Cresce movimento contra Brexit e efeitos perversos para trabalhadores

Britânicos já estão nostálgicos com a qualidade de vida que tinham
quando podiam circular livremente pela Europa e garantir empregos

importantes ligados ao comércio unificado.

No último sábado (23), manifestantes contrários à saída do Reino Unido
da União Europeia (UE) se reuniram no centro de Londres para a Marcha
Nacional pelo Reingresso, pedindo a anulação da medida do Brexit, que
foi oficializada em 2020 após um referendo em 2016 dividido entre 48%
contra a 52% favoráveis à saída. Vestidos com roupas azuis e
carregando bandeiras da UE, cerca de 15.000 manifestantes se uniram
em Westminster para protestar contra os impactos do Brexit.

O referendo de 2016, convocado pelo então primeiro-ministro David
Cameron, levou à decisão de deixar a UE, uma escolha que ainda gera
controvérsias e divisões na sociedade britânica. (Leia abaixo os
principais efeitos do Brexit para o Reino Unido e a Europa). Entre os
manifestantes estavam figuras proeminentes como a ativista anti-Brexit
Gina Miller e o deputado europeu e ex-negociador do Brexit Guy
Verhofstadt.
Um dos líderes do movimento pela reintegração do Reino Unido à UE,
Peter Corr, um ex-motorista de caminhão de 42 anos, organizou o
protesto para expressar o desejo de muitos britânicos de retornar ao
bloco europeu. Ele foi um dos trabalhadores que perdeu o emprego,
assim que foram fechadas as fronteiras com o resto da Europa. Peter
Corr, líder e cofundador do NRM, disse que decidiu organizar a marcha
porque “parecia que todos haviam desistido” da causa.
“O Brexit foi um grande erro, todos nós – especialmente a classe
trabalhadora e as pessoas mais pobres – estamos pagando por isso e
precisamos fazer algo a respeito”, disse Corr. A perda do status europeu
tornou-se uma nostalgia para muitos britânicos que se lembram dos
benefícios que tinham.
A Marcha Nacional pelo Reingresso, que incluiu uma manifestação e um
grande comício pró-UE e anti-Brexit, atraiu a atenção de diversas
gerações, incluindo jovens que afirmam que também desejam ser
ouvidos sobre o tema.
Corr disse que 60% do país e 80% das pessoas com menos de 25 anos
eram consistentemente a favor da reintegração à UE nas
sondagens. “Odeio o racismo e a xenofobia e foi isso que realmente senti
em grande parte daquela campanha de ‘licença para votar’”, disse ele.
Terry Reintke, membro do Parlamento Europeu pela Alemanha e co-
presidente do Partido Verde na Assembleia, destacou que o Reino Unido
construiu um dos maiores movimentos pró-europeus da Europa e que
ainda há milhões de britânicos que desejam retornar ao bloco. No
entanto, o Brexit continua sendo uma questão complexa e polarizadora.
Os impactos econômicos do Brexit são uma preocupação central dos
manifestantes. O acordo de saída negociado sob o governo de Boris
Johnson entrou em vigor em 2021, com uma revisão marcada para 2025.
Muitos manifestantes expressaram sua crença de que o Brexit prejudicou
a economia britânica, afetando não apenas a classe trabalhadora, mas
também a livre circulação de pessoas e bens.
A marcha também viu manifestantes gritando slogans como “Fora
Conservadores” e vaiando a possibilidade de Boris Johnson se tornar

