Varrer o fascismo neste domingo!

Por cima de pau e pedra, como se diz, a maioria do povo brasileiro está

firmemente decidida a rejeitar Jair Bolsonaro

“[Na Europa] Existe, no entanto, uma grande e perigosa diferença entre
hoje e o velho contexto do fascismo tradicional: agora, grupos
neofascistas e xenófobos ganham boa parte do próprio consenso
eleitoral nas grandes periferias urbanas, nas áreas e nas regiões da crise
pós-industrial, entre as massas populares e trabalhadores” (G. FRESU,
2017). (1)
Nessa terça-feira (27), o “agregador de pesquisas eleitorais” do jornal “O
Estado de S. Paulo”, baseado nos resultados de 14 institutos diferentes,
mostra que Lula aumentou suas intenções de votos válidos (sem os
brancos e nulos), e já atingiu, 52% desses válidos, no primeiro turno. (2)

O Estadão, como é conhecido, é o jornal mais golpista da história do
Brasil; só isto.
Por cima de pau e pedra, como se diz, a maioria do povo brasileiro está
firmemente decidida a rejeitar Jair Bolsonaro logo ali, nas eleições no
próximo domingo.
Enfrentou-se, durante quatro anos, a escandalosa manipulação de
milhares de militares enfiados no governo – cerca de 10 mil, diz-se -,
sempre a “espada de Dâmocles” das ameaças golpistas; uma fajutice,
ademais. Bolsonaro jogou na sarjeta um longo processo de adaptação à
democracia das cúpulas militares, vinda desde 1988, fazendo inclusive a
violação sistemática da Constituição e dos regramentos da relação
governo e Estado e FFAA. Transformou generais da ativa e da reserva
em seus capachos, corrompeu alguns. Forçou a demissão de três
comandantes das FFAA brasileiras, por divergências explícitas deles.
O presidente neofascista e seus filhos já vinham praticando vasta
corrupção, comprovada e denunciada inúmeras vezes, igualmente
alardeada por grande parte da grande mídia. Das “rachadinhas” à
compra de dezenas de imóveis com “dinheiro vivo”, Bolsonaro já tivera
seu fiel escudeiro, e responsável para abastecer as contas escabrosas
de sua esposa, Michele, preso, “escondido” numa residência do
advogado presidencial! Vários ministros foram obrigados a se demitir, às
claras flagrados em casos escabrosos de roubalheira para seus aliados.

Junto à liberalização criminosa para a venda de armas, sob a anuência
do Exército brasileiro, o presidente da República estimulou a violência
política generalizada. Assassinatos, gangsterismo e terrorismo:
Bolsonaro usou os anos de mandato para disseminar a intimidação e o
medo, conduta ideológica visceral típica dos nazistas e fascistas. Sua
gangue de milicianos e marginais assalariados remetem ao elogio de
Hitler ao seu general plenipotenciário Heinrich Himmer:
“Hitler havia, no entanto, cumprimentado Himmler por ter recrutado
delinquentes. Via neles uma força brutal que correspondia à natureza
popular do nazismo: [Hitler] ‘A melhor coisa que você fez, Himmler, foi ter
transformado o incendiário em bombeiro. Desse modo, o bombeiro vive
sob ameaça de ser enforcado se houver um incêndio’”. (3)
Numa cruzada obsessiva contra a universidade, a educação e a cultura
nunca vista no Brasil, Bolsonaro papagueou o finado neonazista Olavo
de Carvalho e ordenou verdadeira guerra contra o denominado
“marxismo cultural”. Eric HOBASBAWM recorda-nos que Hitler e os

