Caso das joias deixa Bolsonaro distante da direita e perto da prisão

De todas as acusações contra Bolsonaro, caso das joias é o mais farto de provas.

Jair Bolsonaro nunca esteve tão isolado. Provável líder de uma quadrilha
que se apropriou ilegalmente de joias sauditas doadas ao governo
brasileiro, o ex-presidente assiste à fuga em massa de antigos aliados,
constrangidos em defendê-lo de um caso tão escandaloso. Ao mesmo
tempo, a possibilidade de ser condenado a prisão parece cada vez mais
iminente.
Segundo a jornalista Daniela Lima, apresentadora do programa Conexão
GloboNews, as novas denúncias foram uma espécie de “gota d’água”
para partidos do Centrão e da direita que fizeram parte do governo
Bolsonaro. O próprio PL, legenda do ex-presidente, tenta sair do
emparedamento.
“Mesmo os menos alarmistas admitem que o caso é ‘muito ruim, mais um
episódio muito ruim’. Os mais pessimistas tratam o episódio como ‘uma
tragédia política e jurídica’”, resume Daniela. O caso tem potencial,
segundo essas lideranças, para “relegar o bolsonarismo ao seu núcleo
mais duro e radical”.
De todas as acusações contra Bolsonaro, o caso das joias é o mais farto
de provas. O ex-presidente teria sido o principal beneficiário da venda
ilegal de um relógio Rolex doado pelo governo da Arábia Saudita. No
centro do crime está uma família de militares.
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro,
conseguiu vender o relógio a uma loja na Pensilvânia, nos Estados
Unidos, por US$ 68 mil (R$ 346 mil). Com o dinheiro em mãos, ele
depositou tudo em espécie na conta do pai, o general Mauro Cesar
Lourena Cid, que, então, entregou o valor para Bolsonaro.
A história estaria encerrada aí se, em março, o TCU (Tribunal de Contas
da União) não tivesse intercedido, ao determinar que o relógio fosse
devolvido para a União. Advertido por aliados do potencial explosivo do
trambique, o ex-presidente teria ordenado seu advogado pessoal,
Frederick Wassef, a readquirir o Rolex.
Até este domingo (13), Wassef negava participação nessa “operação de
resgate” e falava em “campanha de fake news”, “mentiras de todos os
tipos”, “informações contraditórias e fora de contexto”, “calúnia”, “pura
mentira” e “total armação”. Gritarias à parte, o ministro Alexandre de
Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), proibiu o advogado de
acessar as provas do caso.
Conforme divulgado nesta segunda-feira (14), o recibo da recompra do
relógio tem o nome de Wassef, que será chamado a depoimento para
informar quem lhe deu o dinheiro para fazer a operação. A PF já sabe

que Wassef entregou o presente de volta a Mauro Cid em abril, na
Sociedade Hípica Paulista, em São Paulo.
Cid, a esta altura, já havia conseguido recuperar outros itens do conjunto
saudita, que incluía um anel, abotoaduras e um rosário islâmico. Essas
peças foram vendidas e readquiridas pelo próprio ex-ajudante na Flórida.
O êxito da “operação de resgate” permitiu uma manobra de Bolsonaro,
que, uma vez notificado pelo TCU em 4 de abril, se comprometeu a
devolver todo o conjunto por conta própria. Essa possibilidade estaria
descartada se o pedido TCU chegasse alguns dias antes.
Se Bolsonaro não pode contar com Wassef como seu advogado nesse
caso, Mauro Cid também precisa ir atrás de um novo profissional de
Direito. Ainda no domingo (13), o ex-ajudante-de-ordens perdeu o
advogado Bernardo Fenelon, que abandonou a defesa por “quebra de
confiança”. Foi a mesma razão que o jurista Rodrigo Roca apresentou,
em maio, para também desistir de defender Mauro Cid.
Das páginas políticas para as criminais, o bolsonarismo enfrenta
dificuldades inéditas, como a busca de advogados que possam livrá-los
de ao menos parte das acusações. De acordo com o colunista Tales
Faria, do UOL, a “quebra de confiança” foi vista em Brasília como indício
da gravidade da situação de Bolsonaro, a ponto de tanto governistas
quanto opositores verem “um risco cada vez maior de prisão” do ex-
presidente.
“Por isso é que vai ter uma operação da oposição de tentar blindar e
evitar ao máximo que o caso das joias entre na CPI”, afirmou Tales,
numa referência à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do 8 de
Janeiro. Não se sabe, porém, até quando a oposição terá interesse em
preservar Bolsonaro, já que as reviravoltas no caso das joias põem o ex-
presidente sob mais suspeição.
Levantamento do jornal O Globo, com base nos perfis e nas páginas de
deputados federais e senadores, indica um crescente “silêncio de
aliados”. No caso das joias, passadas 12 horas da acusação, “uma única
parlamentar ergueu a voz para dar suporte ao ex-presidente nas redes
sociais: a deputada Bia Kicis (PL-DF)”. Nem mesmo dirigentes do PL
saíram em defesa de Bolsonaro.
Diz O Globo: “a ordem para que correligionários mantivessem o silêncio
partiu do presidente do PL, Valdemar Costa Neto. O próprio dirigente,
que em outras ocasiões buscou blindar o principal nome do partido, não
se manifestou nas redes”. Distante da direita e perto da prisão, Bolsonaro
está cada vez mais só.
Fonte: Vermelho

 

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