primeiro-ministro novamente. Muitos veem o retorno do premiê
ultraconservador como uma solução para os problemas econômicos do
país.
Os impactos econômicos do Brexit, bem como os debates sobre a
reintegração do Reino Unido à UE, continuam a ser uma questão de
grande controvérsia e divisão dentro do país, até porque a possibilidade
de retorno é difícil e remota. A incerteza persiste quanto a qualquer
possível retorno do Reino Unido à UE, tornando o Brexit um capítulo
duradouro na história política e econômica do país.
“Sair foi um erro grave. Já custou muito ao Reino Unido. E, a menos que
voltemos, isso continuará nos custando caro. Foi uma ideia mal
disputada. Foi impulsionado pela ideologia e não foi concebido para
ajudar o Reino Unido. Estamos melhor dentro da UE”, disse um ativista,
e completou: “A longo prazo, vamos sofrer porque não conseguiremos
vender e comprar na Europa, que é o nosso maior mercado.”
Questionado sobre como o Reino Unido poderia voltar a aderir à UE,
outro manifestante disse: “Deveríamos negociar um acordo, recuperar a
União Aduaneira, o mercado único e progredir a partir daí”. Mas o que
realmente poderia dar início a um demorado processo seria consultar
novamente a população, uma luta que está apenas no começo, com
pouca chance de acontecer.
Só prejuízo
O Brexit teve e continua a ter uma série de efeitos significativos na
política, na economia e na sociedade do país. Tem sido difícil para os
defensores demonstrar os efeitos positivos da separação para a
população.
Os principais argumentos em favor do Brexit sempre foram de teor
nacionalista, como recuperar o controle sobre as Leis e Regulações, sem
a interferência do resto da Europa. Assim, poderia tomar decisões
independentes sobre questões como comércio, imigração e
regulamentação. A propósito, as políticas de imigração do Reino Unido
se tornaram mais rigorosas e polêmicas, ferindo os direitos humanos
básicos dos imigrantes. A circulação de europeus pelas ilhas, agora, é
mais burocrática e difícil.
Com o Brexit, o Reino Unido ganhou a capacidade de negociar acordos
comerciais independentes com países fora da UE. No entanto, como
parte da UE, os acordos eram mais vantajosos. O Reino Unido deixou de
contribuir para o orçamento da UE, o que liberou recursos financeiros
para suas prioridades nacionais.

Desde a votação do referendo em 2016 até o acordo finalizado em 2020,
muitos desses impactos se tornaram mais claros:
 Impacto Econômico: Um dos aspectos mais debatidos do Brexit
tem sido o seu impacto econômico. A saída da UE levou a
mudanças nas relações comerciais, alfandegárias e regulatórias
entre o Reino Unido e seus antigos parceiros europeus. Isso
causou perturbações significativas nas cadeias de abastecimento,
aumentou os custos para as empresas e levou a uma queda nas
exportações. Além disso, o Reino Unido agora está fora do
mercado único europeu, o que limita o acesso a um dos maiores
mercados do mundo.
 Desvalorização da Libra: Logo após o referendo, a libra esterlina
se desvalorizou significativamente em relação ao euro e ao dólar
americano. Isso afetou o poder de compra dos britânicos no
exterior e aumentou os preços de importação, o que contribuiu
para a inflação.
 Setor Financeiro: O setor financeiro, que é um dos pilares da
economia britânica, também foi impactado. Muitas empresas
financeiras transferiram parte de suas operações para outros
países da UE para manter o acesso ao mercado único. Londres já
não é mais automaticamente o principal centro financeiro europeu.
 Empregos e Migração: Muitos trabalhadores europeus que viviam
e trabalhavam no Reino Unido tiveram que lidar com incertezas
relacionadas ao status de residência e emprego após o Brexit. Isso
também afetou setores como saúde e educação, que dependiam
fortemente de profissionais europeus.
 Agronegócio e Pesca: O setor agrícola e de pesca foi impactado
pelo Brexit. A política de pesca foi particularmente controversa,
com mudanças nas cotas de pesca e acesso a águas britânicas, o
que afetou os pescadores do Reino Unido e suas contrapartes
europeias.
 Fronteira na Irlanda do Norte: A questão da fronteira entre a
Irlanda do Norte (parte do Reino Unido) e a República da Irlanda
(membro da UE) tem sido um dos principais desafios do Brexit. O
Acordo de Retirada incluiu o Protocolo da Irlanda do Norte, que
visa evitar uma fronteira rígida na ilha da Irlanda, mas tem causado
tensões políticas e econômicas.
 Divisões Políticas: O processo do Brexit exacerbou as divisões
políticas no Reino Unido. O país enfrentou mudanças de liderança,
com a renúncia de Theresa May e a ascensão de Boris Johnson
como primeiro-ministro. Além disso, o tema do Brexit tem sido
central nas eleições gerais e nas dinâmicas políticas internas.
 Repercussões Geopolíticas: O Brexit também teve implicações
geopolíticas. O Reino Unido busca estabelecer novos acordos
comerciais com países fora da UE, como os Estados Unidos,