fascistas denunciavam a emancipação liberal (as mulheres deviam ficar
em casa e ter muitos filhos), assim como a influência da cultura moderna,
sobretudo as artes modernistas, descritas como “bolchevismo cultural e
degeneradas”. (4)
A fome em massa é agora uma realidade indiscutível. As desigualdades
econômicas, sociais e regionais, junto ao elevado desemprego, somente
aprofundaram problemas estruturais, fazendo o país regredir à fisionomia
da República Velha! Notadamente com o avanço da desindustrialização,
nos últimos anos, a invasão da chamada “Era digital” confere à nação a
alegoria de um estatuto semicolonial, com a entronização do
neoliberalismo radical das políticas de Bolsonaro. O Brasil voltou à
inflação elevada, à altíssima taxa de juros, passando a adotar a chamada
“independência do banco central”.
Após a sucessiva injeção bilionária do governo atual, humilhado pela
ausência nas quase 700 mil mortes na pandemia do Coronavid19 – sim,
espécie de antissemitismo proclamado -, o Brasil deve ter um
crescimento médio de 1,1% ao ano nesse período, conforme a FGV Ibre,
com dados do Banco Mundial; o crescimento médio global deve ficar em
1,8% ao ano; em 2023, a estimativa é de crescimento de 0,5% aqui, e de
2,3% para o mundo (pesquisa Focus). (5)
Defensor ardoroso da tortura e do estupro, Bolsonaro integra, sim, a
revoada global de corvos neonazistas reciclados, também desprendidos
da grande crise capitalista iniciada em 2007-8. A desesperança,
acicatada pelo desemprego crônico e a miséria humana foram
catapultadas na crise da “financeirização” sistêmica do capital.
Novamente, a ideia de que a “política” foi capturada pelo establishment
contra as massas vingara. Reiterou-se nova virulentas jornadas
anticomunista e anti-esquerda patriótica mundo afora. Burgueses e
liberais, como historicamente em regra, entregaram-se aos neofascistas
aqui e alhures.
O fascismo como espasmos do capitalismo
É preciso sempre assinalar que o nazifascismo aparece como um tipo de
deus Janus, bifrontal, no ontem e no hoje. Por isso também, Jean-Louis
VULLIERME em seu original e polêmico estudo, considera, ao longo das
240 páginas:
“Espero ter deixado claro que a hipótese de que o nazismo tem sua
origem na ideologia ocidental dominante e que cometeu um crime ainda
maior que o extermínio de judeus não é sem fundamento”. (grifos
nossos) (6)

Longe de ser um fenômeno nacional, o resultado recentíssimo das
eleições francesas (abril de 2022, Marine Le Pen 41,6%) e italianas
(setembro de 2022) de vitória do neofascismo, a exemplo, demonstram
cabalmente que estamos ainda no curso de outra onda ultra-reacionária.
Aliás, retrocessos a surfarem noutra grande crise que se confunde com a
consolidada transição tempestuosa no sistema de relações
internacionais. A questão nodal da afirmação de um mundo multipolar
vem determinando todas as outras.
Assim, conforme o experiente jornalista e escritor norte-americano John
Pilger alertou-nos há algumas horas, a falência da grande burguesia
liberal dominante significa que aqueles desacreditantes “da loucura da
guerra permanente e da expansão da OTAN”, dos acordos mercenários
de comércio, da exploração dos trabalhadores através da globalização,
da austeridade e do neoliberalismo têm origem cada vez mais na
extrema direita. Escreveu, emblematicamente ele:
“Esta fúria contra a extrema direita, travestida nos EUA como o fascismo
cristão, já obteve enormes ganhos na Hungria, na Polônia, na Suécia, na
Itália, na Bulgária e na França e pode tomar o poder na República
Tcheca, onde a inflação e os crescentes custos de energia têm dobrado
o número de tchecos abaixo da linha de pobreza”. (7)
Quase no mesmo passo, o professor Gabriel Cohn assim desfecha seu
consistente e certeiro artigo sobre as características do novo-fascismo
brasileiro, encabeçado pelo miliciano eleito somente após a “facada” e a
“prisão’ fraudulenta de Lula:
“Nunca mais Auschwitz, nunca mais campos de extermínio, propunha
como lema um intelectual fortemente engajado naquele esforço. Talvez
aqui logo possamos vir a dizer, contra formas políticas análogas às
fascistas ou piores, nunca mais Jair Bolsonaro, com tudo que essa figura,
tanto mais danosa como mais ínfima, representa de explicitação do tão
persistente lado sombrio de nossa sociedade”. (8)
Epitáfio de um covarde
O fascismo entre nós, que já aparece com a “Associação Integralista
Brasileira” (1932), fundada (9) principalmente por Plinio Salgado, foi
influenciado diretamente pelas ideias Benito Mussolini, inicialmente para
“combater a burguesia e os comunistas”. E, notemos, é essencialmente
essa a propaganda central de Giorgia Meloni, agora eleita (com folga)
primeira-ministra italiana: dissertar sobre “elites globais niilistas

impulsionadas pelas finanças internacionais” – e dizer-se
declaradamente fã de Mussolini.
Bolsonaro, um neofascista inculto e abjeto, além do dito, traiu
vergonhosamente seus seguidores supostamente “anti-establishment”,
anti-corrupção, tementes a Deus, ademais de ficar de quatro para as tais
“elites” donas das finanças do país. Recheado de estupidez, tentou em
quatro anos devastar a economia nacional, mas não conseguiu. Isolou-se
de amplos setores sociais, em nome da amamentação diária de sua base
fundamentalista.

