Centrais sindicais atacam política de juros altos do Banco Central

O caráter recessivo da alta taxa Selic foi a grande crítica dos
trabalhadores no Primeiro de Maio. Copom redefine o patamar de juros
esta semana.

Lideranças das centrais sindicais e de movimentos sociais revezaram-se
ao microfone, durante o ato unificado de Primeiro de Maio, no Vale do
Anhangabaú, em São Paulo. Todos procuraram divulgar as 15 pautas de
luta que devem marcar o movimento sindical nos próximos meses. A
crítica ao patamar da taxa Selic, definida pelo Comitê de Política
Monetária do Banco Central (Copom), foi o clamor mais ouvido, inclusive
por parte do próprio presidente Lula.
Recordando a sequência de retrocessos que marcaram os últimos quatro
anos do Brasil, os representantes dos trabalhadores destacaram como
reivindicações a valorização do salário mínimo e dos servidores públicos,
o fim dos juros elevados, o fortalecimento da negociação coletiva e da
democracia, a geração de emprego e renda, a ampliação de direitos a
todos, aposentadoria digna e a promoção da igualdade de gênero no
mercado de trabalho.
O presidente da CUT, Sérgio Nobre, qualificou de “picareta” o titular do
Banco Central, Roberto Campos Neto, manter a taxa de juros em valores
insuportáveis para o investimento. Afirmou ainda que ele está
“boicotando” o governo Lula. “Esse país precisa voltar a crescer de forma
vigorosa.”
Por sua vez, o presidente da Força Sindical, Miguel Torres, lembrou os
80 anos da CLT [Consolidação das Leis Trabalhistas], completados hoje.
“Muito combatida por alguns, mas necessária para os trabalhadores.
Queremos, sim, rever pontos da reforma trabalhista”, ponderou ele,
apontando este como um “forte embate” no Congresso.

O presidente da UGT, Ricardo Patah, também mencionou as revisões
necessárias na reforma trabalhista, que o grupo de trabalho responsável
pelo tema deve encaminhar a revisão de itens como ultratividade,
trabalho intermitente e rescisão contratual.
Patah acredita em redução dos juros na próxima reunião do Copom,
previstas para a terça e quarta-feira (2 e 3). O juro alto prejudica
diretamente o comércio, lembrou o dirigente, também presidente do
Sindicato dos Comerciários de São Paulo. Ele também mencionou como
principal pilar deste início de governo a valorização da democracia,
“ainda mais depois dos atos de terrorismo em Brasília de 8 de janeiro”.

O presidente da CTB, Adilson Araújo, também fez uma crítica aguda ao
presidente do Banco Central Roberto Campos Neto. Em sua opinião, a
taxa de juros mais alta do mundo faz com que tanta gente esteja pedindo
comida nas ruas. Adilson pontuou que o salário mínimo calculado para
atender as necessidades básicas do trabalhador deveria ser de R$
6.400, mas que no próximo ano, os reajustes vão garantir aumento real
para diminuir a distância entre as necessidades e os ganhos.
A presidenta da UNE, Bruna Brelaz, representou os estudantes de todo o
país, ao dizer que “as classes dominantes seguem muito incomodadas
com o avanço dos direitos de trabalhadores”. “Por isso é necessário,
nesse próximo período, garantir a mobilização nas ruas para a gente
mostrar para essa classe econômica que só é possível construir um
Brasil, a partir da garantia dos direitos dos trabalhadores”, disse ela,
citando os jovens entregadores de aplicativos que não têm direitos
garantidos.

O vice-presidente do PCdoB, Walter Sorrentino, salientou que, embora o
governo Lula seja uma vitória da classe trabalhadora, “a luta continua”.
“A força dos trabalhadores é a mais decisiva que Lula precisa nessa
hora”, disse, defendendo a “criminalização do bolsonarismo” e suas
tentativas de golpe.
“Precisamos pressionar que a CPI do Golpe [que investiga a invasão na
Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro] seja um grande tribunal popular
contra os golpistas para erradicá-los do cenário político e das eleições”,
afirmou. Sorrentino também lembrou que o PL das Fake News, relatado
pelo deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), “corta os instrumentos dos
golpistas”.
O dirigente comunista também sinalizou para a necessidade de combater
a CPI contra o MST. “O MST é nosso. É de todos nós. Essa é mais uma
manobra golpista”. Não esqueceu também de qualificar os diretores do
Banco Central como “adversários encastelados” naquele organismo
público, sem o voto popular para legitimá-los, “que carregam nas costas
a luta contra o desenvolvimento do Brasil”.
Bandeiras prioritárias
Outra bandeira do movimento é a defesa da Convenção 156 da
Organização Internacional do Trabalho (OIT). O dispositivo tem como
meta fomentar políticas que igualem homens e mulheres, tanto em
termos de oportunidades oferecidas quanto de tratamento, tendo em
vista que uma série de responsabilidades, como tarefas domésticas e o

cuidado dos filhos, é atribuída com maior peso às mulheres, o que as
afeta profissionalmente.
Esse foi um aspecto abordado por diversas líderes mulheres que
dividiram o palco, no início do ato, e chamaram atenção para o fato de
que, na maioria das vezes, são as mulheres que desempenham o papel
de cuidadora. “Se temos um parente doente, somos nós que cuidamos.
Se temos filhos, somos nós que cuidamos. E, se temos sogro e sogra,
somos nós que cuidamos”, declarou a diretora Maricler Real, da Pública
Central do Servidor.
A presidente do Sindicato dos Empregados em Postos de Serviços de
Combustíveis e Derivados de Petróleo de Guarulhos e Região, Telma
Cardia, complementou a fala da diretora, afirmando que a pandemia de
covid-19 atingiu, sobretudo, as trabalhadoras.
“Nós, mulheres, fomos mais prejudicadas”, declarou. “Precisamos de
mais emprego e salário digno. Nós ainda temos uma carga de trabalho
mais elevada.”
Os trabalhadores negros se viram representadas na fala da codeputada
Simone Nascimento. “A princesa Isabel assinou a Lei Áurea, mas não
assinou a carteira de trabalho”, disse ela, lembrando a precarização que
atinge mais gravemente essa parcela da população.
Outros princípios que norteiam a articulação deste ano são a
regulamentação do trabalho por aplicativos, a defesa de empresas
públicas, a revogação do novo ensino médio e de medidas que
modificaram a legislação dos trabalhadores, como a reforma trabalhista.
Também faz parte da pauta o desenvolvimento sustentável.
A programação do ato inclui ainda a participação de diversos artistas,
como Zé Geraldo, o primeiro a se apresentar, por volta das 11h. Mais
tarde, devem subir ao palco Leci Brandão, Toninho Geraes e Almirzinho,
Dexter, Edi Rock, MC Sofia, Ilú Obá de Min, Arnaldo Tifu, DJ Cranmarry,
Samantha Schmütz & Gêmeos, da série Sintonia.

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