Comunidade científica vai apoiar Lula na recuperação da liderança do Ministério da Saúde

O presidente do Conass, Nésio Fernandes, diz que acerto na
composição do Ministério vai mobilizar gestores, cientistas e sociedade

para resolver desafios da saúde pública.

 

05.08.2022 – Lula participa da Conferência Livre, Democrática e Popular de
Saúde, e em Defesa e Valorização do SUS, na Casa de Portugal em São

O presidente do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) e
secretário de Saúde do Espírito Santo, Nésio Fernandes, voltou
entusiasmado da reunião da transição de governo com um conjunto de
especialistas e instituições de Saúde, que acabou contando com a
participação do presidente eleito Luis Inácio Lula da Silva, em Brasília,
nesta quinta-feira (24), para discutir os desafios do Ministério a Saúde.

“Esta reunião com o Lula foi um gol da saúde para o povo brasileiro”,
disse o médico sanitarista, ao Portal Vermelho, em meio às
comemorações dos dois gols do capixaba de Nova Venécia, Richarlison
de Andrade, no primeiro jogo da seleção brasileira na Copa do Mundo,
que derrotou a Sérvia.
“A sensação é de alívio, outro ar!”, disse ele, sobre o clima na reunião de
transição de governo, embora pudesse estar falando também do jogo
envolvente no Catar. A presença de Lula não havia sido anunciada,
anteriormente. E fez toda a diferença. O objetivo era discutir vacinação.
Segundo ele, Lula fez uma abertura impressionante, deixando claro que
a prioridade da saúde está envolvida em questões que o angustiam
muito. Ele expressou muito senso de urgência em relação a três temas
principais: gestão da pandemia, vacinação e coberturas vacinais e
melhoria do acesso a consultas, exames e tratamentos de alta
complexidade para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). Lula
disse que “o povo está muito sofrido, até consegue ir numa UPA, mas
depois não consegue mais nada”.
“Ele desafiou a todos que não faltará recursos para resolver isso. ‘Se
vocês apresentarem propostas para que o sistema de saúde funcione e
dê resultado para que o povo não fique um ano esperando um
procedimento, não faltarão recursos’. Ele foi enfático nisso. Proponham,

criem, eu não quero repetir o passado. Ele foi muito sagaz”, descreveu o
gestor capixaba.
Lula disse expressamente que o governo federal não pode somente
reclamar da falta de recursos para a saúde. “Nosso trabalho será
encontrar esses recursos e investir no SUS, em especial no resgate do
Programa Nacional de Imunização para retomar a confiança da
população nas vacinas”, disse o presidente eleito durante a reunião.

“O dirigente principal do Brasil está dando novo teto institucional e
político para o SUS. Durante a pandemia quiseram ajoelhar a ciência e
as vacinas. Lula quer fazer o SUS voar. Ele não pediu, ele encomendou
as melhores propostas para melhorar o acesso aos serviços assistenciais
do SUS e para recuperar rapidamente as coberturas vacinais. Nós
topamos o desafio”, afirmou Nésio, durante a reunião.
O gestor público salientou que este ambiente faz um contraponto muito
forte com o que os gestores de saúde e a comunidade científica viveram
no período Bolsonaro. “Alguns temas eram proibidos e tutelados no
âmbito de saúde. A vacinação pediátrica como questão de direito das
crianças não podia ser falada em voz alta”, lamenta.
Com Lula, ele afirmou que a comunidade científica se sentiu muito à
vontade, com densidade intelectual e capacidade criativa, enquanto Lula
prestou atenção a tudo e apresentou uma síntese ao final sobre o que
ouviu.

Alguns dos participantes da videoconferência de médicos e gestores de saúde
com Lula
Desafios do governo
Diante do acúmulo de notícias ruins na saúde, nos últimos dias, os
desafios sanitárias do governo são gigantesco. O noticiário está
dominado por temas como o desabastecimento de medicamentos
básicas em farmácias públicas e privadas, o corte de 65% no orçamento
da Farmácia Popular, a queda brutal nas coberturas vacinais das
crianças, assim como o aumento de internações de crianças com
desnutrição, somados ao avanço da pandemia, com aumento de
internações e óbitos com uma nova variante.

Tudo isso, com a transição de governo tendo que administrar o
orçamento de terra arrasada deixado por Bolsonaro. Por conta do teto de
gastos, há uma defasagem de aproximadamente R$ 22 bilhões do que
deveria ser o orçamento da saúde para 2023, que a transição pretende
recompor até o final do ano.
Para Nésio, o êxito de Lula vai depender da sabedoria do presidente de
escolher “pessoas com experiência no âmbito da gestão, com
capacidade técnica, e protagonismo para ter coragem de tomar decisões
e liderar o país na recuperação do papel de liderança do Ministério da
Saúde em questões de saúde pública”.
Para ele, este é o principal desafio do presidente Lula, neste momento.
“Vemos uma disposição de todos os atores da sociedade civil e da
política, a comunidade científica e os gestores públicos, de apostar e
apoiar as iniciativas para recuperar a Saúde Pública no país, e,
principalmente, da instituição Ministério da Saúde”, afirma o conselheiro.
“O presidente Lula acertando na liderança e na composição do
Ministério, terá muito apoio institucional, político e popular”, apontou.
Vacinação
Na mesma reunião, o presidente eleito disse que os primeiros 100 dias
de seu governo terão como foco a recuperação do PNI (Programa
Nacional de Imunizações), o aumento da cobertura vacinal e a
restauração da confiança da população sobre o tema, —que, segundo
ele, foi afetada por fake news sobre o tema.
As últimas notícias dão conta de uma queda drástica na cobertura
vacinal, inédita em décadas, que já se reflete no retorno de doenças
vacináveis e internações desnecessárias de crianças. O programa Bolsa
Família cumpria um importante papel ao exigir que as mães fizessem
acompanhamento médico das crianças para receber o benefício. Com o
desmonte do programa e criação do Auxílio Brasil, Bolsonaro cumpriu
sua meta de impedir que milhões de crianças sejam vacinadas.
“Vai ser necessário conciliar diversas estratégias para recuperar as
coberturas vacinais. Estratégias de comunicação, mobilização, de
vinculação compulsória da vacinação a acesso a benefícios como
distribuição de renda e matrícula escolar, questões que convergem para
adesão a vacinação”, apontou Nésio.
Nésio explica que o bolsonarismo dedicou muito tempo em redes sociais
e orgânicas influenciando grupos populacionais muito bem definidos,
como os evangélicos, consolidando e ampliando a difusão de
informações que geram medo e pânico em relação a vacinas.

“Nós precisamos construir pontes com esse grupos populacionais.
Precisamos dialogar e envolver esses atores no processo de imunização,
para envolvê-los nisso, que é um direito das crianças brasileiras de
serem vacinadas contra doenças que matam. É disso que se trata”, disse
o médico.
Em sua opinião, é preciso que todos se mobilizem, e as políticas sociais
podem ser instrumentos de recomposição do diálogo nacional. “Elas
podem reunir grupos que estavam envolvidos em polarizações para
recuperar o ambiente de normalidade democrática no país”.
Fizeram parte do encontro cinco ex-ministros da Saúde: Humberto Costa
(PT), Arthur Chioro, Alexandre Padilha (PT), José Gomes Temporão e
José Agenor.
Também participaram representantes do Instituto Butantan, da
Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, da Opas (Organização Pan-
Americana da Saúde), da Fiocruz, do Conass (Conselho Nacional de
Secretários de Saúde), do Conasems (Conselho Nacional de Secretarias
municipais de Saúde) e ex-chefes de PNI, entre outros órgãos.

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