Covardemente, o “mau militar” – lhe definiu o ditador Ernesto Geisel –
anunciou golpes aos balaios. Blefe, no sentido Houaissiano de
“embuste”, “simulação” ou “estratagema”. O “golpe” já havia sido dado na
honrada presidenta Dilma Rousseff; e complementado na prisão farsesca
de Lula.
O que queria Bolsonaro? Enlamear as duras conquistas históricas
democráticas e sociais do nosso povo, fraturar e humilhar a nação
brasileira. Mas vencerá a sábia tática política de Frente Ampla
convictamente defendida (e praticada) pelo PCdoB. Equação esta que
terá que ter continuidade nas duras condições de desafios em que o
novo governo Lula assumirá.
Desmoralizado, Bolsonaro será varrido da presidência da República no
domingo próximo. Terá que pagar pelos seus crimes.
Notas:
1. FRESU argumenta que, a base “essencial” do fascismo europeu,
como ontem, são a pequena e a média burguesia. Ver: “Nas
trincheiras do ocidente. Lições sobre fascismo e antifascismo”, p.
231, Ponta Grossa, Editora UEPG, 2017, de Gianni Fresu.
Entretanto, HOBSBAWM afirma ser consensual entre os
historiadores, inclusive “revisionistas”, que a mobilização de
massas “em toda era da ascensão do fascismo” tinha como
alicerce as camadas da classe média e média baixa, sempre
incluindo operários; e exemplifica: em 1932, “dos nacional-
socialistas” eleitos conselheiros distritais em Viena, eram
autônomos (18%), trabalhadores de escritório e funcionários
públicos (56%), sendo os operários 14%. Em: “A era dos extremos.
O breve século XX (1914-1991)”, p. 125, Companhia das Letras,
2012, 2ª edição. E, antes: “A grande diferença entre a direita
fascista e não fascista era que o fascismo existia mobilizando

massas de baixo para cima” (idem, p. 121). Wilhelm RIECH, em
seu célebre “Psicologia de massa do fascismo” (1933), embora
enfatizando que a base social do nacional-socialismo é um
movimento “pequeno burguês”, argumenta que “O fascismo
penetra nos trabalhadores por duas vias: por intermédio do
chamado Lumpenproletariat…graças a uma corrupção diretamente
material, e por intermédio da ‘aristocracia operária, tanto por meio
da corrupção material quanto da influência ideológica”
(Escorpião,1974, pp. 41 e 64-65).
2. O jornal já havia feito o mesmo, registrando ter sido obtido o
resultado “pela primeira vez”, no estudo estatístico do sábado, dia
24.
3. Registro de J-L VULLIERME, em: “Espelho do Ocidente. O
nazismo e a civilização ocidental”, p.245, DIFEL, 2019.
4. Ver: “A era dos extremos. O breve século XX 1914-1992”, p. 121.
5. Ver dados e informações em:
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2022/09/brasil-cresce-
menos-que-o-mundo-no-governo-bolsonaro.shtml, de 23 de
setembro de 2022.
6. Ver: “Espelho do ocidente. O nazismo e a civilização ocidental”, J-L
VULLIERME, DIFEL, 2019, p. 240.
7. Ver o texto completo de Pilger aqui:
https://www.brasil247.com/blog/o-retorno-do-fascismo
8. Ver o contundente artigo de Cohn aqui:
https://www.brasil247.com/blog/o-fascismo-latente
9. Conta o mestre Edgar Carone que a AIB se expandiu
nacionalmente, de modo a que de 1934 a 1936 cresceu de 200 mil
a mais de 1 milhão de filiados. Em: “A República Nova (1930-
1937)”, DIFE, 1976, p. 206, 2ª edição.

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