‘Colocar o pobre no orçamento é fundamental’, afirma Marcio Pochmann

Economista e professor da UFABC e da Unicamp conversou com a Revista Brasil
TVT dizendo que o presidente eleito Lula vem fazendo um giro para colocar a

política no lugar da economia como base de governo
O economista Marcio Pochmann, professor da Universidade Federal do ABC
(UFABC) e da Unicamp, ambas em São Paulo, disse em entrevista ao programa
Revista Brasil TVT, da Rede TVT, que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva
deve mudar eixo de governo, colocando no centro a política no lugar da
economia. Desta fora, ele vê como fundamental a volta da população de baixa
renda para o orçamento federal, como iminente a queda do teto dos gastos e
defende investimentos sociais para para a construção de um país diferente do
atual.
“Há um aprendizado em relação à governança do passado, denominada de
presidencialismo de coalizão. Um presidente que governava de forma ‘coesionada’
com o parlamento, mas isso muito subordinado aos ditames econômicos. A
economia, que é um meio, havia se transformado em um fim em si mesmo. Se
pensa no circuito da financeirização não olhando nas pessoas que precisam de
emprego, trabalho, passam fome, não tem moradia. O presidente Lula, entendo,
vem fazendo um giro para colocar a política no centro, porque é ela quem define
para onde queremos ir. O resultado eleitoral apontou um rumo e esse rumo
precisa ser seguido. E para que isso possa ocorrer, a economia deve voltar a ser
um meio que viabilize o que a política determine.”
Sete trilhões de reais
Marcio Pochmann cita um lado real do Brasil diferente do oficial representado pelo
mercado financeiro e de outros mercados especulativos. “De gente que quer
trabalhar. O país tem mais de R$ 7 trilhões depositados no sistema financeiro,
adormecidos, esperando serem validados pela taxa de juros. Esse dinheiro
poderia ser melhor aplicado na atividade econômica, gerando emprego, tendo
lucros, gerando impostos. É disso que estamos tratando. De uma atividade que
não é para corromper o governo, para utilizar para funções ilegais. Pelo contrário,
é para alimentar o povo, oferecer um horizonte, um futuro de emprego e renda.
Colocar o pobre no orçamento é fundamental para construir um Brasil diferente
do que temos hoje.”
Teto de gastos
Dentro dessa linha, o economista entende ser necessário o governo ter clareza
que a própria realidade mostrou que o teto de gastos é impossível de ser
perseguido. “O próprio governo que agora está se encerrando executou um gasto
próximo aos R$ 800 bilhões acima do limite que havia sido estabelecido por uma
emenda constitucional. É algo ridículo que uma emenda constitucional termine
não sendo seguida.” Pochmann diz que Lula inova separando o que é custeio do
que é investimento. “Custeio é o gasto com salários de funcionários públicos,
operação da máquina, aluguéis. Devem ser pagos com a arrecadação existente. O
investimento se autofinancia, porque significa uma atividade nova, que vai gerar
emprego, renda e tributação. Então a separação do orçamento me parece muito
importante.”
E o gasto financeiro?
Ele afirma, ainda, que o tema do investimento tem, em geral, poucos defensores.
“Quando se tem uma lei de teto, corta os investimentos, que é o nosso diálogo
com o amanhã. Então não temos o amanhã, só o hoje. E se reduzem os gastos
sociais. Veja que a lei define o congelamento do gasto operacional, não faz

menção ao gasto financeiro. Esse está livre para ser gasto o quanto for de
interesse. Se é para não gastar, que não gastasse nada, mas se deixa o
financeiro livre?”, questiona. “Infelizmente, no caso brasileiro, no período mais
recente, tivemos um caso de subordinação da política aos interesses mais diretos
da economia. Então há um certo mal-estar porque pretende-se mudar isso. Fazer
valer o voto e a maioria que votou.”

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