazer política tire a farda, renuncie ao seu cargo,
crie um partido político e vá fazer política”, acrescentou
Para o presidente, as instituições não podem ter partido nem candidato e
citou por exemplo, o Supremo Tribunal Federal (STF) cuja finalidade é
defender a Constituição brasileira. “A Suprema Corte não é do Lula.
Sabe? Essas instituições que dão garantia a esse país não precisam ter
partido e não precisam ter candidato, eles têm que defender o estado
brasileiro e defender a Constituição”, explicou.
Inteligência não serviu para alerta
Na conversa, Lula sinalizou que acredita num “erro” dos serviços de
inteligência do país que não o alertaram sobre a possibilidade dos
ataques golpistas naquele dia. Citou o Gabinete de Segurança
Institucional (GSI), a Abin e as Forças Armadas que não serviram para
alertá-lo sobre o que poderia ocorrer na capital federal.
“Nós temos inteligência do GSI, da Abin, do Exército, da Marinha, da
Aeronáutica, ou seja, a verdade é que nenhuma dessas inteligências
serviu para avisar ao presidente da República que poderia ter acontecido
isso”, afirmou, completando que “se soubesse na sexta-feira que viriam 8
mil pessoas aqui, eu não teria saído de Brasília. Eu saí porque estava
tudo tranquilo”.
A entrevista do presidente Lula com a comentarista política Natuza Nery,
da GloboNews, ocorreu nesta quarta-feira (18), no Palácio do
Planalto. Ele falou ainda sobre a economia do país, defendeu uma
reforma tributária e lembrou que seu objetivo era isentar todos aqueles
que ganham até R$ 5 mil mensais do Imposto de Renda. Entre outros
assuntos.

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