Cientistas e entidades defendem jornada de trabalho de quatro dias na semana

Estudos indicam que, além de trazer benefício à saúde mental dos trabalhadores,
redução não afeta a produtividade e ajuda a combater o aquecimento global
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) divulgou editorial,
assinado pelo presidente da entidade, o professor e filósofo Renato Janine Ribeiro,
em defesa da jornada de trabalho de quatro dias. A ideia é ampliar a qualidade de
vida dos trabalhadores, sem prejudicar a produtividade das empresas. Outras
entidades, inclusive internacionais, concordam. Caso do Fórum Econômico
Mundial.
Diferentes países já testam o modelo. Entre eles, muitos da União Europeia e até
mesmo o Chile, na América do Sul. “Trabalhe de forma mais inteligente, não mais
dura, tem sido o mantra dos consultores de gestão há décadas. Mas e se você
simplesmente trabalhasse menos? Há cada vez mais evidências de que abandonar
a semana de trabalho convencional traz benefícios tanto para empregadores
quanto para funcionários”, defende o Fórum Econômico Mundial.
O ex-ministro Janine apela no mesmo sentido. “Nos últimos cem anos se
consolidaram as oito horas diárias, que não foram reduzidas sequer de um minuto
(…) O fato é que nos países desenvolvidos, a ideia de um tempo estendido de
lazer está avançando célere. E por isso é mais que hora de trazê-la para nosso
meio”, afirma.
Cada vez mais estudos rechaçam o argumento, basicamente empresarial, de que
a redução da jornada afetaria a produtividade. “O maior já realizado sobre o
assunto (no Reino Unido), conduzido durante seis meses, e envolveu cerca de
2.900 funcionários, em 61 companhias. Segundo o que se extrai do relatório final,
os principais benefícios da semana de 4 dias incluem: redução nos casos de
burnout, diminuição nos níveis gerais de ansiedade e fadiga, bem como a
percepção, por parte dos funcionários, de uma relação mais equilibrada entre vida
pessoal e trabalho”, aponta artigo da Inova Social.
Evolução e trabalho
O pensamento social, no bem-estar do trabalhador, faz parte do ideário
progressista, particularmente com a criação de sindicatos, no início do século 20.
Foi a partir da atuação sindical que se passou a combater mazelas como o
trabalho infantil e jornadas que chegavam a 70 horas.
Assim, enquanto o setor empresarial se vale de mudanças provocadas pela
tecnologia para cortar empregos, os trabalhadores seguem em jornadas
exaustivas. Além de reféns de doenças mentais cada vez mais frequentes, sem
tempo ou disposição para atividades da vida social.
Aumento de produtividade
Então, diante desse quadro, pensadores começam a questionar mesmo se vale a
pena, inclusive economicamente às empresas, exaurir seus funcionários.
“Trabalhar quatro dias por semana significa que as pessoas realizam mais em
menos tempo. Em 2019, a Microsoft Japan introduziu uma semana de trabalho de
quatro dias e relatou um aumento de 40% na produtividade”, afirma o Fórum.
“Houve resultados semelhantes nos testes globais de 2022, com os funcionários
se comprometendo a realizar 100% do trabalho normal em 80% do tempo.
Quando questionados sobre a melhoria da produtividade durante o teste em uma
escala de 1 a 10, onde 1 era negativo e 10 era muito positivo, os empregadores

deram uma pontuação de 7,7, (…) As medidas de estresse, exaustão, fadiga e
conflito entre trabalho e família de cada funcionário diminuíram.”
Efeito sobre o clima
Já sobre a questão climática, a entidade pondera os benefícios. Aliado a políticas
de trabalho remoto, estas medidas, que melhoram a vida dos trabalhadores,
podem impactar positivamente no futuro da humanidade. “Com um dia a menos
de trabalho, o tempo gasto em deslocamento por semana era esperado para
diminuir e foi exatamente o que aconteceu, caindo de 3,5 horas para pouco
menos de 2,6 horas – uma redução de 27%. Mas uma surpresa maior foi a
redução geral das pessoas que se deslocam de carro, de 56,5% para 52,5% dos
funcionários.”
No Brasil, a Constituinte de 1988 aprovou a diminuição da jornada de 48 para 44
horas semanais. O movimento sindical reivindicava 40 horas. Em alguns casos, a
jornada foi reduzida por meio de negociação coletiva.

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