China e Austrália, em uma tentativa de expandir sua presença
global.
 Unidade do Reino: O Brexit também levantou questões sobre a
unidade do Reino Unido. Escócia e Irlanda do Norte votaram
majoritariamente contra a saída da UE e o apoio à independência
escocesa cresceu desde então. A Irlanda do Norte, por sua vez,
tem visto um aumento nas discussões sobre a reunificação com a
República da Irlanda.
O Brexit também teve uma série de efeitos para a União Europeia (UE).
Enquanto o impacto direto sobre o Reino Unido tem sido amplamente
discutido, a UE não saiu completamente ilesa dessa transição. Abaixo
estão alguns dos principais efeitos do Brexit para a União Europeia:
 Perda de um Grande Membro: O Reino Unido era um dos
maiores contribuintes líquidos para o orçamento da UE e um dos
principais mercados dentro da União. Sua saída resultou na perda
de um membro significativo em termos de contribuição financeira e
influência política.
 Impacto Econômico: A saída do Reino Unido afetou as relações
comerciais entre a UE e um dos seus maiores parceiros
comerciais. Embora um acordo comercial tenha sido alcançado
entre o Reino Unido e a UE, ainda existem barreiras comerciais e
custos adicionais associados às exportações e importações, o que
afetou empresas europeias que faziam negócios com o Reino
Unido.
 Realocação de Agências Europeias: A Agência Europeia de
Medicamentos e a Autoridade Bancária Europeia, que
anteriormente tinham sede em Londres, foram realocadas para
outros países da UE após o Brexit. Isso teve implicações logísticas
e administrativas para a UE.
 Defesa e Segurança: O Reino Unido era um dos principais atores
em matéria de defesa e segurança na UE, e sua saída teve
implicações para a capacidade de defesa da União. Isso levou a
discussões sobre a necessidade de maior cooperação entre os
países membros da UE na área de segurança e defesa.
 Negociações de Orçamento da UE: A saída do Reino Unido criou
um vácuo orçamentário na UE. Os debates sobre o próximo
quadro financeiro plurianual da UE, que cobre o período de 2021 a
2027, foram afetados pela perda da contribuição britânica, levando
a tensões sobre como cobrir essa lacuna.
 Efeito Sazonal e Regional: Algumas regiões da UE foram mais
afetadas pelo Brexit do que outras. Por exemplo, regiões costeiras
que tinham laços comerciais estreitos com o Reino Unido
enfrentaram desafios econômicos específicos devido às mudanças
no comércio.

 Maior Unidade em Questões Fundamentais: O processo do
Brexit também teve o efeito colateral de unificar muitos membros
da UE em questões fundamentais. As negociações difíceis com o
Reino Unido solidificaram o compromisso dos países da UE com o
projeto europeu e a integridade do mercado único.
 Papel no Cenário Global: A União Europeia também passou a
desempenhar um papel mais proeminente no cenário global como
resultado do Brexit. Com o Reino Unido saindo, a UE se tornou um
bloco de 27 países com maior foco em sua própria política externa
e capacidade de negociação internacional.

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